Capítulo Vinte e Sete

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A garota me encara por um instante, como se sua mente buscasse alguma ligação. Num segundo, todo seu poder telecinético desaparece e a menina se dobra no ar, largando um gemido contínuo e alto, se contorcendo de dor, a garota despenca e cai sobre a sua cápsula e depois escorrega até o chão. Todas as placas agora caem, se deixando levar pela gravidade. A criança coloca as mãos na cabeça, balançando-a com brutalidade, como se tentasse se livrar de algo.

– Alex! – Grito novamente, andando devagar.

– O que tá fazendo?

– Estou tentando fazê-la voltar ao normal – explico. – Não se lembra dos documentos que lemos na casa da Jack?

– O quê?

– De acordo com o relatório, falar o nome que deram a eles os fazem ficar mais calmos.

– Vamos aproveitar a oportunidade para acabar com isso –  Rachel interrompe, avançando cautelosamente na direção da criança.

– Não precisamos matá-la – falo, sem desviar o olhar da menina que rola no chão e grita coisas aleatórias.

– Quer fazer o que então? Dar uma boneca? – N1 desdenha. – Se não a matarmos, eventualmente ela vai nos matar.

Quando nos aproximamos, a menina apaga, seu corpo simplesmente para de se mexer. Sinto muita pena, pois provavelmente a garota sofreu algum tipo de lavagem cerebral também, assim como Freya, então sua mente deve ser uma bagunça. Olhar para o estado deplorável em que se encontra é triste, ela é só uma criança.

Seus braços colecionam algumas marcas de agulhas, além dos hematomas em pontos bem espaçados em volta do pescoço. Existe uma espécie de chapa metálica com várias entradas diferentes para conexões presa em suas costas e pelo que vejo, seria necessário um procedimento cirúrgico para retirá-la, se é que isso é possível.

Nesse momento, me sinto mais encorajado a tentar dialogar, porque não quero ter que sujar minhas mãos com o sangue de alguém que nem entende o que está fazendo. Gostaria mesmo de ajudar os humanos da Terra, visto que eles não sabem de absolutamente nada sobre nossa guerra, em suma, são inocentes.

A criança abre os olhos vagarosamente, ela se senta de uma forma desajeitada, na hora entendo que é por conta das dores que sente.

– Você é a Alex, não é? – Dou um único passo, quase arrastando o pé para ser sútil.

– É – confirma, com a mão na cabeça. – Me ajuda.

Escuto o movimento das garotas atrás de mim.

– Nós vamos te ajudar – abro a mão num gesto de calma para Natalie e Rachel. As duas não gostam da ideia, mas respeitam. – O que faz a sua dor parar?

– A minha casa – lamúria, soltando o ar de uma vez.

– E onde fica?

Ela aponta para trás com o polegar, a cápsula, seu olhar vazio demonstra o cansaço de seu corpo franzino. Dou mais um passo e me aproximando de fato dela.

– Aquela cápsula minúscula é a sua casa? – Natalie pergunta, incrédula.

– Tem mais espaço embaixo. Papai diz que tenho que ficar lá pra que eu não sinta dor, é uma doença – seus olhos de cores distintas cintilam. – Não, é tudo mentira – olha para seu próprio corpo. – Tudo está errado – sussurra melancolicamente.

– O quê? – estreito os olhos.

– Eu sei o que estão fazendo, eles estão apagando minhas memórias, pouco a pouco, e colocando novas no lugar – Alex esfrega as mãos nos olhos.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora