Capítulo Treze

138 18 557
                                    

– O que tá acontecendo aqui? Vocês são da SWAT? – a voz assustada de uma garota ressoa. Pela distância que escuto, parece ser do final do corredor.

Os homens riem entre si, e disparam suas armas automáticas sem piedade. O grito de dor da vítima invade meu ouvido de uma maneira que nunca aconteceu antes, escuto a cena acontecer várias vezes no meu interior. Ainda assim, sei que não posso me dar ao luxo de externar meu real estado de espírito.

Cravo os olhos na maçaneta, ela agora está estática.

– Vamos, todos vocês – alguém lá fora anuncia por um dispositivo que pelo som parece ser um rádio comunicador e num instante todos avançam, se afastando definitivamente da minha porta.

Aguardo alguns minutos, apenas para conseguir recuperar o ar que me foi tirado.

Percorro o resto do caminho com cautela e sem lanterna, não quero arriscar. Espero que Beth, Hanna, Jason e os demais alunos estejam bem, mas sei que não são todos que de fato estão. A correria no andar de cima e os tiroteios me lembram disso o tempo inteiro.

Entro na biblioteca. Alguma coisa se movendo pelo breu quebra o silêncio. Me escondo em um canto e arranco os botões que seguram meu gibão, apenas para digitar por baixo da roupa, e assim, ocultar a luz da tela do celular. Mando uma mensagem para Amy, avisando que já estou no local marcado. Olho para o aparelho, torcendo para que uma nova mensagem chegue, mas ela não chega.

Quando levanto o olhar, dou de cara com as duas e levo um susto. Ambas me abraçam rapidamente. Nosso momento família é interrompido pelo baque das portas sendo escancaradas. Natalie pede silêncio no exato instante em que os passos tomam conta. Minha mãe faz um gesto, ordenando que eu tire os sapatos assim como elas fizeram, para evitar ruídos. Ela carrega nas costas duas armas grandes, uma escopeta e o que parece ser um fuzil de assalto. Significa que teve tempo para ir até o carro. Talvez tenha voltado por minha causa.

Caminhamos devagar por entre as enormes prateleiras, a única fonte de luz que temos é a da lua que entra timidamente pelas vidraças.

Amy explica bem baixinho que existe uma janela escondida atrás de um armário, e é por lá que pensamos em sair. Andamos em silêncio, esgueirando por todas as mesas e pelos computadores até entrar numa sala pequena. Natalie e eu levantamos o móvel e colocamos de lado e lá está a passagem. A janela está caindo aos pedaços, as beiradas que a prendem estão corroídas pelo tempo, mas ao menos é larga o suficiente para pularmos. Ligamos para a polícia, e quando somos atendidos, informamos o acontecimento. A operadora diz que unidades já estão a caminho, o que nos deixa mais tranquilos. Embora os homens que atacaram Natalie no píer estavam uniformizados exatamente como polícia de Chicago. Mas, talvez fosse falso.

– Vamos pular, passaremos abaixados pelo estacionamento e vamos todos para o meu carro. Não está muito longe, trinta metros no máximo – fala com o olhar fixado em nossa rota de fuga lá fora.

– Temos companhia – Natalie contesta, apontando para os homens armados, timidamente distribuídos pelo estacionamento. Eles fazem uma ronda sem muito compromisso, mesmo assim ainda é preocupante.

– Droga! – Amy larga o murmurejo, se esforçando ao máximo para manter o tom de voz baixo. – Temos que voltar então, ficar nessa sala pequena não vai ser bom, podem atirar através da porta.

A minha mãe empunha uma das armas penduradas pelas alças nas costas e a destrava da maneira mais silenciosa que consegue antes de sairmos de fato do quartinho.

– Todos atrás de mim – diz – estejam prontos.

Saímos do quarto apertado na ponta dos pés. A posição na qual Amy carrega a escopeta é muito profissional, as duas mãos firmes em posições fixas, e com a coronha apoiada no ombro direito. A mulher caminha cautelosamente, varrendo corredor após corredor apontando a arma. Nós nos deslocamos pelas grossas prateleiras, que devem ter uns três metros de altura e quatro de comprimento cada, sempre espiando as seções antes de avançar. Não demora muito para que os feixes de luz das lanternas apareçam para todos os lados, e aos poucos conseguimos ouvir os passos pesados de botas ficando mais altos. Estamos com a vantagem, conhecemos bem o terreno e somos como fantasmas na escuridão. De repente, o rastro luminoso de um dos homens passa a centímetros à nossa frente, entre um móvel e outro. Congelamos.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora