Três

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Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Chico Buarque

— Oi, bom dia. Vocês fazem entrega? — Shinsou perguntou baixinho, o celular estava contra o ouvido enquanto mordia seu inferior a espera de uma resposta. — Ah, o endereço é-

— Com quem está falando?

Uma voz grossa o despertou, sendo mais como um susto na qual fizera Shinsou rapidamente se virar. Aizawa havia acabado de acordar, o estado sonolento ainda revirava o rosto, contudo agora ele parecia tenso por ver o filho falando com alguém no telefone. Em sua mente poderia ser a ex esposa, ou até o novo padrasto do arroxeado.

— Eu retorno depois… — Murmurou, encerrando a ligação. — Com um supermercado pai. Iria pedir mingau pra Eri poder almoçar.

— Mas pra que isso? — Franziu o cenho ao questionar. — Onde iria arranjar dinheiro?

— Iria tirar do meu aniversário…

— Shinsou, pelo amor de Deus. — Lhe lançou um olhar reprovador. — O que te faz pensar que não temos dinheiro para comprar comida?

" Talvez por que você gastou todas as nossas economias na merda dessa mansão?! Foi o que sua mente nervosa produziu palavras ácidas para dizer. Mas ficou em silêncio.

— Tem razão… Desculpa. — Respirou fundo, odiando tanto aquela situação que sentira vontade de chorar novamente.

— Eu vou no supermercado comprar o necessário. — Passou a mão dentre os cabelos, parecendo cansado. Shinsou estreitou seus olhos ao ver o mais velho alcançar a carteira e chaves dentro do bolso. — Ah, qual o tipo de leite que a Eri bebe mesmo?

Por Deus.

— Milnutri premium… — Respondeu desconfortavelmente. — E o mucilon de arroz.

— Mucilon também é leite? — Soou confuso.

Hitoshi buscou desesperadamente por forças que nunca teve. Precisava daquilo, não queria explodir de novo.

— Mingau, pai…

— Ah, claro! — Riu de forma descontraída. — Eu volto logo.

— Sabe onde tem supermercado…?

— Eu busco no GPS. — Deu de ombros, sequer dando chances de Shinsou dizer mais alguma coisa, pois já estava saindo pela porta da frente.

Ficou sozinho. Mas não é como se já estivesse sentindo daquela solidão a anos. Mesmo estando cercado de pessoas.

Respirou fundo, o choro da irmã conseguiu ser ouvido do segundo andar, e logo ele precisou correr rápido entre as escadas. Ao chegar no quartinho da caçula, viu Eri com as bochechas vermelhas, choramingando e suada. Provavelmente Aizawa passou ali, pois as janelas estavam fechadas, e o coberto rosa enrolava a bebê.

— Tô' aqui, o irmão tá aqui. — Sussurrou calmamente, colocou as mãos com cuidado embaixo dos bracinhos gordinhos de Eri, esta que de imediato abraçou o arroxeado pelo pescoço, enquanto ainda choramingava. — Vamos um pouco na piscina?

Sabia que a pequena não conseguiria responder, mas, conhecendo aquela palavra, pois envolvia água, algo que os dois irmãos idolatravam, ela rapidamente olhou Shinsou com a boca aberta num perfeito "O".

— A piscina na mansão que não podemos pagar… — Murmurou com um sorriso. — Vamos procurar seu maiôzinho.

Debaixo do sol quente, fora esperado da água estar morna. Hitoshi havia vestido a irmã com um maiô vermelho, da cor de seus belos olhos, e colocou o chapéuzinho amarelo que sabia da bebê gostar.

Sujos de areia Onde histórias criam vida. Descubra agora