XXVIII

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Demorei mas cheguei!

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Uma mulher caminhava pelo hall de entrada de um hotel que mais parecia uma pousada rústica. O empreendimento, localizado em Guarajuba, encontrava-se repleto de hóspedes naquele período; mas eles estavam espalhados por locais diferentes – a maior parte aproveitando a piscina com borda infinita, aproximando-se do mar, as duas separadas pela beleza selvagem da vegetação praiana.

Porém, o hall estava silencioso, refletindo a mulher que andava por ali, de maneira calma e cautelosa. A cada instante, ela respirava profundamente, como se estivesse sentindo um perfume bem específico, e apreciando o aroma.

- Rosas...

- Sim, as mais belas! - confirmou a outra mulher, que a acompanhava explicitamente orgulhosa de toda a reação de sua sócia. Ela parecia bem satisfeita com tudo.

Elogiou de forma sutil a rampa de acesso ao hall de entrada, a pista tátil que a ajudou a se mover de um lado a outro, as informações do check-in vi todas em braile. Ainda faltava conferir os quartos e ambientes externos, mas até então, a sócia tinha uma indisfarçável expressão de contentamento.

- O objetivo é fazer dessa experiência nos hotéis, tanto na pousada quanto no resort, a mais diversa possível.

- Sim, estamos ampliando o mercado e trazendo mais gente para o complexo. Confesso que já quero estrear logo o SPA. As massagens... Meu marido vai gostar.

- Você fala pouco do seu marido, Mercedes. Ele gosta da ideia de você investir sozinha em um empreendimento como um hotel?

- A melhor coisa de ser casada com meu marido é o fato de que ele me dá liberdade para fazer tudo.

Enquanto Mercedes organizava o futuro dos Santini com aquele novo resort, já com os espaços divididos entre a parte mais bucólica - de responsabilidade de suas sócias - e a parte mais sofisticada, estilo eco resort, que ficaria sob seu comando, Vittorio Santini estava a alguns quilômetros ali, mais precisamente a alguns metros da sede do grupo Santini.

Há um bom tempo não passava por ali, o local que fez parte da sua rotina, que ele ajudou a enriquecer e a desenvolver como sangue e suor. Agora, era comandado por Saulo, e ele sabia bem que o seu nêmesis não era o melhor dos administradores.

Em alguns aspectos, sabotar a empresa nem era necessário, já que Saulo Pancetti parecia pedir para o desempenho da empresa ser fracassado.

A verdade é que Santini tinha outros objetivos em mente, que não envolviam entrar no prédio. Na verdade, ele só queria observar o resultado de sua constante batalha para destruir o inimigo, mesmo que intimamente, ele estivesse irritado sobre como as disputas afetaram a empresa a qual ele sempre se dedicou.

Mas não podia fazer nada. "Efeitos colaterais", concluiu, sombrio.

O belo e fabuloso prédio onde ficava o Grupo Santini estava bastante movimentado. Porém, ele não conseguiu ver, entre as pessoas que entravam e saíam, os antigos funcionários. Lembrava-se de seus rostos, sempre concentrados diante do trabalho, e se comportando com leveza na convivência social dentro do escritório.

Outra forma de reconhecimento era por meio dos crachás, cuja corda que os mantinha pendurado nos pescoços fora customizada com a marca do Grupo. Ele não viu muitos crachás.

- O que o senhor pretende fazer, Don Santini? - perguntou um dos soldados, percebendo que por trás do ar sempre sério e frio, havia uma nuvem de consternação. – Não temos homens suficientes para atacar o prédio-

- Ninguém vai invadir nada. Esse bastardo transformou a empresa da minha família em uma fachada para o tráfico de drogas. Teremos de destruir tudo pra reconstruir tudo. Vamos logo embora, eu odeio ficar escondido nesse carro horrível, popular. Odeio carros populares.

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