Império dos Três [Completa]

Capítulo Quatorze

– Amy! Amy! – acolho o seu corpo em meus braços. Com uma mão, dou leves tapinhas na bochecha direita.

Afasto o cabelo desgrenhado e sujo de sangue do seu rosto. Seu antebraço e parte do estômago estão perfurados por alguns detritos da granada, e o vestido, aos frangalhos. Me debruço sobre ela e beijo sua testa várias vezes enquanto as lágrimas no rosto caem. Na têmpora esquerda, uma fileira do líquido brilhante escorre devagar, tingindo parte da sua roupa com um tom entre o vermelho e o preto.

Aos poucos, a mulher vai recobrando a consciência, e isso me faz sorrir sem parar, significa que de fato eu consegui. Seus olhos cansados se movem devagar, eles estudam o local ao redor, foca na garota aparentemente desconhecida abaixada ao meu lado que a observa também por um instante, depois volta suas pupilas para mim.

– Como você tá, meu filho? – ela pergunta com a voz falha , após algum tempo. Gostaria muito de poder abraçá-la forte, mas sei que pode acabar machucando-a mais.

– Como eu tô? Se preocupe com você! Olha o seu estado, não acredito que você fez mesmo isso! – desabafo, com a última lágrima insistindo em escapar dos meus olhos. – Eu quase te perdi, droga!

Amy solta uma gargalhada, que logo é interrompida pela tosse prolongada.

– Mães são assim. Eu não faria diferente se fosse pra te salvar – confessa. Suas palavras me fazem engolir seco.

Apoio seu queixo no meu ombro e a abraço bem devagar, o seu cabelo tem cheiro de fumaça, resultado da explosão que ocorreu. Ela se desvencilha e olha para o seu lado esquerdo, deparando-se com Natalie de cabeça baixa ainda apagada, mas bem. Em seguida se volta para a outra jovem, agachada próxima a nós. Eu limpo as lágrimas e beijo a testa da minha amada mãe mais uma vez.

– Você deve ser a Jack, né?

– Sim – a garota responde, arrancando o que sobrou de sua camiseta, ficando apenas com um top preto.

Seu corpo está todo coberto pelo seu próprio sangue. Em um segundo, ela faz surgir em suas mãos as chamas e com elas, começa a cauterizar todos os buracos feitos pelos tentáculos metálicos, tocando o fogo neles. Tudo que surge no rosto é uma careta contorcida, mas sem gritos, sem se debater, com certeza já fez isso outras vezes. As outras cicatrizes distribuídas pelo seu abdômen definido comprovam isso. Fico tão hipnotizado com o que fez que até me esqueço que Jack está seminua. Ao lembrar, desvio o olhar ruborizado.

– É melhor sairmos daqui antes que os reforços cheguem e antes que isso aqui desabe – diz.

Nossas vidas foram salvas por ela, que apareceu na última hora. Depois que a minha mãe tentou se sacrificar levando a granada até Any, Jack surgiu, segurou os tentáculos, quatro com as mãos, e dois com o corpo, enquanto Amy enfiou a granada bem no ponto fraco do assassino. Usei meu poder de corrente de ar para puxá-la de volta, e deu certo, mas no meio do caminho a bomba explodiu, e os seus fragmentos se espalharam por toda parte, juntamente com os livros, com o resto das prateleiras, o piso e parte do teto. Como resultado, tenho cortes e contusões no rosto, no peito e nas pernas e tantos outros que nem sei se o sangue ao nosso redor é meu ou de Amy. Fora a dor lancinante na costela. Pelo menos estamos vivos.

Jackeline, por sua vez, foi a mais afetada, o seu corpo, além de ter recebido o impacto frontal da onda de choque causada pela granada, ainda foi trespassada pelos tentáculos e os buracos do tamanho de uma bola de baseball, mesmo que tenha acabado de "resolver" esse infortúnio. O canto de sua boca escorre sangue, embora a garota aparenta não se incomodar, assim como as outras feridas.

– Como pode estar bem com esses ferimentos? Tudo bem que a ferida foi fechada, mas ainda deve estar doendo – digo.

Ajudo minha mãe a se levantar, a garota foge de nossos olhares desviando-os para todos os lados. Por fim, decide ir até o que sobrou de Any. Jack cola as duas mãos nas têmporas do inimigo morto e ativa seu poder de fogo nelas, incinerando a cabeça dele bem diante dos nossos olhos. Após isso, ela pega Natalie e a carrega nos braços em total silêncio, o que nos deixa chocados com tamanha frieza.