XXIX

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Acho que esse capítulo é curtinho porque vamos construir os momentos finais da história, que provavelmente serão mais longos...

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- Peço desculpas, capo, mas Saulo Pancetti está enlouquecido aqui na porta da mansão com uma arma. Podemos matá-lo?

A informação passada pelo soldado parecia música aos ouvidos de Vittorio Santini. Ele tinha certeza de que Saulo estava ensandecido, porque mais uma vez, seus planos deram errado. O hotel de Subaúma jamais seria lucrativo novamente; ele ficou com fama de pessoa ligada ao tráfico de drogas; e muito provavelmente devia estar dando voltas em torno de si para encontrar Marcello, desaparecido de maneira conveniente para Vittorio.

- Eu ainda defendo que você deveria liberar os soldados para matá-lo. – a voz de Mercedes tinha um ligeiro tremor, disfarçado por uma certa contundência, reforçada por seu timbre baixo natural.

- Quero que ele sofra. Que perca tudo. E depois de perder tudo, que venha até mim para que eu possa torturar esse bastardo em paz.

- Temo que em algum momento ele consiga virar o jogo e ganhar alguma das batalhas, Vitor.

- Enquanto o imbecil está indo, eu já voltei, bella.

Vittorio estava irredutível; a contadora foi voto vencido. Porém, os dois não sairiam juntos da casa, como uma unidade, a fim de provocar Saulo: o próprio capo dei capi seguiu sozinho, descendo as escadas de dois em dois degraus, arma em punho. Ao pé da escada, alguns soldados já o aguardavam, a postura firme e altiva de quem estavam preparados para qualquer ordem de seu chefe.

Aquela era a forma que Vittorio encontrou para mostrar poder, em especial diante de um Saulo que caminhava de um lado a outro do hall de entrada bufando, os pés batendo no concreto com força desmedida.

- Acho melhor ficar calado e aquetar o facho, porque daqui a pouco a polícia aparece e te prende, Pancetti! – cada palavra era dita com gosto, como se ele estivesse saboreando as sílabas. Em breve, Saulo não seria apenas interpelado pela justiça; ele seria perseguido, e ficaria bem complicado para ele esconder suas verdadeiras intenções, quem realmente era.

Vittorio, por sua vez, não se preocupava – riu diante da imagem de Saulo apontando a arma em sua direção, sem se importar com os outros revólveres concentrados nele.

- Você realmente quer me matar, maledetto? Com a polícia no entorno?

- É bom que levo você e todos vão saber quem é o honestíssimo empresário Vittorio Santini... Que homem de bem anda com esse bando de capangas?

- Capangas? Há! Eles são seguranças bem treinados! Sou um homem rico, minha vida e a de minha família estão sempre em perigo. Preciso dos melhores para me proteger.

- Por que você não manda esse bando de descerebrados saírem e a gente se resolve no mano-a-mano? Covarde, medíocre! Sempre colocando seu grupinho de seguidores na frente como escudo!

- Famiglia, meu caro. Você não entenderia. Agora é melhor sumir e procurar seu futuro sogro Bacchi, que eu não vi em lugar algum desde a manhã...

- Maldito... Eu vou acabar com você, vou te matar, desgraçado!

- Continue gritando que logo até a Polícia Federal te ouve e te busca via helicóptero. Cuidado que eles adoram prender as pessoas quando acordam. Imagina, Pancetti, ser preso de pijamas?

Gargalhou, enquanto adentrava a casa outra vez, protegido por um escudo de soldados que ainda mantinha as armas direcionadas ao inimigo.

Seu maior inimigo estava certo. Saulo precisava manter a discrição, porque caso a polícia pesquisasse ainda mais, descobriria todas as suas falcatruas, e até mesmo os seus parceiros do Rio de Janeiro seriam expostos. Ele tinha outras prioridades, e a principal era derrotar Vitório, bem como encontrar Marcello, que ele tinha certeza – fora sequestrado por alguém da famiglia.

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