VI

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Eu li alguns pedidos de leitoras saudosas de Mercedes, mas eu já sabia que ela apareceria bastante nos próximos capítulos, por isso eu disse para as jovens padawans aguardarem...

Mas de uma coisa é certa: Vittorio Santini é sempre uma simpatia...

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A mansão de Vittorio Santini era um triunfo da arquitetura, graças à mistura do bucolismo e rusticidade envolto pela Mata Atlântica, bem como a grandiosidade e luxo da residência, escondida pelos muros de plantas que impediam a visualização da casa até mesmo pelos carros que passavam na rua do condomínio fechado nas proximidades da Vila de Praia do Forte. Era um padrão não apenas para Vittorio, mas também outros ricos e famosos que moravam lá, longe do bulício da capital baiana.

A casa parecia um resort, incluindo até mesmo a piscina olímpica, pouco utilizada – já que Vittorio era tão irritadiço e estressado que sequer tinha paciência de nadar. A piscina, que ficava nos fundos da mansão, era cercada por um gradil; não porque haviam crianças na casa, e sim para a proteção de Mercedes. Mesmo que a jovem conhecesse cada ponto da residência, todo cuidado com sua segurança era pouco.

Ela sabia exatamente onde ficar, não tão próximo do gradil, mas perto da piscina o suficiente para se sentir confortável ao ar livre: o tempo agradável, o sol que batia em seu rosto e o vento que tornava o ambiente fresco para ler alguns documentos. À sua frente, Mercedes sabia da presença de uma jarra e dois copos de suco de laranja, além de um grande pedaço de bolo de chocolate, deixados por Marieta.

Envolvida pelo som do silêncio, interrompido apenas por alguns pássaros e o barulho curioso dos saguis que, ela sabia, se aproximavam cautelosamente de sua mesa sentindo a presença da comida, a contadora mexia-se um pouco na cadeira. Como ela sabia que os animais ficariam cautelosos em chegar mais perto, se distanciariam. Não poderia observar de onde viria o próximo sagui, então precisava entender seus movimentos.

Sentindo que os animais não se aproximaram novamente, Mercedes acompanhou com os dedos o relatório em braile com as informações atualizadas sobre os investidores dispostos a participar do próximo lançamento do Grand Santini Hotel, a futura unidade em Subaúma; mas eles queriam ainda mais: o interesse dos investidores era em construir um condomínio exclusivo com a brand Santini, usando como inspiração uma marca concorrente.

Mercedes tentava entender se aquele investimento seria válido, considerando que o novo resort em Subaúma ainda estava em construção, e de acordo com as informações do relatório, a tentativa dos investidores lhe parecia muito arriscada – em especial porque o Grupo Santini entraria com a maior parte do dinheiro na construção das casas. Suas reflexões foram interrompidas, contudo, quando sentiu um perfume se aproximar dela misturando-se ao cheiro da comida. Era um perfume forte, resistente: não era de seu chefe.

- Olá, Mercedes, bom dia! Finalmente podemos conversar com calma!

A jovem ouviu o som de uma cadeira rangendo no chão, e entendeu que Franco Pirlo estava se sentando ao seu lado. Escutou também um som vindo dele, um "shhh, sai!" que se confundia com o vento de forma estranha, ao mesmo tempo que ouviu algo como batidas das mãos na mesa. Eram batidas duras, pouco singelas.

Logo a contadora entendeu a razão.

- Por que o senhor está afastando os saguis?

- Porque eles iam comer a comida, Mercedes! – sorriu, confiante. – Como notou que eu fiz isso?

- Bons ouvidos. Eu os ouvia se movimentando.

Franco manteve o sorriso, e olhou a piscina, mas não a enxergava. Seus pensamentos concentravam-se em outra coisa. Estava participando de um plano. E faria de tudo para que ele desse certo.

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