Epílogo

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Nos últimos dez anos da minha vida, eu precisei aprender a me reerguer sozinho, principalmente no primeiro ano longe da minha família, quando decidi ser independente aos dezessete anos de idade, e eu acho que consegui.

Aproveitando estar longe de perguntas, eu chorei mais, sofri como devia a perda do garoto que iluminou a minha vida, e quando realmente achava que não tinha lágrima nenhuma para derramar, as lembranças vinham com toda força, me causando uma dor extrema, aquela com a sensação de que estava sendo deixado um buraco em meu peito, pois era o que parecia.

  Mas com o tempo eu precisei me reerguer, quando as lembranças já não eram tão tristes. Eu deveria estar feliz, afinal, ainda tinha as lembranças dele comigo, os momentos, e que momentos. Independente da forma em que aconteceu, essas memórias me ajudaram, foram o motivo de um dia eu me levantar disposto a seguir com a minha vida. E ela se tornou melhor quando recebi uma ligação do Ronan, dizendo que Kenny e Maggie tinham sido condenados, finalmente indo pagar pela injustiça que fizeram.

   Durante esses anos, eu consegui um bom emprego, depois de dois anos tocando em um barzinho, e também consegui alugar um cafofo, somente para ficar enquanto estivesse na faculdade, porque eu pretendia voltar para Estes Park assim que possível.

  Toquei minha vida, visitei minha família aos vinte anos de idade, impressionando todos com a minha grande evolução. Aquele Anthony fraco e indefeso, que vivia dentro de moletons por medo de mostrar o que a depressão havia feito com ele, passou a não existir, eu melhorei de todas as formas, estava bem psicologicamente também.

  Tudo na minha vida melhorou muito, incluindo a minha carreira na música, eu estava cada vez mais conhecido, porém uma parte minha estava presa ao passado, e foi a mais difícil de me desapegar. Essa parte tem nome, sobrenome, e lindas orbes verdes; Félix Salazar.

  Nos primeiros quatro anos desde que ele se foi, eu não consegui me relacionar com mais ninguém, não sentia atração, ou vontade de ficar com alguém. Minha mãe dizia que eu não deveria me privar de viver dessa forma, mas eu sentia que não precisava de ninguém, não era necessário ter alguém ao meu lado, como se fosse para preencher um vazio, então tentei uma outra coisa.

  Aos meus vinte e quatro anos, no meu último ano na faculdade, procurei um orfanato pela região onde eu estava, e fiz uma longa avaliação nas crianças, antes de finalmente entrar com o pedido de adoção desde já, sabendo que era um longo processo. No final do ano, na minha última semana em Juilliard, tinha um garotinho de oito anos comigo, cabelos negros, pele morena, e olhos verdes. Me lembrava daquele que havia me deixado anos atrás, e por ironia do destino, seu nome era Nicholas, como o Félix queria...

  Apesar da imensa vontade de querer ver meus pais, as minhas irmãs, e apresentar meu filho para eles, eu ainda fiquei quase um ano morando em Nova York, queria aproveitar de fato o lugar, tendo em mente que a partir daquele ano, minha vida ficaria uma loucura, eu estava prestes a retornar para Estes Park, e aquela idéia me assustava um pouco.

   Então eu voltei, a pouco mais de uma semana, e tivemos uma recepção incrível, dois dias bem conturbados, já que depois da minha família, eu levei o Nicholas para conhecer o pai do Félix, e o Theo. Foi um ótimo reencontro, e estar de volta naquela casa, não foi tão difícil quanto eu pensei.

  Logo após, eu fui convidado para tocar na festa de fim de ano da minha antiga escola, e essa sim foi uma coisa difícil de aceitar, as lembranças eram muito claras, talvez eu não ficasse bem estando de novo no local em que aconteceu...mas eu aceitei.

           Respirei fundo, fechando meus olhos por alguns segundos, antes de finalmente me posicionar em frente ao microfone, e encarar todos aqueles alunos. Um quase pânico se fazia presente em meu corpo, mas sabia me controlar, e precisei fazer isso, estar ali já era um passo enorme, e agora eu tinha mais pessoas ao meu lado.

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