Seis

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Devolva a minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel...

Três meses antes

Foi-se o tempo que só de estar em um parquinho sentado no balanço lhe parecia o suficiente para sorrir e aproveitar o resto do dia.

E agora ele não suportava estar no próprio corpo. Até o mínimo bater do coração contra o peito parecia lhe proporcionar enjoo o bastante para querer vomitar. Detestava aquela melancolia repentina que não tinha ideia de onde havia aparecido, tinha receio por estar sendo dramático, já que as causas eram desconhecidas. Queria nunca sentir aquilo, não poderia simplesmente voltar a ser o garoto alegre na qual sempre fora?

Um tapinha em seus ombros lhe tirou do furacão dos próprios pensamentos, e logo o arroxeado olhou para cima, encontrando um sorriso gentil junto de adoráveis olhos pequenos. Se forçou a colocar um sorriso nos lábios, não conseguia evitar possuir algo quente em seu peito quando via a face de Ojiro.

E talvez fosse daquele sentimento que estivesse lhe confundindo, bagunçando questões na qual nunca desejou pensar sobre a própria sexualidade. Mas, de algum jeito o loiro mexia consigo, ele trazia confiança e carisma em seu jeito de ser, Shinsou o admirava tanto. Fora Ojiro que lhe apoiou para começar a dançar, começar a usar cabelo cacheado, por mais que agora ele só usasse ele de forma curvada e para cima. Chegou um momento que Shinsou não conseguiu mais controlar a forma do coração batendo forte, borboletas sobrevoando a barriga, e o desejo incansável de um "mais" com o loiro.

Mesmo que a vida estivesse desmoronando naquele momento no processo da separação dos pais, ele sempre teria Ojiro.

— Que cara de cu é essa? — Brincou se sentando num balanço ao lado do arroxeado.

— Ah, sei lá… — Riu baixo, o capuz em sua cabeça sendo puxado calmamente pra trás. — Tava pensando no que te dizer.

— É sobre seus pais? — Perguntou cuidadoso, e assim retirando o sorriso que Shinsou trajava.

— Não… — Queria que fosse. Realmente queria. Aquele assunto parecia melhor do qual diria. Nunca mencionaram nada sobre sexualidade, pois os garotos do grupo de amigos só falavam de peitos, e a única garota sequer se incomodava, enquanto falava de paus. Muitas das vezes, talvez a maioria, o arroxeado quisesse acompanhar a conversa dela, e não sobre peitos. Porém não tinha certeza de mais nada, sem ser alguns sentimentos confusos pelo loiro. — Sabe… Você já, tipo assim, já pensou em gostar de alguém igual você?

A expressão de Ojiro se tornou confusa ao ouvir aquilo. Ele afastou o corpo devagar, deixando Shinsou tenso por talvez ter usado as palavras erradas.

— " Alguém como eu"? — Questionou. — Como assim vei?

— E-eu… — Desviou o olhar, e Ojiro se perguntou por que caralhos ele estava gaguejando. Hitoshi nunca gaguejava. — Tipo… Garoto com g-garoto.

Ojiro franziu o cenho, chegando a olhar Shinsou de cima a baixo devagar, e foi naquele momento que o arroxeado sentiu um forte enjoo de si mesmo. Não devia ter começado a dizer aquilo, deveria ter ficado quieto e nunca abrir a boca!

— Eu não vei, tá doido? Sou viado não. — Riu, mais de forma seca do que zombeteira. — Por que? Tá gostando de alguém?

— Não mano. — Soltou uma risada descontraída, chegando a se surpreender pela voz ter soado firme, já que sua garganta estava apertada pela vontade de chorar. — Tava só perguntando, relaxa.

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