Comédia

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— Kenzinho, você sabe sobre uma facção que tem aqui no Japão... Além da Yakuza? — foi a primeira coisa que a Paty me disse quando pedi pra explicar.

Eu não fazia ideia e disse isso pra ela, eu acho que me assustei um pouco quando ela me explicou o que era.

— É uma facção que fundaram lá no Brasil, lá pra 79... Teve um lance lá em uma cidade chamada Angra — Ela faz uma cara feia e apoia a cabeça no travesseiro. — Eles não são diferentes do pessoal da Yakuza... Bem, talvez eles sejam mais de boa

Ela me contou várias coisas e chegou no ponto de explicar que já usavam crianças pra matar e ajudar nas operações... E eu já entendi, mas como ela conseguiu fazer isso e incobrir tudo depois?

— O que o seu pai quer que você faça, Patti? — Pergunto acariciando o rosto dela, eu me sentia pequeno diante dessa confusão toda.

— Eu não sei ainda, mas deve me querer dando cabo de alguém pra pagar a divida dele... — Ela suspira e o telefone toca — Com certeza lá no Brasil, onde ele não pode nem pisar.

O telefone toca e ela vai atender, eu não entendi nada que ela disse no telefone, eu entendia algumas coisas em português mas a voz dela ficava muito mais marrenta quando falava na língua materna.

— Qual foi? — ela perguntou de cara feia — Porra, na moral, você tá fazendo essas merdas só pra me mandar fazer essa porra? Que se foda, mas você vai me pagar... Se não o próximo que vai ter uma arma no cu é você, filho da puta.

Ela desliga e volta uma expressão doce.

— O que rolou? — Era muito estranho de pensar como ela mudava tão rápido e ficava tão mais doce em japonês.

— Nada não, mas eu vou pro Brasil... Uma visita rápida — Patrícia se senta em meu colo e dá um beijo em mim — Meus irmãos vão estar de volta assim que eu terminar o que fui fazer lá... Fica de olho neles pra mim?

Concordei e abracei minha garota, ela agora não queria me deixar preocupado mas dava pra sentir como ela tava nervosa.

Dormimos grudados essa noite mas na próxima a Patrícia pediu pra que eu voltasse pra minha casa, já que ela tinha umas coisas pra resolver sobre a viagem, eu nunca pensei que o mundo dela fosse mais perigoso, mesmo que seja um mundo que ela não viveu direito, eu pensei que tinha vivido a barra pesada!

— Olha só quem lembrou que tem casa hein!! — Gritou meu gerente quando eu entrei, me fazendo rir.

— Eu só tava passando um tempo com a minha mulher! — Balanço minha mão e uma das garotas passa por mim vestida de Coelha e me da um sorrisinho amigável, eu não sabia que tinha noite das fantasias agora... Bem legal.

O Mikey tava grudado na namorada dele, viajando, enquanto isso o Baji tá de recuperação e tá estudando, o Mitsuya não sai hoje porque ele cuida das irmãs pros pais dele saírem, que droga de amigos... Pera tem o Takemichi!

📞 Doraken-kun! É que... É que não vai dar... Eu vou sair com a Hina hoje!

Eu odeio meus amigos!

Decidi sair por não conseguir dormir a noite e fui parar lá no estúdio de tatuagem do Kiritsu, eu tava entrando quando ouvi alguém falar lá dentro.

— Você aparecer depois de tanto tempo é meio engraçado — Ouvi o Kiritsu falando e dando uma risada, mas ele não parecia divertido.

— Meio engraçado, eu não queria voltar pra esse país nem amarrada, mas fazer o quê? — A voz feminina diz com certo nojo, uma voz que fazia meu coração acelerar sem motivos.

Eu reconheci a sensação, eu ouvi a voz dessa mulher antes... Lá na casa da Patrícia.

— Você era mais humilde antes, Hanabi-Chan — Só pelo tom de voz dele eu percebi a ironia.

— Vai a merda — eu ouvi um barulho meio metálico de depois um longo silêncio — Eu vim pra saber do moleque.

— E você liga pra ele? — Kiritsu pergunta e eu não consigo desgrudar meu ouvido daqui.

— Você não se importa muito, se não teria pego ele pra você — Ela dá uma risada, eu não conseguia detestar a voz dela e isso era estranho, a risada dela era muito irritante.

— Claro, crescer vendo o pai aplicando anfetamina no braço dos outros deve ser incrível — Eu conheço bem esse cara, com certeza ele revirou os olhos depois de falar.

— Uau! Deve ter visto coisas bem piores lá no puteiro que ele cresceu — opa, nessa hora não deu pra ignorar, não tem muitas crianças que cresceram em um puteiro que eu saiba.

— Tô entrando — Digo alto e vou abrindo a porta como se tivesse chego agora.

Fui entrando e assim que abri a porta os dois me olharam como se fosse a primeira vez que me viam de verdade, me senti esquisito.

— Ken Ryuguji — a mulher dos olhos profundos e cabelos pretos bonitos disse num tom como se tivesse acabado de escolher o meu nome.

— Esse aí é o meu nome — Encaro ela que se aproximou, um olhar subitamente doce.

— Não faz isso com ele se vai meter o pé quando der na telha, ele ainda é um moleque — Kiritsu entrou na história e mesmo assim ela toca no meu rosto, me fazendo corar.

— Você é realmente um garoto alto que nem eu achei que seria — Ela olha pra Kiritsu e fala bem autoritária — Se eu for embora de novo, ele vai comigo.

Eu estava confuso, de verdade, mesmo que as peças estivessem na minha frente, implorando para serem colocadas em ordem e encaixadas, eu me sentia prestes a vômitar.

— Vocês estão malucos né? — Acabei me afastando um pouco.

— Você só tá complicando as coisas, Hana — o tatuador fala mas eu parecia estar com a cabeça dentro de um Aquário agora, ouvia tudo abafado e os olhos daquela mulher em mim me deixavam trêmulo.

É muito pra pensar.

Foi quando aquele quebra-cabeça se encaixou contra a minha vontade.

— Me larga — segurei a mão dela que estava em meu rosto, era uma mão um pouco mais bruta do que eu imaginava, ainda me dava vontade de quebrar e esfarelar seus ossos como faria com um pacote de biscoitos mas só pude delicadamente afastar a mão dela de mim — Eu não tenho nenhum interesse em pessoas como você.

Eu nem mesmo me lembro o jeito que deixei o estúdio naquela noite.

Eu sempre pensei muito na minha mãe, principalmente quando eu era mais novo, quando eu ainda tinha sonhos de sair de onde eu vivo. Eu pensava no jeito como iria reagir quando ela aparecesse pra me levar pra morar em uma casa, em nenhum desses sonhos eu ficava bravo com ela e sempre ficava muito feliz por encontrar alguém que devesse se parecer comigo.
Mas dessa vez eu só me sinto como se o meu peito tivesse sido esmagado, os pontos da facada estavam doendo de novo, junto com todos os golpes que a vida já me deu.

Desnorteado, eu fui até a casa da Patti e lá eu vi tudo apagado, ela não estava mais no país.
Olhando para as janelas fechadas e escuras me deixou desesperançoso e vazio, sem saber mais para onde eu queria ir. Me sentei no jardim da casa da Patrícia, pensando enquanto olhava para o céu, pensando nas estrelas e planetas, era como se a minha Patrícia estivesse tão distante quanto essas estrelas estão.

Fui tirado dos meus pensamentos lunares quando vejo alguém entrando no jardim, a forma comprida e de topete já me deixou alerta.

— Ah, então é você que tá aqui — era o Hanma, ele estava segurando umas garrafas de dois litros, de uma delas ele bebe um gole direto da garrafa.

— O que você tá fazendo aqui? — pergunto já hostil, esse cara estava a uns dias rolando na porrada comigo dentro de um ferro velho, não da pra esperar muito de hoje


A Dama e o Dragão - Ken Ryuguji ( Draken) Onde histórias criam vida. Descubra agora