Estamos Namorando?

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"Será que estamos namorando?" bem, esse era o pensamento que veio na minha cabeça quando fui dar bom dia a Patrícia logo de manhã e o irmão dela pontuou isso.

Foi meio esquisito mas dá pra entender sabe... Eu me sinto próximo o suficiente pra abraçá-la, ela já fez isso comigo várias vezes, e sabe... Tudo nela é tão convidativo pra um abraço que me deixa meio besta.

— Não fala besteira, Nicolas, termina o café antes que eu te bote pra limpar o jardim — Patrícia ameaçou mas eu já tinha me afastado dela uns dois passos só com a menção ao namoro, eu tenho um horror a isso desde sempre — E você para de brincar com a comida

Miyazaki caminha até a irmãzinha pra repreender a garota, a luz forte já tinha parado de incomodar os meus olhos... Mas, eu acabei reparando em uma coisa... Eu nunca nem passei por um ambiente assim, mesmo tendo dormindo na casa dos meus amigos... Nunca foi desse jeito, sempre tinha algo que me dava raiva ou vontade de ir embora, na casa do Mikey, por exemplo, o cheiro de queimado lá me estressa... O extremo caos que é causado pelas irmãs do Mitsuya também me estressa mas sabe... Eu não acho que seja culpa específica de algo ou alguém mas... Ela não estava em nenhum desses lugares

— Draken, você tá bem? — sai da minha distração com seus olhos castanhos claros bem perto dos meus, colocando suas mãos em meu rosto, ainda fico surpreso em como são pequenas mesmo com dedos tão longos — Não tá com fome?

Minha experiência com Patrícia Miyazaku : Nunca, jamais, em hipótese alguma, diga que está sem fome... Ela vai ficar muito chateada e a carinha chateada dela quebra o coração de Buda!

— Quem fica sem fome sentindo o cheiro das coisas que você faz, Miyazaki? — eu sorri pra ela que já se tranquiliza, vou me sentando em uma das cadeiras livres da mesa perto de Mako e de Nicolas.

Foi bem legal provar bolo de cenoura com cobertura de chocolate, eu nunca tinha pensado nessa combinação... Sempre comi com creme de manteiga, o que transforma em um bolo mais pro salgado e nada verdadeiramente doce, eu achei que era uma receita da Patrícia até ela me dizer que era uma receita extremamente comum no Brasil... Sério, esse país faz coisas deliciosas.

— Kenzinho, eu vou levar as crianças na Dona Kikotsu... Elas vão pro clube com ela, já tô voltando... Pode tomar um banho se quiser — ela sorri docemente enquanto carrega umas duas bolsas que eu acho que entortariam meia dúzia de caras da rua — a casa é sua

Dizendo isso ela sai levando as crianças.

A casa é minha... Tá aí uma coisa que eu nunca vou sentir, qual é? Que futuro eu tenho?
Vou acabar morto, ou preso, ou vivendo em um apartamento com paredes finas apodrecendo até morrer. Eu não me concentro nos estudos e nem quero uma faculdade, talvez seja isso que me faz ficar tão preocupado com a Patrícia... Eu não quero que algo dê errado pra ela, qual é? Qualquer maluco que se casar com ela vai ter sorte, uma garota que tão nova já é mais mulher do que metade das burguesinhas do Japão...

Enquanto pensava isso estava paradão no meio da sala, olhei pros lados e suspirei... Eu nunca seria o maluco de sorte dela, mas vou fazer de tudo pra que ela não precise de maluco nenhum pra se manter também.

Balanço a cabeça pra espantar os pensamentos e subo as escadas com as mãos nos bolsos da calça emprestada, tomei um banho quente sem demorar muito, mas assim que sai do chuveiro reparei que tinha esquecido das roupas no quarto de hospedes, rezando pra patrícia não estar no corredor de cima, sai só de toalha.

Mas como todo castigo pra pobre é pouco, ela tava lá sim... Inclusive com as minhas roupas nas mãos.

— Dra-ken — as bochechas dela estavam vermelhas e todo ar parecia ter simpatia escapado de seu redor, eu não posso falar nada... Acho que tô igual — Eu estava indo levar isso pra você, desculpa

Ela pressiona as roupas contra o meu peito, pego com a mão que não estava segurando a toalha e por alguns segundos os dedos dela encostam em meu peito nu... Eu não me incomodei... Mas a minha cara ardeu de uma maneira que parecia que eu tinha passado 72 horas ininterruptas no sol.

— Va-leu — disse lentamente sem saber o que fazer, Patrícia simplesmente deu um passo pro lado e entrou em seu quarto, eu corri e entrei de volta no banheiro.

Passado momento constrangedor, nós conseguimos até rir disso.

— Você viu a sua cara? — Patrícia diz se acabando de rir enquanto aparentemente me imitava.

— Eu tava pelado! — tento justificar a cara esquisita enquanto não posso parar de ir, o jeito engraçado dela deixou o momento constrangedor... Não constrangedor.

— Minha nossa senhora da toalha, ainda bem que você não tinha esquecido dela... Eu ficaria cega se tivesse até te ver como veio ao mundo — ela diz obviamente debochando de mim enquanto enfia as coisas em sua mochila... Ela aparentemente teria um dia cheio hoje.

— Mentirosa, você ia acabar babando, isso sim... Ficou apaixonada no tanquinho que eu sei — eu falei zoando, sabe... Eu tava tão morto de vergonha que nem reparei se ela me olhou de verdade!

— Eu? Me apaixonar por essa pança que você chama de barriga — ela gargalha com deboche — Jamais.

Finjo me irritar e vou pra cima dela, a abraçando e tirando seus pezinhos do chão, ela gritava e ria ao mesmo tempo.

— Me diz quem é o gordo agora — Falei apertando ela contra mim, mas acabei que eu mesmo me enrolei... Ela era mais bonita ainda de perto.

— continua sendo você, só que você é gordo, forte e grande, Kenzinho — Ela fala debochando mas reparei que suas bochechas ficaram vermelhas, eu larguei ela no chão

— Vai trabalhar vai — Digo me afastando e soltando um longo suspiro.

— Eu estaria fazendo isso se alguém não tivesse aparecido pelado na minha frente — ela fala sorrindo um pouquinho enquanto apanha a mochila que caiu no chão — Ah sim, eu dei um trato na sua moto hoje de manhã

Ela sorri pra mim, me da um beijinho na bochecha e mete o pé, dizer que parei de sentir ela por perto era menyira... Tudo nessa casa cheirava e tinha o jeito dela, gritavam seu nome sempre que você passava por um móvel qualquer... Daqui a pouco vou me tornar um desses itens, pra isso não acontecer eu já vou metendo o pé.

Fui na garagem buscar minha moto, na hora que vi o melhor veículo do Japão ele tinha se tornado duas vezes melhor... Cara, a pintura da minha moto tava parecendo um espelho... Santa Patrícia.

Nesse momento eu voltei a pensar, belo momento pra se distrair hein, enquanto pilota uma moto bem acima do limite de velocidade... Que se foda, é o momento que me ajuda a pensar, o vento batendo na cara acaba levando pra longe pensamentos menos importantes e deixa o que eu estava com vontade de refletir... A minha relação com a Patrícia voltou a martelar no meu cérebro.

"O que configura um namoro?"



A Dama e o Dragão - Ken Ryuguji ( Draken) Onde histórias criam vida. Descubra agora