Capítulo Vinte e Quatro

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O avião está com praticamente todas as poltronas preenchidas, uma aeromoça acompanhada de um carrinho com guloseimas pergunta para Natalie se ela deseja alguma coisa. A garota recusa gentilmente e a mulher se afasta de nós, continuando a oferecer mais os demais. N1 só não pediu nada porque já está devorando um hambúrguer do tamanho de uma bola de futebol agora e parece nem se incomodar com os olhares que atrai, a garota abre a boca muito mais do que deveria apenas para conseguir comer mais de uma só vez. Nesse instante, realmente finjo que não a conheço, mesmo sentado ao seu lado, no assento do meio. O nosso voo saiu às três e quarenta e sete da manhã, compramos passagens de primeira classe e com menor quantidade de paradas possíveis, conseguimos providenciar uma autorização falsa para viajar, já que temos dezessete anos.

Os Estados Unidos agora estão em uma época de crise política, as manifestações acontecem quase que diariamente depois do novo vídeo que mostra documentos oficiais da polícia de Miami que comprovam o envolvimento dela no acobertamento de vários desaparecimentos de adolescentes. Os detetives responsáveis fizeram um relatório apontando que por motivo de forças maiores o caso seria arquivado sem ter começado. Depois soltaram vários outros escândalos de outros países.

No meio do caos, o país que tem a maior quantidade de vídeos em alta definição e documentos oficiais assinados pelo primeiro-ministro é a Austrália. Então, os protestos, manifestações e ataques a esse governo agora são incessantes, tanto que duas cidades do interior já foram completamente tomadas pelos manifestantes. O exército interveio, e nessa ação, acabou levando a vida de vinte pessoas, o que gerou ainda mais revolta.

Todos os dias os jornais tentam cobrir todos os feitos de um novo grupo criado, os NOMU, ou a Nova Ordem Mundial Unida, que visa acabar com a corrupção do planeta. O mundo está virando de cabeça para baixo. Ficamos muito gratos a esse grupo que com certeza é dos nossos, e estão colocando a verdade na internet, pois distrai os humanos extraterrenos e quem sabe, poderemos provocar uma guerra civil contra eles, aproveitando do motim de sua própria espécie.

A mensagem que deixamos na prefeitura de Los Angeles viralizou essa manhã, está escrita em nosso idioma, o que impede os outros humanos de decifrarem, assim como os da Terra. Como nos comunicávamos com eles fora daqui? Existe um idioma universal, diferente do nosso e do deles.

Nessa madrugada, antes do voo, completamos o chamado “Despertem, guerreiros de Zeda, sua princesa os convoca para a guerra” com “Vão para a floresta de Daintree, no Queensland, Austrália” na grande parede de tijolos do prédio, tentamos fazer uma tradução dos nomes e esperamos que tenha dado certo. Uma viatura da polícia nos pegou no ato, mas nocauteamos os caras.

Natalie encara o horizonte pela janela com uma expressão que é mista entre empolgação e chateação, como se tivesse um desejo não realizado martelando incessantemente em sua cabeça. Sei exatamente do que se trata: ela quer pular do avião, apenas para sentir a gravidade puxá-la para baixo, e a adrenalina que essa ação traz, juntamente com a resistência do ar impiedosa.

– Sabe que não pode pular, não é?

– Poder eu posso – resmunga. – Esses aviões humanos são muito lentos.

Olho para os lados, procurando olhares surpresos. Nada.

– Não fale assim! Alguém pode ouvir – advirto-a sussurrando.

– Ah, claro, como se alguém fosse acreditar – balança a cabeça, desenhando. Num segundo, sua expressão muda drasticamente, seus olhos demonstram inquietação. – Tem algo errado.

– Como assim? – Me aproximo mais ao notar que seu tom de voz ficou mais sério.

– Alguma coisa tá fora do equilíbrio. Tenho uma sensação ruim.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora