Capítulo Nove

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Por onde olho, há apenas gelo e isso é legal, estou empolgado para ir para casa depois de mais um longo dia de não sei o quê, porém o que me assusta é a nevasca que se inicia novamente, não para de cair e dificulta muito a visibilidade. Caminho pela rua já coberta pela neve, minhas pernas parecem que vão atolar a qualquer momento, já que a cada passo, sinto o pé afundar. A estrela que nos dá a luz não ousa aparecer no céu, e bem, estou completamente sozinho.

Converso, tendo como companhia apenas os flocos de neve, devido à animação que sinto e da felicidade de finalmente estar chegando em casa. Um som assombroso ecoando no ar me interrompe, é como um grande grito arrepiante. Assustado, paro de andar e olho rapidamente para todas as casas à minha direita e à esquerda, mas não encontro o autor do ruído, tudo que preenche meus ouvidos é o som da neve caindo intensivamente sobre os telhados. Não há uma fonte de luz sequer, juntando isso com a ascensão da noite, fico apavorado. O coração se agita no peito, encolho os ombros automaticamente ao mesmo tempo em que dou cuidadosos passos.

Analiso todo o perímetro mais uma vez, mas nada. O vento sopra forte e cria sua própria melodia suave e sombria que aumenta de forma cadenciada, fazendo as árvores atrás das casas se movimentarem, e me faz ficar ainda mais apreensivo, tenho a sensação de estar sendo seguido. Tudo deixa de ser impressão quando escuto o que parece ser passos pesados, que me fazem olhar para atrás de uma casa, porém não identifico nada, a paisagem esbranquiçada não me permite ver nitidamente. Nesse instante, começo a considerar voltar de onde vim.

Por fim, resolvo continuar mais rápido, e em silêncio, torcendo para que seja uma sensação equivocada. Minha casa está logo à frente, no final da estrada, meus olhos se enchem de alegria quando tenho o vislumbre.

Algo preto em cima do nosso telhado se move, chamando a minha atenção, é grande, enorme, deve ter o tamanho de um carro. Não dá para ver o que é, por causa do cenário embaçado, mas acredito ser alguma lona, ou capa pendurada, não sei. Mesmo assim, procuro identificar aquela coisa, forçando a vista. O meu grito escapa enquanto tropeço na mesma hora, o meu olhar se encontra com as pupilas fulvas do ser monstruoso, quebrando a minha teoria.

Com adrenalina no corpo, disparo, obrigando minhas pernas a correrem como nunca, mesmo cambaleando por conta do chão macio, que faz meus passos serem mais lentos.

À minha esquerda vejo, pelo meio da nevasca, a figura quadrúpede correr em um telhado e saltar alto, e no ar, ela solta seu uivo aterrorizante. Dá para ouvir um baque causado pelo seu peso quando finalmente pousa na outra casa, a sua respiração esfomeada sai intercalada com seu grito de guerra. Correntes pesadas se arrastam junto ao monstro, eu não tenho a menor chance contra aquilo. Lágrimas começam a escorrer dos olhos esbugalhados enquanto me afasto da estrada, entrando na floresta congelada. Pulo por cima de galhos caídos e corro em zigue-zague, e acabo tropeçando por conta do desnível que há logo depois de algumas pedras e caio de um pequeno desfiladeiro rolando. A neve fria me envolve por todos os lados no meu corpo agora em ardência.

Me viro no mesmo instante de onde despenquei e me arrasto para trás sem me levantar, as mãos fracas, sangue escorre da minha bochecha e acho que torci o pé, julgando pela dor que sinto. A criatura aparece e me olha de cima, um par de dentes seus são enormes, maiores que a boca e por isso ficam do lado de fora dela, esses caninos estão sujos de restos, com certeza eu não sou sua primeira refeição. A cara é semelhante à de um lobo, mesmo que seja um pouco deformada. O corpo é totalmente coberto por uma grossa camada de pelos pretos, que às vezes parecem espinhos. Ela desce o barranco sem dificuldades e para diante de mim, rosnando, a sua boca se abre totalmente, e se divide em quatro, deixando à mostra todas as fileiras de dentes como se fossem gomos de alguma fruta cortada da mesma forma ao passo em que seu pescoço sacode bastante, mostrando o seu domínio.

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