Epílogo

46 4 0
                                    

"Passei a vida tentando corrigir erros que cometi na minha ânsia de acertar" - Clarice Lispector

Ayla Windsor:

O vento frio entrava arrastando-se pela porta da varanda da sala fechada da rainha, havia algumas gotículas de água congelada sobre a coluna de sustentação da varanda. Lá dentro do cômodo, a penumbra pairava por toda a extensão do local, a pouca luz que havia provinha da chamas de velas dançantes que produziam figuras estranhas na parede.

Porém, nada daquilo parecia incomodar a rainha que permanecia encostada fielmente à estrutura de concreto que sustentava a varanda, o frio não parecia incomodá-la. A cada movimento realizado por seu corpo, os pequenos cristais incrustados na capa de comprimento idôneo ao vestido branco e cinza azulado. A coroa dourada circulava no centro de sua testa com uma única pedra de rubi no centro.

Naquela fatídica manhã, faziam exatos vinte um anos desde o dia em que ela mudou-se para aquele lugar, a mesma quantia de anos desde que ela abriu mão de tudo para trancar-se em uma tumba de gelo — usa-se essa expressão pelo inverno rigoroso da Corte da Lua.

Neste período vários eventos e marcos históricos ocorreram pelo restante do continente de Astapory. Após a morte de Alec, o mundo pareceu ficar impactado pela queda e troca de poder de Midlenton, e principalmente, após a mudança na sucessão do trono. Não muito tempo depois, a notícia sobre o suicídio da rainha Catherine — esta que com a notícia da morte do filho e do retorno de Charlotte jogou-se da janela do próprio quarto — veio apenas para confirmar o quase fim da dinastia de Midlenton.

Ayla lembrava de ter lamentado a morte dela, mesmo com tudo que ela fez, mas mesmo assim, ela sabia que a única que poderia matá-la ou destruí-la seria ela mesma.

Pouco tempo depois, com o retorno de Charlotte à Midlenton, houveram algumas rebeliões de senhores de casas aristocratas tentando falhamente tirá-la do poder, e o resultado, foi a morte de todos os rebeldes mortos pelas chamas negras de Khaos.

Mas as problemáticas não foram exclusivas de Midlenton, já que há não muito anos atrás, Martin também entrou em um curto período de crise, em específico após a morte repentina de Aysha — mãe de Ayla. Aos cinquenta e dois anos, encontrou-se caída em uma doença fatal que mesmo com o intenso tratamento não foi o suficiente, e logo após um curto período, ela se foi.

Ayla recebeu inúmeras cartas do próprio pai pedindo para ela retornar, mas nenhuma delas foram respondidas, o que ela sabia que despedaçou o coração do pobre rei. Depois de uma série de cinco cartas enviadas e cinco cartas recusadas, ele desistiu de tirar a filha de dentro da tumba escavada por ela mesma e decidiu que iria empenhar-se em manter a alma da falecida rainha e esposa viva.

A morte da mãe mostrou a Aysha que não importava o quanto ela se esforçasse, ela não poderia mudar a profecia, então, a única coisa que lhe restava era aceitar o que lhe foi imposto.

Ainda da varanda, Ayla assistiu quando o mensageiro real cruzou o portão de entrada do Palácio de Inverno, deixando claro, que seu informante chegou.

Boatos de que Charlotte — que àquela altura já tinha atingido os sessenta e um anos — teria sido abatida por uma por uma hipotermia e supostamente teria morrido chegou aos ouvidos da rainha, e com isso, Ayla ordenou que os boatos fossem investigados e ela notificada.

— Alteza? — Maysie a chamou, indicando sua presença no local.

— É verdade? — Ayla perguntou, sem de fato encará-la — Ela está morta?

Pelo canto do olho, Ayla viu Maysie assentir em confirmação. Naquele momento, Ayla fechou os olhos, sentindo o peso da afirmação. E no final das contas, a profecia se cumpriu.

Um príncipe para lady Ayla (Livro II) {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora