Capítulo Vinte e Um

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Pessoas felizes, todas com os sorrisos eufóricos no rosto. A alegria da família fictícia do outdoor do outro lado da rua que anuncia um parque de diversões quase me contagia. Natalie e eu pensamos em ir até lá amanhã ou no fim da semana, mas hoje, vamos apenas curtir o sorvete na lanchonete na qual estamos.

Achamos que seria uma boa ideia sair um pouco para distrair a mente. Sabemos dos riscos, porém tivemos uma experiência bem traumática quando fomos capturados e levados para a base militar de Chicago. Não consegui dormir de ontem para hoje, porque ainda estava pensando nas pessoas que perdemos, e nas que estão vivas, não pude deixar de chorar mais uma vez. Agora não vejo que somos só Natalie e eu, entendo que devo me esforçar para ajudar qualquer um que esteja na mesma situação que nós. Somos como uma família e compartilho do sentimento de companheirismo com cada um, mesmo sem conhecê-los.

Amy disse que postar a mensagem na internet não é uma boa alternativa, pois se os caras da Organização perceberem que é uma forma de comunicação nossa, eles vão nos encontrar rapidinho, então, por enquanto, "O punho do leão que ruge na montanha" adormece. De qualquer forma, todos os dias vasculhamos a rede na procura dessa mensagem. Faz duas semanas desde que fomos sequestrados e nada, nenhum sinal. Tenho receio do que isso pode significar. Espero que tenham conseguido fugir e estejam sobrevivendo.

Convidamos a minha mãe para vir conosco à lanchonete hoje, só que a mulher inventou uma bela desculpa na última hora, dizendo que tinha que resolver alguns assuntos de sua empresa, mas nós sabemos o verdadeiro motivo: na semana passada nós visitamos o estabelecimento pela terceira vez. Natalie e eu estávamos conversando despretensiosamente quando um sujeito de meia-idade apareceu, um cara alto, cabelos grisalhos e muito culto. Ele ofereceu uma bebida para Amy, que aceitou com relutância. O homem só disse que a achava interessante e que apreciava seu gosto refinado por livros e foi embora.

Achei que o que aconteceria depois seria uma sequência de piadas junto a uma indiferença natural de sua parte, mas ao invés disso, a minha mãe soltou uma risadinha de canto sem graça e voltou a ler. Depois desse dia, ela nunca mais quis voltar para lá.

Hoje mais cedo, quando a questionei, recebi algumas respostas evasivas. Ainda me lembro de entrar em seu quarto enquanto estava sentada na cama, lendo.

– Interessante, era esse o problema pra resolver? Por isso não vai conosco? – Perguntei, empurrando a porta.

Amy se assustou ao me ver, mas não o suficiente para perder a compostura.

– Só estava dando uma espiada, não pude aguentar – justificou com um sorriso bem aberto.

– Sei – me aproximei e peguei o livro nas mãos.

A capa exibia uma jovem com um rifle nas costas diante de uma estátua que parecia estar bastante desgastada pelo tempo, assim como o cenário pós-apocalíptico no horizonte. Havia uma placa pendurada no pescoço do monumento que dizia "liberdade", e em seus ombros, alguns pássaros pretos, talvez corvos. Uma capa bem bonita.

– Acho que deveria ir conosco. Conhecer pessoas novas pode fazer bem.

– Conhecer pessoas? Por que eu faria isso? – Indagou, pegando de volta o livro, e folheando-o enquanto se debruçava sobre ele. Seus lindos cabelos negros úmidos cobriram boa parte do rosto, obrigando que ela os afastasse com as mãos.

Aproveitei a única oportunidade que vi para tentar devolver todos os anos de brincadeiras ou comentários constrangedores que tive que aguentar na vida.

– Quem sabe você não arruma um namorado. Mesmo na terceira idade, talvez consiga alguém com uns setenta anos, que é um pouco mais novo que você – ri antes mesmo de ouvir sua resposta.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora