XXXII

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Atrasada, mas já revelando que este capítulo terá algumas das coisas que talvez Mercedes esteja esperando...

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Mercedes entrou.

Parou no hall de entrada da sala.

Respirou fundo, ignorando os gritos e correria do lado de fora, e ouvindo os passos cada vez mais distantes. Encontrava-se sozinha na sala, um ambiente que outrora ela sabia como circular com facilidade; mas agora, Mercedes precisava agir com cautela.

Ela só conhecia o ambiente interno e a disposição modificada da casa Santini - agora pertencente a Saulo - porque Carmela Bacchi explicara tudo à jovem, durante a criação e imersão de Mercedes na maquete da casa.

"Ignore os barulhos", pensou a Signora da Máfia, caminhando lentamente, consciente de onde pisar, onde circular, e por onde não andar. Mesmo com os sapatos cobrindo os seus pés, Mercedes sentiu que a textura do chão era diferente. Parecia felpudo, volumoso. "Ele colocou um carpete na sala", avaliou.

Caminhou com mais lentidão, porque de acordo com a maquete, a alguns passos da jovem havia um sofá. Sua aproximação foi pé ante pé, e tocou ligeiramente no sofá á sua frente.

Mercedes preferiu andar de lado, dando uma volta pelo sofá, ainda ouvindo os gritos, sussurros e murmúrios ensandecidos de soldados pertencentes a ambos os lados, gritando e reclamando entre si. Mas a pessoa cuja presença ela queria naquela casa não era um dos soldados ou empregados.

Assim que ela descobriu o final do sofá, Mercedes caminhou até onde lá sabia ser a escada que levava para o ambiente à direita, com os quartos. Não tinha costume de subir as escadas da casa (sua parte da mansão era acessada via elevador); por isso, precisava ser extremamente cautelosa em seus próximos passos.

Com a mão livre, Mercedes subiu um degrau e deu um ligeiro chute no degrau posterior para sentir onde poderia pisar. Antes de completar a subida, deu um outro chute com outro pé a fim de sentir a distância. Para evitar quedas ou acidentes, subiu com a mão no corrimão e respirou fundo. O clima naquela casa estava muito esquisito, o silêncio e a ausência de Saulo faziam Mercedes se preocupar se o plano daria certo.

"Depois eu avalio isso", concluiu a jovem, finalmente chegou ao primeiro andar da mansão. Quando chegou ao corredor, uma espécie de parede se interpôs entre ela e seu destino.

Não era uma parede de concreto e sim uma parede humana.

- Não acredito que... Você veio diretamente para a minha mansão.

- Saulo? – Ela deu um passo para trás, porém ele a segurou, já que os degraus estavam a outro passo.

- Eu mesmo. Como você chegou até aqui, qual... O seu objetivo, Mercedes?

A contadora queria entender o que havia por trás do tom de voz usado por Saulo, mas ele não parecia indicar nada.

- Na verdade, estou fugindo dos tiros e do ataque dos seus amigos contra mim.

- Subindo ao mesmo andar onde durmo?

- Você acordou, não é mesmo? Eu conheço essa casa muito bem, Saulo.

- Conhece então o caminho para meu quarto?

Ele tentou segurá-la pelo braço. Porém Mercedes foi mais rápida e o empurrou com o corpo. Ela estranhou que Saulo não a interrompeu: na verdade, ele desviou-se da jovem e passou a segui-la a uma velocidade menor.

- Pode correr, mas não se esconder, Mercedes...

"Ele está confiante de que vai me achar... Poverino..."

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