Capítulo Dezessete

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– Queremos justiça! Estamos cansados de mentiras! –  Um homem de meia-idade vocifera, e a multidão o acompanha gritando euforicamente enquanto erguem seus cartazes para o alto. 

As ruas estão todas ocupadas por pessoas, sendo homens, mulheres, jovens, todos impedindo a passagem da maioria dos carros, que fazem o desvio, a polícia tenta manter a ordem, isolando algumas partes com faixas e cones sinalizadores, juntamente com uma tropa de choque que está nos arredores. O asfalto está sujo com o que parece ser lixo que foi derrubado propositalmente por algum vândalo que já deve ter sido detido, provavelmente. 

Uma boa parte do grupo começa a sua marcha, indo dali diretamente para a prefeitura da cidade, Natalie e eu somos obrigados a passar pelo meio desse cenário caótico, mesmo que não tenhamos intenção alguma de participar disso, porém precisamos atravessar a rua para conseguir voltar para casa. Foi mesmo uma péssima ideia sair para comprar donuts.

–  Com, licença –  digo para uma senhora, e ela abre caminho para que possamos atravessar. 

De repente, ouvimos uma gritaria na nossa frente, são duas pessoas discutindo com um policial, que os afasta tocando o cassetete no peito de um. O protestante se irrita ainda mais, e anuncia aos outros ao redor que estão sendo impedidos pela mesma corrupção que permite a morte de tantas pessoas. Nesse instante, somos praticamente carregados pela multidão que se volta para socorrer seus companheiros. O policial se afasta e recebe apoio da tropa de choque, que posiciona os escudos à frente do corpo e gritam avisando que se tentarem alguma coisa, vão ser obrigados a revidar. 

Natalie puxa meu braço, para mudarmos de direção, vendo que por ali não teremos êxito, eu apenas me deixo levar, mesmo sendo atacado pelas pessoas que esbarram em mim ao correrem de um lado para o outro. Segundos depois, o ar é tomado por um gás que vai se espalhando gradualmente e começa a irritar meus olhos, mas conseguimos sair antes que a substância realmente alcance o seu poder efetivo. As pessoas agora tentam agredir as forças policiais, empurrando e dando socos e chutes.  Balas de borracha são disparadas, além do gás lacrimogêneo e mais reforço aparece. 

A multidão começa a se dissipar à medida que a tropa começa a ganhar terreno, somos empurrados para trás, Natalie fecha os olhos e os abre devagar com os lábios reprimidos, ela está com raiva de toda essa situação. 

–  Temos que ir também –  anuncio, mesmo sabendo que deveríamos ir para direção oposta.

–  Eu sei –  ela responde. 

Corremos juntamente com a multidão, para não sermos confundidos com manifestantes e acabar levando um tiro por engano, porém, na primeira oportunidade que vemos de desviar o caminho, fazemos, entramos em um beco escuro que dá saída para outra rua. Suspiramos aliviados por finalmente conseguir escapar da bagunça. Natalie encosta em uma das paredes e tira da sacola a rosquinha.

– Tudo isso por uma droga de donut –  reclama antes de morder um pedaço. 

– Acho que valeu a pena –  digo após provar o meu. 

Ouvimos o som de uma porta se abrir atrás de mim, antes de conseguir olhar, alguém me dá um golpe forte no pescoço, que me deixa paralisado automaticamente, e dispara alguma coisa na minha perna, que me faz cair no chão, acompanhado de um sono incontrolável. 

Vejo, com a visão já embaçada, o que acontece alguns segundos antes de apagar: Natalie dá um soco em um homem, que voa para longe, mas é atingida por dardos com alguma substância, e é agarrada por outro cara atrás dela. A garota ainda luta, e dá uma cotovelada no estômago dele, e o empurra, entretanto é vencida quando recebe mais três ou quatro dardos em seu corpo, caindo também, ao meu lado. Nossos olhares se encontram uma última vez antes de eu desmaiar.  

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora