Capítulo 1 - Seguir em frente

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" As cicatrizes do teu amor me fazem lembrar de nós.
Me fazem pensar que nós tinhamos quase tudo
As cicatrizes do seu amor me deixam sem fôlego
Eu não consigo parar de sentir
Nós poderíamos ter tido tudo "

Rolling In The Deep-Adele

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   Sentada na cadeira que um dia pertenceu a ele, Maria Marta estava completamente perdida em seus pensamentos.

   Lembranças,culpa, rancor, dor... nunca foi planejado por ela o rumo que a sua vida se tornou, tão amarga.  Não se considerava uma pessoa ruim, apenas machucada e boa parte disso por ele: comendador José Alfredo Medeiros. Ninguem nunca imaginou e nem enxergou o seu lado, o quanto esse amor não mais recíproco causou. Mas isso não importa, não agora .

    — Você se foi, de maneira tão repentina e eu fiquei. Estou me afundando e fazendo isso com os nossos filhos, com a império, Zé. Com tudo que um dia foi a nossa vida e que lutamos para construir. Mas me resta uma saída, apenas uma, casar com Maurilio Ferreira – falava enquanto mirava o quadro do lugar mais importante para ele, aquele maldito monte Roraima.

   O destino a partir desse momento estava traçado e pedir perdão é o que restava. Perdão por toda a ambição que resultou em uma sede de poder excessante, que acabou com o infinito, com o respeito e com a parceria de anos.

   Sabe, dizem que o destino é irônico e adora pregar peças em seus agregados.   A imperatriz por si só, sempre esteve presente nas horas mais difíceis e ele? Em que lugar a sua alma caminhava  agora?

   Talvez em outra vida o para sempre aconteça...

   O som da porta se abrindo e logo depois sendo fechada tirou a mulher de seus pensamentos.

   — Mãe? - chamou o filho caçula

   — Oi João Lucas, deseja alguma coisa?- perguntou limpando suas teimosas lágrimas.

   — Coroa você tem certeza disso? Esse casamento é loucura e podemos arrumar um jeito, juntos, todos nós!

   — Filho, não tem o que fazer, já se passaram sete meses e eu não posso adiar mais.

   — Eu queria tanto o pai vivo - lamentou

   — Eu também! Mas te prometo que tudo vai ficar bem e que vamos seguir .

   Seguir em frente era o que tentava desde o dia que olhou o homem de preto caído no chão de seu quarto sem vida. Justo no dela, no seu santuário de paz mesmo que momentâneo.

   O olhar perdido e desesperado da filha, o susto do caçula que estava prestes a se torna pai e o que mais queria era ele lá e a força do mais velho que serviu de amparo para consolar todos. Aquele dia, às diferenças por um instante não existiam mais, eles compartilhavam da mesma dor da perda.

   A casa e a empresa nunca mais foram às mesmas. Ela nunca mais teria suas discussões matinais e nunca mais seria chamada de paulista quatrocentona e cheia de sobrenomes – Sobrenomes importantes e de muita influência, mas que no atual momento de nada servia. Não com o trono do rei vazio.

  Definitivamente, estava sendo difícil.

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Já em casa:

   A imperatriz fez o que sabia fazer de melhor, ocupar-se com pendências do lar, como as perguntas de Claraíde.

   "Madame, o que faço para o jantar?" ou também, "Madame não entendi essa receita."


   Entretanto, tudo era um alívio passageiro. Quando pisava em seu quarto as mesmas lembranças invadiam a sua mente – Ele, o corpo caído no chão, a falta de cor ou oxigênio, qualquer coisa que representasse um resquício de vida. Nada!

   As noites de insônia estavam constantes e seus remédios já quase não faziam o efeito de antes, nos primeiros dias era só tomá-los que em um curto período encontrava-se desmaiada na cama. Eram as únicas noites de sono tranquilas, porém o cansaço mental e físico não a deixava tentar sair dessa escuridão. Não poderia desistir, tudo era dependente dela agora.

    — My lady, o jantar está servido - anunciou o mordomo.

   A cadeira principal na mesa de jantar passou pertencer a ela.

     — Mãe, tenho novas ideias para a coleção da império - contava a menina empolgada.

  — Mãe, também tivemos um aumento significativo de vendas esse mês - falou  o primogênito.

  — Ah, você sabe né, coroa! Os funcionários estão agoniados com a falta do bônus que o pai sempre entregava nesse mês. Você pode ajudar a acalmar os funcionários? - pediu o caçula.

— Podemos jantar uma única vez sem trazer assuntos da empresa? ‐ seu pedido logo foi acatado e os filhos se calaram.  Problemas, problemas e mais problemas. Poucas soluções e abstinência de notícias boas, essa era a nova realidade da família imperial.

   Aguentariam por muito tempo?

   Afinal, até o mais forte chora e o mais feliz, pode se tornar o mais triste. A alegria e a tristeza, na verdade são relativas e o que diferencia são os outros sentimentos que as complementam.


   E a imperatriz estava prestes a decretar a derrota de seu ser.

...

Nós Poderíamos Ter Tido Tudo-MalfredOnde histórias criam vida. Descubra agora