Negação

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Sair de lá foi quase místico, Miyazaki não disse nada, ignorou Takara e começou a andar pela rua, ombros curvados e a olhos focalizados só e  unicamente no chão.

— Me larga, por favor — ela sentiu os dedos finos e delicados de Takara se entrelaçarem em seu braço.

— Eu não posso te deixar sozinha, não nesse estado —  a amiga parecia preocupada de verdade.

Patrícia concordou com a cabeça não se perguntou como Takara havia descoberto aquilo, mas era grata pela garota ter a impedido de ir sujar as mãos ainda mais sem necessidade, seus irmãos já estavam mortos de qualquer forma.

As duas cruzaram a cidade basicamente a pé em um silêncio cepruco, o rosto da jovem de cabelos castanhos avermelhados era livre de qualquer expressão real, qualquer sentimento além do vazio negro, sua pele estava pálida e os olhos pareciam poços sem fim, sem esperança.
Enquanto o rosto de Takara era de dor, ela não tinha nada a ver com os irmãos de Patrícia, pouco ela os tinha visto. Mas eram crianças inocentes, mais pessoas perdendo a vida por causa de pessoas e jogos malucos que disputas de gangue e facções poderiam fazer.

Ao chegar na casa de Patrícia ela destranca a porta, sentindo o ar familiar que nunca mais seria renovado.

— Eu... Posso ficar com você? — a amiga diz apertando o ombro da outra garota.

— Não... Eu prefiro ficar sozinha, também peço que você espere uns dois dias antes de contar para o Draken — ela pensou nisso... Como Draken se sentiria após descobrir?

Sem que Takara pudesse falar ou agir, Patrícia bateu a porta com força. Apoiando suas costas e descendo até se sentar no Hall. Somente aí se permitindo chorar... E ela chorou muito, que nem uma criança, que nem quando ela foi separada da mãe, que nem quando ela viu alguém morrer na sua frente pela primeira vez, que nem quando ela teve que largar os estudos para cuidar dos irmãos, que nem ela chorava de exaustão sempre que uma semana se encerrava, era o choro de que nada disso tinha válido nada.

Suas bases, quem ela mais amou tinham sido perdidos.

Os dias subsequentes foram iguais. Ela apenas se arrastava pateticamente pela casa, sem beber nada, sem comer, apenas sentindo aquela casa vazia e escura.

Takara se sentiu culpada por segurar aquilo, sentia que estava sendo conivente com algo de ruim que pudesse acontecer com Patrícia dentro daquela casa.
Mesmo assim, a garota Kisaki não se sentia capaz de voltar a encarar a garota, ela não era boa para consolar ninguém. Por isso que assim que deixou a casa, ela procurou por Draken, mas estava tudo uma bagunça, ela tinha se desligado por alguns dias e a Toman tinha ficado uma bagunça, as coisas só estavam ficando mais violentas a margem da sociedade.

Exatamente como a vontade de Patrícia, Takara só conseguiu encontrar Draken dois dias depois, só de olhar pro rosto dele ela já tinha começado a chorar, era uma péssima portadora das más notícias.

A jovem de cabelos azuis agarrou o casaco de Ken que a encarou, Ryuguji já havia se sentido meio estranho a dias, mas aquela abordagem lhe deu pensamentos péssimos.

— Makoto e Nicolas... Eles... Estão mortos — ela deu a notícia que caiu como uma tonelada na cabeça de Draken.

No primeiro instante, parecia que ela estava brincando, mas Ken realmente ouviu que ela o tinha procurado antes... Ela queria falar isso... Pessoalmente ainda por cima.

— Como assim, porra? — ele agarrou o pulso da menina de cabelos azuis que simplesmente balançou a cabeça negativamente.

— Vai atrás da Patrícia, me desculpa só ter dito agora — a voz fraca dela despertou Ken para a realidade.

As crianças... Estavam sob a custódia do próprio pai, um homem perigoso que não tinha amor por eles, Patrícia não dava notícias... Isso era cada vez mais péssimo.

Draken nunca descobriria como chegou até a casa de Patrícia com tanta rapidez, o Dragão da Toman havia sido dominado pelo medo enquanto batia seu forte punho contra a porta da casa que a namorada vivia. Tudo estava escuro e seu coração só lhe mandava mais alertas.

Não foi preciso mais nada pra que ele estourasse a porta com um murro e adentrasse a casa, acendendo as luzes.

Nem uma bagunça, vestígio de sangue, nada, assim que o loiro acendeu as luzes da sala viu sua garota encolhida no sofá, abraçando dois agasalhos, um era rosa claro e rosa mais escuro enquanto o outro era de um time preto e branco de futebol.

Então era verdade.

— Patrícia... — a voz dele saiu muito fraca, o loiro correu até sua amada, segurando seu rosto delicado, ela nunca tinha estado tão pálida, seus lábios estavam ressequidos e rachados, o rosto grudava pelas lágrimas — Acorda, acorda.

Suas mãos grandes dão tapinhas delicados em sua pele, fraca e lentamente ela vai abrindo os olhos, eram íris vazias, sem o brilho e nem a cor de quem ele amava estavam mais ali.

— Ken... — ela o abraça, mas novamente ele a sentiu mole em seus braços.

O loiro pegou Miyazaki nos braços e a levou até a cozinha, onde a forçou beber um pouco de água, também fazendo com que ela comesse biscoitos ali. Não era definitivamente algo que Draken conseguia lidar bem, ele nesse momento preferia nem pensar no que deixou Patrícia assim, se não seriam os dois sofrendo. Ele precisava ser forte de novo, por alguém que amava.

Depois que ela comeu qualquer coisa que ele conseguiu dar para ela que estivesse a mão, Draken reparou no estado dela, braços e pernas machucados, rosto arranhado, os cabelos se grudavam pela sujeira, ela também não cheirava bem. Era um estado deplorável que ele entendia bem.

Por isso que o maior a pegou em seus braços e a levou pro banheiro, ele poderia ter mandando que Patrícia fosse tomar banho sozinha, mas realmente duvidou que a garota iria, e se fosse... Ele achava muito difícil que ela saísse de lá.

Engolindo completamente sua vontade de chorar enquanto Patrícia murmurava coisas sem sentido sobre os irmãos, ele tirou as roupas dela, lavou seu corpo e seus cabelos na água morna e relaxante, fez uma massagem delicada em suas costas, que estavam tão rígidas que pareciam hipertrofiadas.

— Meus... Eu... Só tinha um trabalho... Eu tinha que cuidar de vocês... — a voz frágil dela era mais uma faca no coração de Draken enquanto ele secava seu corpo.

Ela tinha os olhos tão sem perspectiva que ele nem tinha certeza que ela tentava falar com ele e não estava alucinando.
Dificilmente ela voltou a si, Draken recusou deixar a namorada sozinha depois de vesti-la, ele a deixou sentada em uma cadeira na cozinha enquanto ele preparava uma sopa, era o melhor que ele pois fazer para manter ela nutrida.

Ele pós o prato na frente da garota na mesa e puxou a cadeira para se sentar bem ao seu lado.

— Obrigada — foi a primeira vez desde que ele chegou que Patrícia o olhou de fato, sem a alucinação, sem os soluços. Mas a face cansada e destruída ainda presente.

— Eu faço o que puder, por você — Enquanto isso ele esfriava a sopa antes de guiar até a boca dela.

Dessa vez, a jovem demonstrou zero resistência para comer, mas foi totalmente alimentada por Ken.

Ele evitou que Patrícia caminhasse, durante o banho ele notou os ferimentos que estavam formados em seus pés, pos sua amada na cama e arrumou os lençóis em cima de seu corpo, fazendo um cafune em seus cabelos levemente úmidos até que ela adormecesse.

Só assim ele se permiu levantar e visitar os quartos dos dois, só assim a ficha caiu de fato... Ele nunca mais veria aqueles dois. Aquelas manhãs de sol, nunca mais aconteceriam.



A Dama e o Dragão - Ken Ryuguji ( Draken) Onde histórias criam vida. Descubra agora