Dois

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Rio de Janeiro - 2016
7:10 da manhã - Domingo - ( 08 de janeiro)

Sei bem como é lindo seu sorriso
A droga do amor

— Pai, por favor abre a porta…

Realmente não esperava aquele clima e acontecimentos no seu aniversário de dezoito anos.

Não havia conseguido dormir. Os olhos ficaram inchados de tanto derramar lágrimas, chegou a ficar pelo menos cinco minutos chorando em uma crise onde acreditou fielmente estar merecendo, isso enquanto Eri chorava praticamente aos berros e horas depois Shinsou agradeceu pela nova moradia ser em uma parte isolada na área nobre do Rio.

Totalmente diferente da antiga casa, o apartamento era localizado numa área agitada, ao mínimo barulho os vizinhos iriam acampar na sua porta para saber o que estava errado e não evitariam chamar o conselho tutelar caso ouvissem mais sons de gritos ou tapas. Se lembrava de odiar as intromissões, e agora ao lembrar teve a vontade de chorar novamente, mas se o fizesse passaria o dia todo assim então engoliu as lágrimas com decisão.

A mão batia levemente na porta do quarto onde Aizawa dormia, o arroxeado estava cansado de ficar em pé ali após passar a noite inteira tentando acalmar Eri dos choros e chamados pelo pai. Nunca foi bom com crianças mas agora precisava ser, estava no meio do fogo cruzado junto a irmã e aquilo deveria ser cortado o quanto antes, queria agir como se estivessem no mar em um momento de ressaca, nada mais.

— Me desculpa pai. — Tornou a repetir as mesmas palavras envoltas com arrependimento e tremor na voz. As pernas doíam de tanto se afastar do quarto do pai para poder ir até onde Eri estava, checando a cada cinco minutos se a mesma dormia no berço. Sempre suspirava aliviado pelos momentos que sua irmã escolhida debaixo do ar condicionado fraquinho podia descansar no próprio sono, mas em breve a caçula acordaria com fome e até Shinsou já tinha a barriga doendo por estar vazia. — Eu falei o que não devia, por favor me desculpa!

Barulhos de garrafa vazia rolando pelo chão. Ele estava acordado, ou acordou após o milésimo pedido de desculpas do arroxeado. Faltava quatro garrafas de vinho na caixa das mudanças na cozinha e aquilo estava deixando o corpo de Hitoshi gelado desde a madrugada.

Precisou apoiar o peso do corpo na mão sobre a parede, cairia facilmente com o cansaço que não soube interpretar como físico ou psicológico. Suspirou com a visão ardendo novamente e se afastou da porta, tinha que beber água ou desmaiaria só pelas lágrimas deixando os olhos, talvez Aizawa realmente não fosse sair do quarto naquele momento e poderia ter algum descanso na merda do dia.

Fazia sol lá fora, domingos traziam calor naturalmente, ainda mais quando o verão prevalecia. Aquele tempo sempre lhe animava para ir a praia, fazer castelos na areia, passar longos minutos no mar e fazendo dali sua morada particular, mesmo que São Paulo estivesse explodindo de pessoas buscando da mesma sensação gostosa. Todas emaranhadas embaixo dos guarda sol e distribuindo sorrisos em meio ao calor, o Rio conseguia ser mais quente, Shinsou adoraria percorrer aquele novo estado em seu aniversário como uma nova descoberta.

Mas agora ele procurava fechar as janelas por onde passava, fugindo do sol e andando de maneira mórbida até a cozinha.

A geladeira guardava apenas uma jarra de água e a mamadeira com leite pela metade de Eri, sequer sabia se aquilo estava adequado para consumo e até para sua barriga vazia pareceu gostoso. Balançou rapidamente a cabeça em negação e agarrou a jarra com o estômago apertado, seria o café da manhã mais produtivo que já passou, talvez seu presente de aniversário fosse perder alguns quilos.

Não negaria que durante a madrugada ia com o coração acelerado até o celular carregando na parede, esperando ansioso por alguma mensagem de seus amigos citando o aniversário, ou da mãe, e até dos parentes melosos parabenizando-o no Facebook. Porém, sem mensagens. Ele mesmo havia se cansado de esperar quando o dia amanheceu completamente e apenas guardou o aperto no peito para não chorar ainda mais.

Sujos de areia Onde histórias criam vida. Descubra agora