Vinte E Dois

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O que é um beijo se eu posso ter o teu olhar?

Para Denki, Shinsou parecia um sonho.

Tamanha irrealidade rondava aquele garoto. Foi incapaz de desviar o olhar desde o primeiro momento que o viu sentado sobre areia da praia. A forma na qual o arroxeado agia conseguia ser intensa e hipnotizante, Denki passava longos minutos relembrando Shinsou dançando na madrugada, o sorriso surgindo como uma curiosidade, o corpo molhado em meio a voz que quando lhe chamava por seu nome brasileiro fazia Matheus enlouquecer aos poucos.

Uma vagarosa nuvem de fumaça veio antes do cheiro da nicotina deixando os lábios de Shinsou. O cacheado segurava seu rosto com uma mão e o cigarro dentre os dedos da outra. Kaminari sentiu um calor irradiar o corpo pois estava com Hitoshi em seu colo, acompanhando cada movimento do paulista abaixo na escuridão do quarto onde haviam entrado. Pouca luz mas o cigarro e o desejo deles um pelo outro iluminava aquele cômodo.

— Preciso aprender a dizer não quando tu me pede cigarro… — Denki murmura tentando fingir irritação, mas o único efeito forte na qual conseguira transmitir em Shinsou fora aquele aperto sobre a cintura.

— E você seria capaz de me negar alguma coisa? — Sussurra, a própria intenção em ter soado como uma brincadeira se perde no escuro, e o timbre sem querer saira provocativo demais para Kaminari aguentar. Ele percebeu pelos movimentos abaixo da palma de sua mão que o loiro assentiu com a cabeça. — Me nega agora então.

Shinsou deslizou os próprios lábios sobre a boca de Denki, uma carícia parecendo a pior tortura para o loiro que já provara daquele paraíso e ficava desejando beijá-lo desesperadamente.

Eles estavam mornos devido o cigarro, continuavam macios e atiçou um grunhido do carioca, chegando a fazer o mesmo derrubar Shinsou na cama e ficar rapidamente por cima de si. O arroxeado ri sorrateiramente, a infinidade dos cachos espalhando sobre o colchão conforme Kaminari aproximava o rosto para perto do seu.

— Você sabe do efeito que me causa, e continua atiçando… — A voz estava arrastada quando saiu bem próximo de seu ouvido. Hitoshi semicerrou os olhos, sentiu a pele arrepiar ao receber aquelas palavras, pois em algum tempo ele realmente tinha ciência do quão bonito era e talvez pudesse usá-la para encantar alguém como sua mãe um dia encantou Aizawa.

— Você também faz isso… Me atiça. — Conta baixinho, o olhar púrpura fazendo um intenso e demorado contato visual nas esferas amareladas do loiro. Denki fica em silêncio, e Shinsou consegue sentir a forma que o coração dele passa a bater com mais rapidez contra o seu. — Não acha justo eu também atiçar?

— É diferente.

— Por que? — Brinca com o cigarro aceso dentre os dedos, e ao invés de receber uma resposta, Denki se deita sobre si, o rosto sendo escondendo na curvatura do pescoço do arroxeado. — Matheus…

— Não sou bom falando o que eu tô sentindo, Miguel. — Solta as palavras em tons de murmúrio. — Mas se liga… Eu me entrego quando se trata de você. Não curto isso, me entregar. Por que quando acontece, fode tudo.

Hitoshi ficou em silêncio, não sabendo o que dizer, e também não achando necessário falar qualquer coisa naquele momento. Ele levou a mão livre até os longos fios dourados de Kaminari, e usou daquilo para fazê-lo afastar gentilmente a cabeça do loiro da região onde ficara escondida. Apagou o cigarro na cômoda e abriu as pernas devagar, Denki encostou a testa sobre a do rapaz, se colocando no meio de Shinsou e novamente fazendo contato visual.

O beijo que deram em seguida foi repleto de lentidão e ansiedade interna. Pois aquele gesto pareceu simplesmente um acordo onde continuariam naquela maré de toques, mas sem se entregar ao que realmente precisavam um no outro.

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