IX

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Terminei o capítulo morrendo de sono, desculpas antecipadas se tiver algum erro :)

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Mercedes Gonçalves se mexeu aqui e ali na cama, sentindo o conforto do móvel, envolvida em cobertas que a aqueciam; era possível sentir o quarto bem frio graças ao ar-condicionado.

Aquilo fez a jovem estranhar: seu quarto não tinha ar-condicionado - apenas um ventilador de teto: seu pai até sugerira, quando eles se mudaram para o Complexo, que instalassem em seu quarto o equipamento, mas a então adolescente recusou.

Estava definitivamente muito frio e a contadora não se furtou a ficar ainda mais encolhida debaixo das cobertas, aninhando-se mais para o meio da cama.

De repente, Mercedes sentiu uma barreira na cama, como se a impedisse de prosseguir em sua movimentação. Ela percebeu que era uma barreira quente, e aos poucos, a tateou, buscando entender o que estava ali ao seu lado.

Foi então que ela entendeu: não se tratava de uma almofada. Era muito quente para ser uma, e havia uma pele ali. Uma pele com cicatrizes, linhas que ela conseguia definir como sendo partes de um peitoral, mamilos masculinos, além dos gominhos de um abdômen... Para sua surpresa, era um corpo masculino.

Ela retirou as mãos rapidamente, imaginando que havia feito alguma coisa errada.

- Saiba bem para onde está direcionando esta mão, signorina Gonçalves...

A jovem ficou assustada, em especial por conta do tom de voz que não dizia nada sobre sua reação aos toques curiosos da contadora.

- Ai meu Deus... Eu... Eu não me recordava de que tinha dormido aqui-

- Pois deveria, estava muito à vontade tomando todo o espaço de minha cama. - Mercedes sentiu uma das mãos de Vittorio Santini segurar seu pulso, mas com uma estranha gentileza que não parecia inata ao mafioso; enquanto a outra seguia até o rosto da jovem, e ele não se furtou a colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. - Bom dia, signorina Gonçalves, espero que tenha apreciado seu castigo.

Ela estava envergonhada, ao mesmo tempo em que aquele movimento tivesse despertado uma curiosidade maior do que seu conhecimento prévio do corpo humano. Seu pai, seu bom pai, pedira a um escultor que construísse uma estátua, um manequim masculino, para que Mercedes soubesse como era o corpo de um outro homem. Ele queria que a jovem tivesse pleno conhecimento da anatomia humana para não ser enganada ou vítima de armadilhas.

Mercedes admitia, no entanto, que aqueles movimentos a afetaram mais do que ela imaginava. Nunca, em tempo algum de sua vida, imaginou estar tão perto do capo dei capi com tamanha familiaridade, uma intimidade que ela não deveria ter. Mas sua curiosidade acabou tomando espaço - e talvez, no fundo de seu coração, não apenas aquilo.

- Peço desculpas em dizer isso, signor, mas não deveria ter me levado até seu quarto para que eu dormisse aqui. - Mercedes tentou se impor naquela situação confusa. - Eu sou a contadora, devo me comportar de acordo, e manter minha imagem.

- Pouco me importa o que os outros pensam de você, eles são ridículos. Mas está correta. A senhorita é uma figura importante da máfia e deve ser respeitada com a deferência que merece. Eu estava muito irritado e odeio quando alguém não cumpre minhas decisões.

- Mas... Signor Santini, eu tenho o costume de tomar chá quando estou com fome em horários indevidos-

- Vou reformar o segundo andar e abrir uma cozinha para você. Assim não testa minha paciência.

- Creio ser um pouco... Excessivo? - a jovem suspirou. Ela podia sentir a respiração de Vittorio bem próximo dela, todo o corpo dele a poucos centímetros. Para completar, ele continuava a mexer em seus cabelos, e aquilo gerava sensações que Mercedes considerava proibidas em sua posição dentro da máfia. - Eu gosto da cozinha no primeiro andar, e é sempre bom trocar ideias com Marieta e Batista.

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