42- O eclodir de uma guerra

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"Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura" - Aristóteles 

Ayla Windsor:

Ayla encontrava-se estática em seu lugar, assim como todos ao seu redor. Há três semanas que ela deixou a Corte de Midlenton e quando o fez Alec ainda estava em meio ao Mar Negro em sua expedição militar até Royale — ou, nesse caso, até Martin — o fato de não ter deparado-se com nenhum membro da cavalaria real fez com que ela achasse que eles ainda estivessem a bordo em um navio.

Porém, de acordo com os soldados e mensageiros, a Companhia Negra encontrava-se não muito além da campina verde, aguardando um encontro com a rainha de Midlenton — ou, pelo menos, a antiga rainha de Midlenton — um mensageiro com o traje da preto da Cidadela entregou um bilhete recém escrito com ordens de ser entregue unicamente nas mãos da rainha.

O bilhete era claro, ele pedia um encontro com a rainha para negociar seu retorno para casa. Porém, o que Ayla questionava-se era sobre ordens de quem o exército da Cidadela estava ali, afinal, Catherine estava muito satisfeita com a trégua que ambas ganharam nos últimos acontecimentos.

Tendo em vista esses fatos, Ayla não hesitou em reunir um pequeno grupo de soldados — desta vez, um grupo de soldados de seu país — para escoltá-la até o ponto de encontro. Nesse momento, ela foi acompanhada não apenas por Maysie assumindo pela primeira vez o posto de Comandante de Batalha, como também Charlotte, que optou por ficar ao lado de Ayla em um cavalo negro.

A curta trajetória foi feita em silêncio, porém, Ayla sentia o olhar questionador de Charlotte contra a sua pele, a nobre estava confusa a respeito da chegada súbita da amiga e principalmente a razão que o exército de sua casa batendo em sua porta.

Do alto da campina, Ayla avistou o grande acampamento que começava a ser erguido pelos homens — afinal, aparentemente ambos haviam chegado um atrás do outro por uma pura coincidência — As tendas eram marteladas contra o chão ao longe, enquanto um grupo compostos por cerca de cinquenta homens esperava em um círculo estruturado a aproximação da rainha.

— Majestade, é uma honra estar diante de sua presença! — disse um homem com uma armadura, enquanto segurava um elmo negro denunciando seu posto de supremacia — É uma pena que seja nas atuais circunstâncias!

Ayla desceu de sua sela, fazendo com que os pés fossem praticamente engolidos pela grama verde do chão, atrás dela, os próprios soldados protegiam suas costas e a de suas duas amigas que a acompanhavam. Ela acompanhou com o olhar quando o homem abriu uma carta, rompendo o sinete pela primeira vez diante dela, logo em seguida, começou a ler:

— Em nome de Alec Whithlook, primeiro de seu nome, rei e imperador do Império de Midlenton, e senhor do Ninho da Águia, venho por meio deste comunicar o mandato de retorno ao palácio da capital de Midlenton à Ayla Windsor, rainha consorte desta mesma nação. Como forma de escoltá-la em segurança até sua casa, a armada privativa da Cidadela, a Companhia Negra, terá como obrigação e total responsabilidade sobre qualquer acontecimento a sua rainha — o homem concluiu a leitura — Como pode ver, alteza, nossas ordens são claras!

— Na realidade, sor, eu não entendo por que isso deveria significar algo para mim! — Ayla falou, pronunciando-se pela primeira vez.

— Alteza, o rei ordena que retorne à sua casa! — rebateu

— Acontece que eu não respondo às ordens dele! — respondeu Ayla.

— Ayla, que tal agirmos como dois monarcas adultos? — uma terceira voz se intrometeu na conversa.

Ayla buscou a origem daquela voz, já que temia que seus subconsciente traidor estivesse a manipulando. De repente, os mesmos soldados agrupados organizaram-se em duas linhas retas uma de frente para outra, todos com o joelho direito tocando o chão, assim como a espada colocada de pé com a ponta para baixo, todos em um reverência silenciosa.

Ayla olhou para a mesma direção que os demais soldados, e infelizmente ela o viu. Alec estava lá, diante dela, ele estava lá com os tradicionais trajes escuros de sempre. A camisa branca destacada por baixo do colete preto, o cinto no alto da cintura que era ornamentado com a bainha da espada que carregava, assim como a bota marrom indo até o alto do joelho.

Ela não contava com a presença dele ali, assim como não estava preparada para vê-lo de perto novamente. Ela temia vê-lo novamente porque não sabia se poderia confiar em sua mente, uma vez que, Alec sempre teve um poder de fazê-la acreditar e tudo que quisesse, porém, ela não mais queria permitir se enganar pelas belas mentiras que antes ela gostava de ouvir.

— É isso que estou tentando fazer, Alec! — disse ela, a voz um pouco mais fria do que antes, as costas retas, os ombros para trás e as mãos entrelaçadas à frente do corpo. Tudo para tentar dar mais segurança a sua voz.

Ele começou a caminhar entre as duas fileiras de soldados, indo em sua direção. Sem perceber, a jovem encontrou-se apertando as mãos à frente do corpo, e por um instante, prendendo sua respiração.

— Ayla, nós vamos resolver isso, como sempre fazemos, mas em casa! — ele disse.

— Acontece que eu já estou em casa, uma casa que não irão tomar de mim! — ela rebateu.

Por um instante, ela viu uma pontada de desgosto surgindo no rosto do loiro, porém, o rosto com feições tristes já não surtiam efeito nenhum nela. Ao seu lado, Charlotte arregalou os olhos, dividindo sua atenção entre os dois que se encaravam, aparentemente entendendo a origem do problema.

— Uma vez você me disse que éramos sortudos porque não importava quantas facas enfiarmos em nossas costas, nós sempre cuidaremos um do outro! — disse Alec, ficando bem próximo dela ao ponto de apenas um esticar de braço fosse o suficiente para tocá-lo — Meus erros já a fizeram esquecer tudo que dizemos?

— Então neste caso nós dois mentimos um para o outro! — Ayla disse, sua voz repleta de raiva — Eu não costumo guardar rancor das pessoas, mas nós dois somos um caso à parte. Catherine eu poderia esquecer, Dayene eu poderia esquecer, mas nunca um golpe de Estado tão baixo quanto o que você estava prestes a me aplicar. Eu gosto de dizer que eu acredito em segundas chances, mas não em terceiras!

Em resposta, a única coisa que Alec ofereceu foi o silêncio. Com isso, Ayla tinha dado aquela breve discussão como encerrada, mas Alec aparentemente ainda tinha algo a lhe dizer, pois assim que a rainha deu-lhe as costas para ir embora, o rei segurou sua mão fortemente, fazendo com que ela o encarasse.

Este ato foi visto como uma ameaça pelos soldados de Martin, que se colocaram em posição de alerta, apontando suas espadas na direção do rei. A Companhia Negra por sua vez ficou na posição defensiva, respondendo o protocolo de defesa da rainha com a mesma ação.

— Ayla, isso será visto como traição! — alertou ele — Terei motivos para decretar guerra contra Martin por quebra de aliança!

— Martin já enfrentou inimigos maiores do que Midlenton, e mesmo assim aqui estamos nós, atravessando a eternidade! — disse Ayla, em um tom de voz repleto de arrogância — O seu comando não servirá para nada além do que fazer com que a minha raiva aumente!

Dito isso, Ayla deu as costas novamente ao homem que uma vez foi seu marido, ela foi em direção ao seu cavalo branco que a esperava, e em um impulso, colocou-se sobre a sela sem precisar de ajuda.

— Que assim seja! — declarou Alec — Eu lhe dou dois dias para repensar a respeito disso, do contrário, ordenarei ataque ao reino de Martin!

Alec pronunciou cada palavra olhando no fundo dos olhos da rainha, porém, diferente dos dela, o olhar dela demonstrava certo receio a cada palavra que falava.

— Então que os soldados resolvam nossos problemas no campo de batalha! — disse ela.

Ela mal acreditava no que estava acontecendo. Ayla casou-se com Alec meses atrás tentando evitar que um banho de sangue fosse derramado no solo de Martin, tentando não manchar o início de seu reinado com a morte de soldados. Mas aqui estavam eles, terminando este mesmo casamento com o eclodir de uma guerra.

Um príncipe para lady Ayla (Livro II) {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora