Capítulo Vinte e Três

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Uma dúvida ainda perdura sobre algo que foi esquecido: como eu conseguia me conectar com Natalie, vendo o que ela estava vendo? Aquilo foi uma novidade, até para nós no estado atual. A garota diz que é por conta da nossa conexão, um desejo tão sincero de querer o bem do outro que a singularidade se manifestou em mim para que eu pudesse senti-la, onde quer que estivesse. Do meu ponto de vista, é absurdo usar o amor como justificativa, parece história de ficção. Porém, não posso dizer de fato, já que não tenho ideia de como é ser singular. A princesa disse que é como se você tivesse milhares de receptores  em volta de você, te dando sensações de tudo o tempo inteiro. Natalie também já me falou que é uma sensação gostosa, como se você estivesse livre de tudo que te prende, peso, gravidade? É como se nada disso existisse, como se pudesse se mover livremente sem resistência alguma. Além disso, a garota mencionou as muitas vozes que sussurram, como um canto suave e melódico. Já ouvi coisa parecida uma vez em Chicago, mas não era nada agradável e não entendi nada, só depois que uma voz se sobressaiu, dizendo "Eu voltarei".

– Vou perguntar só mais uma vez: onde é a base principal da terra? – Rachel diz, me fazendo deixar meus pensamentos.

– Não sabemos! – O cara grita, com os olhos esbugalhados.

Estamos em nosso velho e mofado esconderijo, com dois homens acorrentados em cadeiras, são os capangas da outra humanidade, a "Organização". Nós notamos que estávamos sendo seguidos quando saímos para comprar notebooks para que N1 use seu conhecimento de programação para obter a conta bancária de Amy, e assim, nos manter. Fingimos uma fuga para cá e eles caíram como patos na armadilha.

– Eu vou cortar seus olhos, e esperar que você sangre bastante e quando achar que acabou, vou arrancar a luz de dentro deles! – N1 ameaça, colocando uma faca acima da bochecha do cara, que engole seco e tenta não se mexer. – Melhor. Primeiro, vou demonstrar como é o ensaio completo no seu amigo durão aqui. Tem que ser devagar, ir desenvolvendo até chegar no clímax – explica, indo para o lado do outro cara.

Natalie assiste tudo de braços cruzados, com uma expressão que mostra indiferença, ou talvez impaciência, não há uma reação sequer. Não é o tipo de coisa que estamos acostumados a fazer, mesmo antes de estarmos na terra, porém sei que essa informação será necessária para vencermos.

O homem de cabelo ralo se esforça para não demonstrar que está tenso. Rachel olha para o parceiro dele, só para se assegurar de que ele está assistindo tudo. A garota crava a faca na mão do cara de uma vez, que solta um gemido preso nos dentes. Ela mantém a mão no cabo e começa a girá-lo, tirando mais urros do agredido, que até fecha os olhos e faz uma careta. Já é possível ver o suor escorrer em sua testa. Ele tenta se soltar para arrancar a lâmina fincada em sua mão, mas falha. O sangue escapa pela ferida, e começa a descer pelo apoio de braço.

– Vamos lá, me diz, só quero uma informação – faz um gesto com a mão. – Não obrigue seu amigo a passar por isso.

O cara não responde.

– Então, vamos brincar.

Rachel suspira com as mãos na cintura e pega outra faca sobre a mesa, tomando distância. Em seguida, a garota gira o objeto com os dedos e se prepara para atirá-la. Ela puxa o ar e posiciona bem a lâmina nas mãos.

– Pode fazer o que quiser, nunca vamos contar! – O homem ferido finalmente abre a boca, áspero.

Natalie avança na direção dele pisando duro e o pega as correntes, erguendo a cadeira com uma mão, sacudindo-a.

– Fala onde é a droga da base ou eu te mato! – Grita.

O cara sorri maliciosamente, e não fala nada.

Império dos Três [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora