Dez

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Com você, tudo fica tão leve
Que até te levo na garupa da bicicleta

— Eu… Amei a música que você me recomendou ontem.

O olhar intenso de tons amarelados se voltou lentamente na direção do arroxeado após confessar aquilo num tom tímido. Ambos estavam tomando água diretamente do coco com canudinhos enquanto ficavam sentados na areia, e após as palavras serem soltas, Denki afastou o objeto plastificado dos lábios para sorrir ladino.

— Amou, foi?

— Sim! — Sorriu minimamente, desviando-se daquele olhar que fazia seu corpo pegar fogo. — Você tem um ótimo gosto musical.

— Você também. — Mordeu a pontinha do canudo, aquela altura as pálpebras estavam semicerradas e a expressão curiosa já entregava que não queria parar de olhá-lo. — E tu? Não vai me recomendar nenhuma música?

— E o medo de você não gostar?

— Para com isso, claro que eu vou gostar. Eu amo teu gosto musical. — Assegurou, a ponta dos seus dedos sendo deslizados sobre a pele alva de Shinsou, provocando arrepios, e praticamente arrancando borboletas na barriga dele que não deveriam aparecer somente pelo toque.

— Bom… — Suspirou baixo, precisando até tomar mais um gole da sua água de coco para conseguir se concentrar melhor. Buscou rapidamente por alguma música e o loiro lhe aguardava com extrema paciência. Até que, quando afastou no canudo dos lábios, já tinha um som mente. — Por… Por supuesto.

— Hmmm. — Inclinou a cabeça pro lado levemente. — Essa eu nunca ouvi, mas, certeza que é foda.

— Uma parte dela me lembra você… — Comentou timidamente, e quase de imediato o sorriso de Kaminari surgiu. — Era tipo… Meu sonho feliz, Era chegar e já cair no mar.

O olhar do loiro pareceu refletir os nuances do sol, de tanto que brilharam. Ele acabou, bem repentinamente, se jogando de costas no chão com os braços abertos, assustado a Shinsou que rapidamente ficou com seus olhos arregalados.

— Kaminari?! Tá tudo bem?! Sua glicose abaixou demais?!

— Não. — Riu baixo, o coco fora deixado sobre a areia e ele logo inclinou a cabeça para lado afim de olhá-lo melhor. — Mas foi muita emoção.

— Nossa cara. — Fechou os olhos e respirou fundo. — Pensei que ia desmaiar.

Mais uma risada veio por parte do loiro, enquanto isso, a mão do mesmo foi de encontro ao pulso de Shinsou, deslizando os dedos ali levemente. O cacheado lhe olhou devagar, sentia como na pontinha havia algo de irregular, então ele ergueu o pulso e segurou na palma da mão dele, seus olhos pendendo logo naqueles furinhos escuros. Agora entendia.

— Isso… — Continuou, o olhando com hesitação. — São por causa das agulhadas?

— São. — Respondeu calmamente, os dedos brincando e sendo percorridos dentre os de Shinsou. — Também tenho no canto dos braços, e alguns na barriga.

— Que merda. — Se aproximou mais um pouquinho, sequer percebendo que ambas as mãos não estavam se soltando no processo. — Você já recebeu comentários de tipo, "Ah tu já tá acostumado a tomar agulhada né?"

— Porra, o tempo todo. — Murmurou a contra gosto. — As pessoas acham que tomar agulhada três vezes no dia, ou mais, mesmo desde os sete anos até os dezoito não dói nada. — Estava olhando para o céu agora, Shinsou ficava atento a cada palavra na qual sabia ter um peso grudado nelas. — Isso quando não sangra, ou a agulha não entra por que alguma parte do corpo está calejada.

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