O Dragão

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Eu trabalho pra caramba, vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana.

Tenho dois irmãos mais novos que dependem só de mim e um pai que só aparece uma vez na vida e outra na morte só pra me causar problemas, com uma vida tão cheia assim... Eu acabei nem me ligando que enquanto eu levava os doces pras meninas do cabaré conheci o vice chefe da Toman que todos tanto falavam... O famoso Draken.

Eu só me toquei ao vê-lo com Mikey pela primeira vez, dizem que isso é mega incomum já que o Mikey só anda com o melhor amigo... Mas todas as vezes que eu vi ele estava sozinho!

Eu só não esperava aquele terremoto, eu não fiquei preocupada com os meus irmãos por ter certeza que eles estão seguros com a minha vizinha, a Dona Myakushi é muito boa comigo e fica de olho nos meus irmãos depois da escola... É óbvio que não é de graça mas é muito mais barato do que qualquer outra coisa.

— Você trabalha pra caramba né?

Escuto o loiro que estava me levando pra casa dizer.

— Um pouco, não tenho do que reclamar

Dou um leve sorriso mesmo que ele não possa ver, estávamos na moto dele e eu segurava a parte de trás do banco.

— Um pouco? Eu nunca vi uma garota que trabalhasse em um lava-jato e vendesse doces.

Draken tinha um jeito meio bruto de falar... Era meio esquisito.

— O trabalho no lava-jato é de vez em quando — dou uma risada — duas vezes por semana eu faço entregas pra floricultura, todo sábado a noite faço faxina em uma das salas do teatro municipal, terça e quinta sou assistente na oficina mecânica do centro.

O domingo é o único dia que eu tenho livre, ele é exclusivamente pra eu repor os doces que vendo todo dia de manhã.

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Pov do Draken.

Porra! Dá pra fazer tanta coisa num dia só?

Espera, ela normalmente vende os doces na hora que eu vou pro colégio...

— Você estuda quando?

Pergunto mas eu ganho uma batidinha no ombro.

— vira a direita

Ela diz gentilmente, estávamos indo pra um bairro normal de subúrbio.

— É a sua casa?

Pergunto quando ela me diz para parar na frente de uma casa, era grande e tinha até uma aparência meio chique mas estava caindo aos pedaços.

— É sim — ela diz descendo da moto, essa garota tem um rosto e um corpo delicados demais pra trabalhar tanto assim — quer entrar? Pra... Sei lá, beber uma água ou talvez prefira ficar pra jantar

Ela se embola com as palavras.

— Eu fico pro jantar se você não se incomodar

Levanto meus ombros, não me chama de folgado porque foi ela que me chamou pra bater um rango!

— não vai incomodar não, meus irmãos vão adorar uma visita pro jantar

Ela vai abrindo o portão.

— Posso por a moto aí dentro?

Pergunto depois de olhar em volta, até meio sem graça já que o pessoal daqui não gosta porque isso dá uma estragada no gramado.

— Claro que sim, bobo — ela move mais os braços do que todo mundo que eu conheço, e sorri bem mais também... Acho que gosto disso — vem entra

Ela entra em casa, no meio tempo que levei pra por a moto pra dentro eu vi as luzes da casa se acenderem e ouvi ela gritando do segundo andar para a casa ao lado em uma lingua que eu não entendi bulhufas.

Eu entrei na casa e reparei que era um lugar com tudo muito velho, os móveis bem puidos e tudo mais mas tudo mega limpo e organizado... A casa era bem cheirosa inclusive.

— Draken, eu tô na cozinha — ouço a voz dela... Ok, ela grita bastante... Cordas vocais bem fortes — se quiser, vem cá

Eu fui atrás dela, a menina já tinha trocado de roupa, eram roupas super simples de ficar em casa e um avental vermelho, os cabelos presos em um rabo de cavalo enquanto tirava as coisas da geladeira.

— Casa legal — Digo com as mãos nos bolsos, qualquer casa é legal pra mim que nunca tive uma de verdade — bem arrumada.

— valeu! — ela olha para mim por cima do ombro com um sorriso lindo de verdade — é meio complicado manter assim mas dá certo.

Eu estreitei meus olhos, ela vive aqui sozinha com os irmãos? Cadê os pais dela?

Eu não pude perguntar já que no momento seguinte a porta se abre e os passos são escutados.

— Patty!

Um garoto e uma menina entram na sala, o menino não parecia muito mais novo que a irmã e a menininha deveria ter no máximo uns sete anos.

O garoto tinha um corte de cabelo parecido com o do Mikey quando eu o conheci, mas a cor dos cabelos eram os mesmos da irmã com a diferença que seus olhos eram verdes tipo figo.

A menina tinha os cabelos pretos amarrados em duas Marias chiquinhas com lacinhos vermelhos, diferente dos irmãos, seus traços eram bem orientais.

Voltando, os dois congelaram por alguns segundos ao me ver.

— Eai! — o garoto foi o primeiro a vir falar comigo, já me estendendo a mão pra cumprimentar — tu é o Draken da Manji né?

Ele tinha um jeito bem parecido com o da irmã.

— Sou eu mesmo — digo sério, mas surpreso... Eu tenho que contar pro Mikey quanto a gente tá famoso por aqui nos arredores — qual o teu nome, Pivete?

Eu tô realmente interessado nessa galera, eles tem um jeito legal

— Nicolas!

— Irado

Dou um sorrisinho, era um nome complicado também.

— E eu me chamo Makoto — Eu reparei na hora como ela falava mais baixo que os irmãos — prazer em conhecer você.

— pessoal, vou liberar vocês de tomar banho agora se fizerem sala pro nosso convidado

Miyazaki diz secando as mãos no avental, as crianças sorriem e me guiam até a sala. As coisas são velhas lá mas igualmente organizadas, os dois nanicos são muito engraçados e contam histórias muito boas.

Com certeza o irmão da Patrícia (nome difícil da porra) queria muito que estivessemos namorando, eu neguei todas as vezes... Eu nem penso em namorar, tenho coisas mais importantes.

(N/A : entendam como : Toman , cuidar do Mikey e brigar)

A comida era muito cheirosa e quando estava perto de ficar pronta todos fomos convocados pra arrumar a mesa... Eu estou incluso no todos.

— Eu sou o convidado!

Tento questionar.

— É convidado mas não tá com o braço quebrado

Ela respondeu rindo e me entregando os pratos, eu gostei disso... É engraçado mesmo.

Eu comi a melhor comida da minha vida, eu nunca tinha visto arroz preparado assim! A gente também comeu em talheres ocidentais também.

As crianças vão tomar banho depois do jantar, enquanto isso Miyazaki vai recolhendo as louças e eu ajudo.

— Deixa que eu lavo

Me ofereço, que ninguém da gague me ouça.

— Não precisa... Se quiser, pode ir secando

E lá fui eu ter mais uma conversa agradável, era um clima de casa tão bom que eu nunca tive na vida... Foi uma noite muito boa.



A Dama e o Dragão - Ken Ryuguji ( Draken) Onde histórias criam vida. Descubra agora