Algo

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"Como alguma coisa pode ser tão difícil?"

Draken não tinha a mínima ideia do que aconteceu com as crianças, mas tinha certeza que estavam mortas... Ele sentia isso dentro de si agora enquanto seu coração se quebrava vendo gotinhas de sangue na fronha do travesseiro de Makoto. Como eles não tinham reparado nisso?

Ken honestamente não queria imaginar as coisas ruins que podem ter acontecido com aquela garotinha de cabelos curtos e preto e rosto adorável, preferia se lembrar das vezes em que a pos na cama, acariciou seus cabelos enquanto assistiam desenhos e liam livros infantis bobos... Todas as vezes que ele se sentiu um pai

Visitar o quarto de Nicolas deixou seu peito tão apertado, ele era um menino incrível e protetor... Gostava tanto das irmãs e era engraçado, criativo...

Foi quando ele sentiu raiva, quando ele quis gritar e socar coisas, uma torrente de loucura que tomou seu corpo por instantes delirantes,

"PORQUE ESSA MERDA TÁ ACONTECENDO? O QUE A GENTE FEZ PRA MERECER ISSO?"

Incrivelmente enquanto Draken descia as escadas ele não conseguia bater em nada, corrimão, paredes, nada... Ele apenas segurou os cotovelos perto do corpo... Ele não fez seu único trabalho protegendo essas pessoas?

Foi dolorido, Ryuguji não sabia se queria contar isso a alguém... Só a Blue sabia e não tinha certeza se ela abriria isso pro Mikey ou mais alguém.

Mas parecia magia, uma conexão, o telefone dele tinha tocado e rapidamente pôde ler o nome de Mitsuya no visor.

— Fala, Mitsuya — Ken falou roucamente, sua voz parecia ter envelhecido décadas.

— O que aconteceu? — ele já tinha entendido que algo aconteceu.

Mitsuya acabava sabendo mais que Mikey do relacionamento de Patrícia e Draken, afinal ele pacientemente escutava o garoto contar sobre os detalhes mais idiotas de uma rotina que era quase de casal, Takashi também tinha dado a Ken muitas dicas sobre como cuidar de crianças e como lidar com birras... Todas ajudaram muito, principalmente com a Mako.

— Mitsuya... — Draken engoliu seco, dizer parecia tornar aquilo real — O pai... Da Makoto... Matou... Os... Dois — nunca na vida inteira, Ken tinha sua voz tremendo tanto, ao menos era bom que a pessoa a ouvi-lo assim era alguém compreensívo como Taka.

— O que? — o loiro não podia ver o rosto do amigo mas podia imaginar seu rosto no momento, os olhos arregalados e sobrancelhas levantadas.

— Eu também não sei muita coisa... Tô esperando a Patrícia acordar melhor e me dar alguma explicação — O loiro passa as mãos pelos cabelos que já estava soltos e desgrenhados.

Eles falaram por alguns instantes, isso ajudou Draken a pelo menos sentir as coisas de uma maneira menos destrutiva, além de ter certeza que se o lance de moda na vida de Mitsuya não desse certo, ele poderia tranquilamente cuidar de psicologia.

— Sério, se precisar de qualquer coisa, pode me ligar... — Taka dizia isso mesmo que os dois soubessem que Draken dificilmente pediria ajuda e que Mitsuya ligaria periodicamente para verificar.

— Valeu cara... Tô ouvindo barulho lá em cima, ou subir. Até depois — Draken desligou e subiu as escadas em total velocidade.

No quarto, ele encontrou Patrícia sentada na beira da cama com os pés no chão, olhando pra baixo, ela tinha acabado por derrubar o abajur.

— Oi Ken — Ela diz com a voz meio rouca.

— Oi amor — o loiro se senta ao seu lado e abraça a namorada.

A sensação foi de acolhimento, os dois se sentiram compreendidos, estavam perdidos em um mundo que havia feito algo cruel a quem amavam. Mas teriam que superar, foi nessa situação que Miyazaki explicou para Draken o que aconteceu de fato... E também o que viu.

O loiro ficou enjoado, não fazia ideia de que as crianças não estavam mais vivas enquanto ele viveu sua vida normalmente.

— Eu não sei mais o que fazer, Draken... Parece que não tem mais sentido fazer nada — Patrícia esfregava os dedos de Draken com tanta força que eles começavam a se avermelhada.

— É... Eu acho que esse sentimento vai durar por bastante tempo, vai amenizar, aí podemos lidar com isso juntos — O loiro sorri, sim, ele tirou forças pra sorrir.

Aquilo soou respeitoso pra Patrícia, seus irmãos eram crianças alegres e não gostariam que a irmã se apagasse pra sempre depois de perdê-los.

Abraçando Draken com força, Patrícia tomou uma decisão silenciosa e que a acalmou.

— Muito obrigado — seu sussurro deixou Draken mais preocupado do que um milhão de lágrimas poderiam ter deixado — Você é incrível.

O loiro recebe um beijinho nos lábios e a namorada se levanta.

— O que tá fazendo? — ele pergunta enquanto Patrícia põe as pantufas.

— Vou fazer um bolo, você quer? — o sorriso que ela deu era tão melancólico que Draken se levantou na hora.

— Sim, eu te ajudo — Ele a seguiu de perto até a cozinha.

Enquanto a garota cozinhava, Draken auxiliou, o silêncio era incômodo mas ele permanecia atento, não sabia o que esperar... Ela agiu de um jeito estranho demais.

Enfim, o bolo saiu, incrível como sempre, com um cheiro capaz de abrir o estômago de qualquer um para pelo menos uns dois pedaços.

Mas ela não se contentou em fazer apenas um bolo e uma cobertura, ela fez vários.

— Por que tudo isso? — Ele diz enquanto põe o forno na temperatura pedida.

— Eu decidi que vai ser o único emprego que vou manter vai ser a venda dos doces — ela suspira, estava mexendo uma panela borbulhante de brigadeiro.

— Não precisa voltar a trabalhar ainda, amor — ele suspira, jogando o pano de prato em cima de seu ombro.

— Eu sei que não... Agora que eu não tenho mais com... O que gastar... Me sobrou um bom dinheiro — o seu olhar castanho estava desatento e opaco, mesmo com as mãos se movendo corretamente, evitando as queimaduras na pele e algo que estragasse o doce.

Ken tentou puxar conversa depois, mas a namorada estava fechada demais, ele entendia e era paciente, apenas sendo companheiro.

Quando eles se sentaram a noite para ver TV, ela pousou a cabeça no ombro dele.

— Como se sente? — o namorado perguntou fazendo carinho em seus cabelos castanhos avermelhados.

— Talvez um pouco melhor... Eu vou voltar a trabalhar amanhã, só espero não ver mais decorações de natal — É, eles estavam próximos do natal, isso podia ser mais infeliz?

— Vou com você, está bem? — uma das mãos do garoto estava nos joelhos dela.

— Tudo bem... Eu espero evitar perguntas de "onde eles estão?" por agora... — A voz de Patrícia tremeu um pouco — Afinal, nem eu sei em qual cova vão parar...

Ela não podia declarar nada da morte dos irmãos, a menos que quisesse parar em um abrigo ou ser deportada do país pra sua família no Brasil. E mesmo que ela denunciasse, a Yakuza estava por trás disso... Nunca venceria.

Esse foi o último tapa na cara de Draken, ele não tinha pensado nisso... Era tão estúpido! Se seus corpos fossem encontrados seriam no máximo sepultados como indigentes em algum lugar.

Os braços fortes dele apertaram Patrícia com muita força, ele derramava lágrimas agora... Não conseguia se manter forte.

A Dama e o Dragão - Ken Ryuguji ( Draken) Onde histórias criam vida. Descubra agora