XI

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Quarta-feira é dia de "Glacial", e temos um capítulo no dia oficial, com um almoço...

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O restaurante localizado no bairro da Barra situava-se em um elevado no calçadão da orla, com uma visualização bastante privilegiada tanto das pessoas na praia quanto de quem praticava atividades físicas na calçada. O mar da orla Atlântica levava a brisa marinha e o cheiro de maresia para do restaurante – mas os frequentadores que se sentavam às mesas em frente à janela não sentiam diretamente, já que estava apenas encostada, deixando uma fresta para a passagem de ar.

A especialidade do restaurante eram os frutos do mar, entre peixes de água doce e água salgada, além das deliciosas moquecas.

Era um cenário bastante sofisticado e até mesmo íntimo para um jantar que se pretendia uma reunião de negócios. No entanto, uma das duas pessoas ali estava decidida a iniciar algo mais.

- Fique à vontade para escolher primeiro e me indicar os melhores pratos.

- Hmmm... Podemos começar por... – Mercedes passou os dedos pelo cardápio em braile, e ficou muito agradecida pela sensibilidade de João Manuel em chamá-la para almoçar em um restaurante que oferecia aquele tipo de cardápio. – Que tal um tartar de salmão?

- Parece-me perfeito.

- O prato principal... Que tal uma moqueca? Com dendê.

- Qual o marisco?

- Camarão.

- Uma boa pedida. Vou olhar a carta de vinhos... Sei que não bebe, mas beberei pelos dois.

João Manuel sorriu, mostrando as covinhas na bochecha, sempre com sua aparência despojada e simpática. Manteve a barba por fazer – que parecia sua maior característica na aparência – mas os cabelos pretos se encontravam penteados para o lado, algumas mechas caindo pela testa, deixando-o ainda mais charmoso.

Estava à vontade com uma calça social preta e a camisa de mesmo estilo, com dois botões abertos, no tom verde-petróleo. Parecia ter combinado com Mercedes, que optou por um vestido verde, com um ombro de fora, mostrando o colo, a roupa descendo até o tornozelo. O rosto, com apenas o indefectível batom vermelho, estava destacado pelos cabelos penteados para o lado – justamente o mesmo com o colo exposto.

Mantinha os óculos escuros no rosto, mas não eram Ray-Ban, e sim um modelo de armação redonda.

Algumas pessoas observavam o casal com curiosidade, em especial a garçonete, surpresa e em choque pelo fato de que aquele homem bonito e elegante almoçava com uma mulher que ela considerava "abaixo do nível dele" por ser cega. Tanto que, na hora de anotar os pedidos, focou apenas em João Manuel, de maneira simpática demais, ignorando as palavras de Mercedes. Porém, o investidor percebeu logo o comportamento da garçonete e reagiu:

- Minha acompanhante também deseja fazer o pedido. Pergunte a ela também.

- Ah... Peço desculpas... Senhora, já deseja pedir a entrada?

Mercedes se alimentava com calma, tateando cautelosamente a torrada e buscando uma colher ao seu lado. Tateou mais um pouco e encontrou um pote, inferindo ser o patê. Colocou uma quantidade na torrada e a levou à boca, discreta. João Manuel aguardava a jovem terminar a sua parte para buscar a torrada e o patê, mas usando uma colher própria. Ele percebeu que Mercedes deixava o talher e os pratos em uma posição a qual ela saberia onde encontrar, e considerou interessante a independência da contadora.

Interessante e encantador. Era uma mulher que tomava decisões próprias e de personalidade forte, mesmo com as pessoas a subestimando. Precisava dela em sua empresa, mas não apenas trabalhando para ele.

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