Capítulo Dezenove

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Só tenho tempo de largar um suspiro antes de tudo começar, a criatura lança em nossa direção todos os escombros que seus vários tentáculos permitem, ao passo em que ataca alguns usando os chifres e o próprio corpo numa investida. Natalie é uma das pessoas que permanece na linha de frente, ela parece deslizar no ar com suas manobras evasivas, seu corpo se esquiva com perfeição dos pedaços do piso e do monstro. Tudo fica lento para mim no momento em que um pedaço grotesco de concreto se aproxima, e eu não me esforço nada para desviar, mas não tenho tempo para proteger os outros. Pela visão periférica, vejo duas pessoas sendo atingidas pelos escombros e caindo.

Antes que os pés de Natalie toquem o chão, a bicho a ataca com os chifres. A garota se agarra em um deles, e se pendura perto da cabeça da criatura, forçando-o para quebrá-lo. Leva alguns segundos até que a saliência óssea seja danificada. O monstro urra de dor, ainda mais enfurecido, e nesse instante, mais pessoas o atacam com seus poderes, inclusive eu. Convoco o ar, ordenando-o que se torne afiado como uma faca para cortar ao meio aquela coisa. Ele obedece, mas quando toca a pele do bicho, tem dificuldades de transpassá-la. Ainda assim, consigo mantê-lo retido numa espécie de bloqueio.

Fredrik aproveita que mais pessoas se aproximam para abocanhar três delas, sua boca libera um líquido estranho de coloração verde, e imobiliza as vítimas imediatamente. Eu mantenho o ar pressionando a criatura, que se esforça para tentar se libertar. Ela usa de seus tentáculos livres para alcançar vários dos nossos e chicoteá-los com agressividade no que sobrou do piso, que sacode a cada movimento. Gritos de dor e desespero ecoam. Ele finalmente se livra de Natalie, arremessando-a para o outro lado com um movimento brusco de cabeça.

Heather avança e assobia para o bicho, que por sua vez logo a encara. Quando acontece o contato visual, parte da cabeça do inimigo estoura, liberando uma menina e um menino involuntariamente da boca. A força que a loura usou para fazer aquilo parece tê-la desgastado bastante, já que ela se inclina para frente com uma mão no rosto. Retiro parte do ar que prende nosso oponente contra a parede para trazer Heather para mim. Algo invisível, suponho ser Lukas, puxa o casal recém-vomitado e os leva para longe nos ombros, julgando pela altura em que os corpos estão erguidos.

Marina golpeia incessantemente a barriga da criatura na forma de urso, enquanto Joe joga algumas esferas de energia por toda a área que está atacando. O monstro não para de berrar, seja de dor ou de fúria.

Avanço, criando em meus braços lâminas feitas de ar, reforço-as ainda mais, para que se torne duro como aço. O ferimento nas costas me lembra que ele existe na forma de fincada, mas decido ignorar como posso. Enquanto corro desajeitadamente, a coisa faz o seu corpo ficar mole como uma massinha, para que consiga se dispersar e sair do meu bloqueio feito pelas brisas. Marina se transforma em um gorila e se afasta, ao passo em que desvia das investidas que vem em sua direção. A mesma menina que desarmou os soldados surge correndo numa velocidade incrível e acerta a criatura várias vezes, impedindo-a de sair do estado pastoso.

Enquanto alguns recuam, eu me aproximo da massa escura que agora toma a mesma forma de monstro de antes. Com as duas lâminas gigantes, corto um pedaço de sua pele, de baixo para cima e finalizo enterrando-as dentro do seu corpo.

O monstro reage tentando me acertar com pontas de lança, porém consigo evitar todas elas com facilidade. A criatura insiste, debruçando-se rapidamente para tentar me engolir, entretanto um raio incessante a atinge de lado, fazendo-a perder o equilíbrio e desmoronar. Aproveito a chance para sair dali. Vejo que a única pessoa que foi engolida de fato aparece na superfície escura da pele do monstro, sem vida. É o mesmo adolescente que tinha telecinese. Num instante, sou erguido no ar por uma força não-visível, juntamente com Natalie que acaba de aparecer e John. Em seguida, somos jogados para o outro lado do salão sem que a criatura nos toque. Uso todo o meu poder para que o ar nos ajude a desacelerar, tenciono meus músculos, por conta da pressão que esse pedido me cobra e no último instante, consigo parar nossos corpos a um centímetro da parede, sem sofrer dano. E é agora que a dor da facada que levei nas costas volta com força total, ardendo como nunca.

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