XIX

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Faltava uma semana para o casamento entre Saulo Pancetti e Carmela Bacchi, e todos na mansão Santini estavam em polvorosa, cuidando da organização do grande evento que finalmente faltava para confirmar o novo líder da famiglia.

O casamento ocorreria no jardim dos fundos da casa, próximo à piscina, onde de acordo com as ordens de Saulo, a piscina estaria repleta de pétalas de rosas; a noiva caminharia por um tapete também de pétalas de rosas, e tudo seria realizado ao ar livre, com todo o luxo e a ostentação que o nome dele merecia.

Estranhamente, Carmela não parecia muito empolgada com o casamento como se esperava. Todos na máfia conheciam a jovem como alguém obcecada pela ideia de contrair matrimônio com o capo dei capi, e o novo comportamento da jovem causou espanto entre muitas das princesas da máfia.

- Você finalmente vai casar com o capo dei capi... – comentou uma. – Não é Vittorio Santini, mas é tão bonito e poderoso quanto!

- Não acredito que está com essa cara de velório, Carmela! Você será a Siginora da Máfia, a Primeira-Dama! Deveria estar contente!

Carmela não se importava com as opiniões das amigas. Para a jovem, o casamento dela significava uma tortura. Seu pai mal se importava com seu destino, ou a forma como Saulo a tratava; Don Pancetti não raro costumava apertar seu braço, ou humilhá-la constantemente. Não se imaginava, contudo, casada com Vittorio caso um dia ele retornasse para reclamar seu poder. Porém, ela avaliou que, jogada de um lado a outro naquela disputa de poder, dentro da máfia era apenas um peão.

- A festa será para causar inveja a todas as outras famílias... – comentou Saulo, durante um dos ensaios para a cerimônia, que incluía o casal andar pelo jardim mostrando o anel de casamento para todas as máfias presentes. – Espero que tenha selecionado um vestido à altura.

- Mio babbo já deu encaminhamento, signor...

A resposta de Saulo foi um riso galhofeiro.

- Está tão animada para este casamento quanto um condenado para a cadeira elétrica. – segurou o braço de Carmela com força, e ela sabia – teria de cobrir as marcas roxas (ele apertava para fazer valer sua força, ferindo, machucando, magoando) com maquiagem ou roupas de manga longa, que eram a pior decisão possível quando se morava no Litoral Norte da Bahia.

- O que quer que eu diga – que sempre foi um sonho me casar com você?

- Não se faça de mulher apaixonada que este não é seu padrão. Você sempre quis o poder e a influência. Agora terá.

"A que custo, Dio Santo? Ele é cruel, mesquinho, e com sede de destruição!"

A única coisa que ela queria era se livrar daquela voz que lhe irritava, a voz de Saulo, ordenando, provocando e a humilhando. Não quis mais retrucar, preferiu continuar assentindo às ordens dele, sem emitir nenhuma opinião.

Nem mesmo o vestido foi uma opção dela. Era um modelo vintage, que lembrava um pouco o vestido de casamento de sua própria mãe: o decote canoa, o vestido branco em tons perolados, a saia descendo um pouco rodada até o chão, cintura marcada e um certo bojo em cima, erguendo os seios. O véu era diáfano e transparente, ficando preso com uma tiara de brilhantes, e descia até o chão, causando um efeito de realeza.

Porém, Carmela não se sentia exatamente uma monarca.

- Este é um modelo belíssimo, Signorina... Adere perfeitamente ao seu corpo e possui elegância inata!

Carmela agradeceu silenciosamente, mas não tinha razões para entreter a modista. Ela queria sumir, não mais casar com Saulo ou, se pudesse, fugir para Salvador e dar um jeito de se virar por lá.

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