14- Me desculpa

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P.O.V - FÉLIX SALAZAR:

     Estava me sentindo péssimo, o desespero estava me tomando novamente. Desde que recebi a notícia da morte da minha mãe, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim, um buraco enorme foi deixado no meu peito, e eu estava me odiando muito por não ter valorizado ela o bastante, eu vivia dando respostas curtas e grosseiras, mas mesmo assim, sempre tinha ela comigo. Depois das brigas com o meu pai, depois de um dia ruim, uma nota baixa, ela sempre estava lá, pra tudo, me abraçando e dizendo que tudo ficaria bem.

  Eu só queria poder dizer que a amava, e dar um abraço de despedida nela, mas era tarde demais, ela já não estava mais aqui, eu fiquei sozinho, ela me deixou sozinho, mesmo depois de dizer que ficaria do meu lado até o último dia da minha vida.

  ── Por que você mentiu pra mim, mãe? ── sussurrei, enquanto uma lágrima caía do meu rosto, molhando a foto que eu tinha em mãos.

  Não bastasse essa dor enorme, eu consegui afastar a única pessoa que eu tinha a certeza de que ficaria comigo até o final, e nem pude pedir desculpa ainda, já que o mesmo disse que somente depois que eu estivesse mais calmo, falaria comigo. Não o julgo, mas esperava que ele entendesse que esse era um momento em que eu estava com a cabeça fora do lugar. Na verdade eu estava totalmente fora de mim.

  O que eu disse não foi mentira, eu realmente não queria acertar aquele soco nele, mas uma de suas frases me causou um gatilho enorme, e acabei por lembrar de alguém que me manteve preso em uma "amizade com privilégios" muito tóxica, por isso chamei ele de Caleb, foi como se eu tivesse revivido um trauma, mas eu não queria mesmo descontar no meu garoto. Anthony tem sido tão bom para mim, que agora me sinto pior ainda. Eu queria não pensar muito nisso, mas era como uma bola de neve, cada problema vinha com um novo, como se tivesse arrastado consigo, embolando tudo e vindo bem na minha direção.

Nem forças para correr eu tinha.

   Eu nem havia conseguido falar com o Anthony ainda. Naquela mesma tarde eu fui me despedir definitivamente da minha mãe, foi o enterro dela, e eu chorei muito. Foi muito doloroso, eu nunca imaginei essa cena, e nem imaginaria como ela parecia medonha. No momento de falar, eu simplesmente travei, comecei a chorar na frente de todos que estavam presentes, eu só precisava de um abraço, mas nenhuma daquelas malditas pessoas que sequer se importavam com ela, vieram me dizer uma palavra de consolo, ou perguntava se eu precisava ser abraçado.

  Em certo momento, meus olhos pararam sobre o garoto loiro platinado, entre todas aquelas pessoas, ele estava me olhando com os olhos marejados, quase como se quisesse vir até mim, mas algo o prendia onde estava, e eu sabia o que era. Anthony tinha medo de mim. Medo de que eu agisse com indiferença se ele viesse me abraçar na frente de todos. Mas eu não iria me importar, apesar de que, se ele viesse, iria gerar muitas especulações.

  No final daquilo tudo, quando estávamos todos indo embora, eu pedi para o meu pai para ficar mais alguns minutos, e quando o mesmo concordou, eu apenas esperei até que todos saíssem, e me sentei no chão, sobre a neve branquinha, cruzando as pernas antes de levar as mãos para o meu rosto. As lágrimas caíram novamente, era automático, eu já não conseguia me controlar.

Apenas queria ficar ali sozinho, pensando em como resolver a burrada da minha vida, e ao mesmo tempo lidar com o peso do luto. Estava com os olhos fechados, tentando parar de chorar, foi quando senti uma mão no meu ombro, e apenas me virei, encarando aquelas orbes azuis que me encaravam intensamente, mas não era o meu garoto, não eram os olhos azuis do Anthony, e sim do Jason, que não tardou em se sentar do meu lado.

── Oi ── Disse ele depois de algum tempo calado. ── Eu não vou perguntar como você tá, pois é óbvio que não tá nada bem ──

── Jason, o rei da obviedade ── proferi sarcástico. ── Desculpa...──

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