Não é correto ou seguro, não é nem mesmo saudável permitir que outro indivíduo represente toda a sua felicidade, entretanto o que ele poderia fazer quando aquele garoto não lhe deu opção? Não é como se ele tivesse ao menos escolhido entregar seu coração ou sequer tido a oportunidade de pensar antes que todos os sentimentos bons e puros fossem associados àqueles olhos brilhantes. Com os dois, havia sido daquele modo desde o começo: Automático. Se apaixonaram tão automaticamente que nem mesmo se estressaram quanto a assumir seus sentimentos ou entrar em uma relação, tudo parecia tão natural quanto às lágrimas que agora escorriam pelo rosto pequeno de Jaemin quando o namorado finalmente conseguiu alcança-lo no meio do corredor.
Ele sabia que não deveria estar se sentindo assim, sabia bem demais que Renjun jamais sequer levaria as investidas daquele diplomata a sério mas ainda assim, ver o alfa todo sorrisos para o seu garoto doeu como o inferno. E se seu pequeno percebesse quão incerto era seu futuro ao lado de outro ômega? E se o Huang caísse pelo charme do homem rico e inteligente? E se o mais velho quisesse a vida tranquila que nunca teria ao seu lado? De todos os "e se" o que mais doeu fora a possibilidade do Huang preferir um alfa porque outro ômega jamais seria capaz de sacia-lo completamente durante seus cios.
O Na mau percebeu que estava andando até estar bem na frente do tal visconde, berrando xingamentos e ofensas e chamando a atenção de todos os convidados. A única coisa que impediu o alfa de retaliar suas ações fora um rei altamente constrangido defendendo-os e intervindo por seus lordes de companhia. Jaemin sentia tantas coisas ao mesmo tempo que nada conseguia fazer além de andar apressado e chorar em desespero, quase afogando-se em sua própria confusão: Vergonha, mágoa, dúvida, medo, ciúmes, tudo ao mesmo tempo.
- Nana!- O chinês chama, agarrando seu pulso em uma tentativa de fazê-lo parar.
Como já era esperado, não fora nada difícil para o maior se desvencilhar do aperto e continuar em sua caminhada, apático aos pedidos de seu amado até que, de saco cheio, o Huang finalmente apelou para um golpe baixo: Ele se atirou contra Jaemin, levando os dois ao carpete do corredor completamente vazio. Finalmente despertando de seu frenesi, o mais novo encarou os olhos brilhantes do chinês e o misto de amor e preocupação que encontrou ali apenas fez com que chorasse mais. Céus, como ele tinha medo de perder aquele garoto, como ele desejava ter nascido de outra classe apenas para que pudessem se amar em segurança, apenas para que não precisassem temer a desaprovação alheia.
- Me perdoa, por favor, me perdoa.- Ele repetia sem parar.
- Nana, não tem o que perdoar, por favor, se acalma.- O mais velho tenta, acariciando seus cabelos rosados.
- Seus pais, Junnie!- Jaemin explica.- Agora eles vão saber sem dúvidas e vão te casar com alg...
Antes mesmo que ele pudesse continuar com aquele disparate, teve seus lábios colados com os fininhos e macios do menor dos dois em um beijo delicado e cheio de sentimentos, tão doce apesar do gosto salgado das lágrimas, braços fininhos embalando seu corpo no mais frágil dos abraços, como se ambos pudessem quebrar com um contato mais bruto. Era sempre assim: Jaemin falava demais, pensava demais e se complicava demais na própria complexidade enquanto o Huang preferia ações. Ali, naquele corredor vazio e mal iluminado, a única coisa que o chinês fora capaz de fazer por seu amado fora expressar o quanto o amava e como ninguém os separaria.
- A única pessoa que ficará ao meu lado naquele altar é você.- Declara quando separa seus lábios minimamente.- Vamos.
- Mas Jun...- Mais uma vez, o Na argumenta e mais uma vez, é ignorado.
Naquela noite, o mais novo chorou por horas contra o peito alheio antes de finalmente adormecer, sentindo-se mais protegido do frio pela presença do corpo diminuto ao seu lado do que pela dezena de cobertores caríssimos que os envolviam. Por que, mais uma vez, eles sentiam-se mais confortáveis ao lado um do outro do que em lugar algum: Poucas eram as pessoas que podiam orgulhosamente afirmar ter encontrado um lar para seu coração ao longo da vida e aquele casal era sortudo o suficiente para não apenas ter o seu um no outro mas por terem se encontrado tão cedo, por terem a honra de passar tanto tempo lado a lado.
Esse tipo de situação repetiu-se muitas outras vezes até que, cansado, Renjun decidiu pôr um fim a todas as preocupações de seu amado. O Huang simplesmente amava aquele garoto demais para que permitisse que aquela tortura psicológica prosseguisse e uma vez que a proteção real não parecia garantia suficiente para Jaemin, o chinês precisou arranjar um plano. Pensou e pensou e quando finalmente teve uma ideia, não demorou a realizar. Era mais uma noite agitada na corte coreana, o noivado do príncipe Sunghoon e Sunoo era uma ocasião e tanto, portanto haviam lordes de todas as partes de Qing e da Coréia ali, inclusive seus pais e os de Jaemin. Decidido, Renjun passou por todos sem nem falar, andando direto até seu alvo.
Chocados, todos os presentes no salão observaram enquanto o menor dos lordes de Qing puxou o Na pela cintura e colou completamente seus corpos, iniciando um beijo quente demais para aquela noite de inverno e no mínimo inapropriado para ser presenciado em público, já que até mesmo um selinho seria considerado escandaloso. Não bastasse a sua ousadia em iniciar aquele tipo de contato ali, o Huang até mesmo aprofundou o ósculo, deixando claro quem estava dominando a ação e qual era a dinâmica de casal dos dois ômegas.
Embora a surpresa fosse geral e olhares arregalados fossem meio que a expressão padrão, ainda houve quem apaludiu alto (Chenle), assobiou (Hyunjin) e, claro, não poderia faltar a ameaça mortal. Ao ver o beijo dos dois, certo príncipe empolgou-se e se virou em direção ao seu pequeno noivo e a única coisa que o impediu de seguir em frente fora o olhar fatal de Lee Donghyuck e a clara mensagem de "Ouse tentar e você vira um defunto real." Os progenitores de ambos, por sua vez, estavam horrorizados demais com a cena e, quando eles finalmente se separaram, um berro pôde ser ouvido.
- O que você acha que está fazendo?- O pai de Renjun questiona.
- Cuidando da minha saúde, ué.- O Huang rebate sem pensar duas vezes.
- HUANG RENJUN!- Sua mãe interfere.
- Veja bem, mãe, uma médica me avisou recentemente que amor é um fator de longevidade.- Ele rebate com um dar de ombros.
- Que?- Jaemin, que estava congelado e com joelhos bambos desde o beijo, finalmente se pronuncia com olhos arregalados.
- Nós temos uma chance de viver duas vezes, amor.- O ômega mais velho lhe lança uma piscadela e o carrega para longe dali.
A maior verdade era que ninguém nem ao menos se importou em conferir se de fato algum médico havia dito aquilo, todos empolgados demais com o novo assunto do momento e dedicando-se a espalhar fofocas boas e ruins sobre o casal recém assumido. Não que o romance dos ômegas fosse um segredo guardado a sete chaves, para ser bem sincera, eles sempre foram bem claros quanto ao tipo de relação que mantinham e nunca realmente disfarçaram nada, a questão é que a sociedade preconceituosa continuaria a entende-los como amigos até que fizessem algo grande para provar o contrário.
E céus, qualquer um naquela corte poderia afirmar com certeza absoluta que os dois estavam determinados a serem imortais, já que desde a tal revelação de que amantes vivem um pouco mais, eles literalmente estavam sempre agarrados. Trocavam beijos apaixonados pelos corredores, escondiam-se atrás de cortinas e até mesmo faziam coisas suspeitas em salas desocupadas, tudo com a consciência leve já que tinham a desculpa de fazer tudo em prol de uma vida saudável. A questão principal era que ômegas "não puros" não são considerados apropriados para casamento e ainda que seus pais tentassem desesperadamente arranjar pretendentes para que pudessem enfim separar os dois, jamais encontrariam, ao menos não enquanto os dois fossem tão escandalosos e desavergonhados quanto a própria relação.
- Jun, eles nunca vão nos deixar casar, né?- O maior questiona com um biquinho ao garoto em seu colo.
- Eles tampouco conseguirão fazer com que nos separemos.- Renjun rebate com um dar de ombros.- Seja positivo, veja as coisas pelo lado bom.
- Que lado bom?- Jaemin indaga.
- Amantes vivem um pouco mais.- O Huang explica, espalhando beijinhos pelo rosto alheio.- Nós temos uma desculpa para cada beijo, hm?
- Então porque a gente não começa agora?
Eles começaram e fizeram questão de nunca parar, afinal, vai que realmente virassem imortais.
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Noivado- Chensung ABO
De Todo"O tempo é o melhor remédio" Este ditado, infelizmente, será amplamente refutado nessa história. Um reino dividido cujas cicatrizes apenas foram aprofundadas em prol de um amor malfadado tende a dividir-se ainda mais ao longo do tempo, não o opost...