Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.
Chico BuarqueRio de Janeiro - 2016
6:08 da manhã - Sábado - ( 07 de janeiro)Adorava viajar, apenas para se sentir absorto ouvindo Charlie Brown, com os olhos fechados e abrindo eles lentamente quando estivesse chegando em seu destino na qual passaria alguns dias.
Mas agora seria permanente, aquilo lhe assustava, não era um final de semana ou algum feriado, e talvez a vida inteira na famigerada cidade maravilhosa.
Havia observado pela janela do carro a praia de Copacabana sendo deixada para trás conforme o veículo corria, estava quente demais e nem ele nem a irmã de 9 meses no banco de trás usando blusas de frio se prepararam para aquilo.
Em algum momento Aizawa começou a cantarolar enquanto batucava os dedos no volante no ritmo de "azul da cor do mar", ele olhava de vez em quando para Shinsou pelo retrovisor, sorrindo alegremente e esperando alguma reação positiva do filho mais velho. Mesmo o arroxeado estando cansado demais para sorrir, ele completou o trecho, usando da bela Voz tímida e cantando;
" Na vida a gente tem que entender Que um nasce pra sofrer, enquanto o outro ri."
Talvez fosse Tim Maia lhe mostrando como suas canções serviam para todos os momentos mais sórdidos, Shinsou depositou sentimentos na música que nem sabia existir, e Eri riu bateu palmas enquanto Aizawa voltava a cantar tranquilamente.
Dramático demais era o que pensava, por isso acabou evitando prestar atenção na voz do cantor e mergulhou silenciosamente com a música "Vagalumes" pelos fones de ouvido. Estava tudo bem contanto que Aizawa e Eri se sentissem bem, mesmo o arroxeado não ficando na mesma situação enquanto Tim Maia ressoava pelo carro e outros cantores de Bossa nova tocavam em sua vida.
No fim da música o carro começou a entrar em uma zona fechada de Copacabana, haviam Palmeiras e o verde rodeava completamente a estrada por onde passavam. Os olhos do rapaz se arregalaram ao capturar cada extensão do lugar até dar numa enorme casa de praia. Aizawa comemorou e Eri fora no seu alcance se agitando na cadeirinha, mas para Shinsou aquilo era claramente uma mansão isolada com campo de futebol, aberta e de dois andares. Sequer mencionaria as duas piscinas na frente, e a segunda por parte das explicações do pai, que reguardava na parte de trás. Era um tremendo exagero para três pessoas viverem ali.
Logo o veículo parou em uma das três vagas particulares, a voz animada no rádio zombando do calor de Janeiro foi embora, e o silêncio reinou entre a pequena família.
— O que achou filho? — Aizawa perguntou virando-se para trás afim de presenciar todas as reações do arroxeado de perto.
Hitoshi ainda se encontrava boquiaberto olhando pela janela em puro choque. Com calma retirou os fones do ouvido, já não sabia se o suor acumulando nas mãos era pelo calor ou de nervosismo.
— Pai… Você tinha dito uma pequena casa em Copacabana. — Mostrou um sorriso receoso nos lábios que falharam e tremeram levemente. — E isso é uma mansão…
— Mas foi por uma boa causa. — Sua única justificativa não acalmou o corpo tenso do arroxeado, Eri sendo bebê sequer poderia estar ao seu lado para tirar aquela ilusão da cabeça do pai, então apenas percorria os olhinhos pelo redor de forma curiosa.
Quando Aizawa o olhou pelo retrovisor com uma expressão esperançosa, buscando sempre uma aprovação diante daquele brilho independente nas esferas escuras, Shinsou sorriu para ele. Um sorriso falso que já estava mantendo desde que deixaram São Paulo e sua vida para trás. Mas tudo pelo bem estar dele, pois não era Shinsou a vítima.
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Sujos de areia
أدب الهواةSe mudar para um novo estado com seu pai e a irmã de nove meses fora a surpresa na qual Shinsou nunca desejou ter. Precisando ocultar o início de uma depressão cultivada anos atrás para apoiar o pai no fim do relacionamento, Shinsou conhece alguém n...