Capítulo Vinte e Nove

66 7 557
                                    

Olho para o braço até então desconhecido jogado sobre o meu estômago, meu copo está todo molenga, sinto que não descansei o suficiente. Só então me dou conta de onde estou, a base fica praticamente irreconhecível quando todas as luzes estão apagadas.

Afasto o braço de Natalie com muito cuidado para não despertá-la, mal consigo ver seu rosto, mas sei que deve estar dormindo tranquilamente, poderia ser melhor se estivéssemos numa cama de verdade em um dos vários quartos separados no quinto ou no sexto subsolo, porém a estrutura do lugar favorece esse salão. Como se não bastasse, o ronco de alguém ecoa por toda a nave e me incomoda.

Saio daquele amontoado de colchões espalhadas pelo chão e caminho até a cozinha para beber água. Tudo está muito silencioso, quase mórbido, porém não me assusta. Escuto o som de chiados no rádio, tem alguém do outro lado tentando se comunicar. Pego o aparelho sobre a bancada e ajusto o canal.

– Tem alguém aí? – A voz diz. Levo um instante para assimilar que é Freya.

– Pode falar – digo e solto o botão, para só então apertá-lo novamente. – Câmbio – reviro os olhos ao me lembrar do que Joe disse sobre as ligações de rádio.

– Uma humana tentou invadir a floresta – a bruxa explica entre muitos chiados. – Diz que conhece você.

– Estou indo, traga-a até nós, câmbio desligo.

Quem poderia ser? Para conseguir chegar aqui, acredito que é Jack, mas não faria sentido ela ser capturada, pois se a garota é tão forte quanto Natalie, não teria grandes problemas em acabar com Freya, ou mesmo em entrar pelo túnel subterrâneo, mesmo que nós o tenhamos fechado.

Subo o mais rápido que consigo carregando apenas um smartphone para usar sua lanterna e o rádio. Penso em talvez trocar de roupa para ficar mais apresentável, mas é só uma humana mesmo. Leva alguns minutos até que eu escute uma movimentação no meio da floresta engolidas pela escuridão da noite, o som de folhas sendo dobradas, mais especificamente.

Freya surge perto das copas das árvores com sua única fada sombria, que carrega uma pessoa nas costas. Aponto a lanterna do celular para cima, acompanhando o voo delas até que pousem na minha frente. Quando vejo o rosto da humana capturada, fico paralisado.

Não sei se devo rir ou chorar ou correr para fazer as duas coisas, meu coração vai de zero a mil tão rápido que sinto sua aceleração em meu âmago. A mulher sorri para mim e abre os braços enquanto eu literalmente me jogo neles.

– Estou aqui agora, meu pequeno – Amy sussurra no meu ouvido.

Não tenho forças para dizer nada, tudo que consigo fazer é berrar aos prantos e beijar sua bochecha. O seu cabelo tem aquele mesmo cheiro de morango de sempre, exatamente como me lembrava. Sinto que isso é a redenção da humanidade, pois não a mataram, é um doce redenção.

Freya me encara de longe, sem falar nada, para só então se afastar ainda mais e sumir na floresta.

Acaricio o rosto de minha mãe, enquanto confesso todas as vezes em que pensei nela e sobre o quanto senti saudade, além de agradecer por ela estar viva, as palavras quase que não saem corretamente, devido a ansiedade que tenho no momento.

Quando finalmente consigo controlar a minha respiração e encaro Amy, noto que seu rosto é relativamente diferente de antes, não tem mais aqueles traços tão joviais, nem os olhos intensos, que ao constatarem com sua pele clara, lhe dá o charme, talvez seja fruto da escuridão da noite, mas não importa, sei que ainda é a mesma pessoa.

– Como você sobreviveu? Natalie foi ao seu enterro!

– Eu forjei tudo depois daquela noite e tive que fugir por um tempo, quando voltei, vocês sumiram.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora