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MARATONA 9/9

PEREIRA: 😶‍🌫️

Natal sempre foi uma data estranha pra mim, Na quebrada, a gente aprende cedo que nem sempre tem árvore, ceia ou presente... mas tem vida, E onde tem vida, tem motivo pra comemorar.

Esse ano foi diferente, Tava em Angra, com a tropa toda reunida, Mas Hellena não estava do meu lado, e por mais que o mundo girasse contra mim, eu me sentia firme, Era como se ali, naquela casa cheia de voz, cheiro de comida e risada solta, eu tivesse encontrado o que eu nunca tive.

Uma hora dessas eu fico imaginando como deve está sendo o Natal da minha mãe, sozinha e doente naquela casa que conheço desde menino, No mesmo lugar de sempre, no interior longe de toda agonia, meu maior desejo era ter ela morando comigo.

Minha mãe não curte esses barulhos do rio, Ela nunca gostou da ideia de ter um filho envolvido no crime, as coisas apertaram e ela sempre dizia que ia resolver do jeito dela e eu tinha que ter paciência, Demorou pra ela aceitar quando vim morar aqui no Rio, E o mais foda foi saber que eu tinha me envolvido no que ela mais tinha medo.

O Natal com minha mãe era sempre antes da meia noite, a gente comia, orava e dormia, no outro dia eu ajudava ela a arrumar tudo, nossa casa não era grande, mas cabia todo mundo lá dentro só que ninguém nunca ia, essa data se tornou estranha porque ninguém gostava de se unir e comemorar com a gente, e piorou quando a família soube do meu histórico no crime, se ia dois ou três, passou a não ir ninguém, Minha mãe sempre disse que minhas escolhas eram erradas, mas não ia aceitar ninguém falando mal do filho dela, preferia comer sozinha, mas comer comigo na mesa, Hoje ver todo mundo junto pra comemorar essa data, é diferente.

Queria apresentar minha mãe pra Hellena, queria mostrar o Rio pra ela e fazer ela sair daquela bolha, mostrar as praias daqui, O Rio é lindo, só basta saber aproveitar, lembro como se fosse ontem do jeito que minha mãe falava mal do Rio, que tinha muita criminalidade espalhada por lá, e eu virei o que ela mais temia.

Volto a realidade rindo disso, só de pensar nela já bate uma saudade de conversar com ela, de ouvir seus conselhos e sermão, sempre digo que ela deveria ser psicóloga, mas ela não acredita nisso.

*

A casa estava agitada mais que o normal, ela já era em si, mas hoje parecia que todo mundo foi ligado no 220, Mayara tava na cozinha com Érica preparando a ceia, As meninas arrumando a casa, Biro, Peixinho e PH organizando a área e eu cuidava das crianças, não era bem cuidar porque elas dormiam.

Dei uma encarada na Hellena enquanto ela passava na minha frente varrendo o chão, nunca fui de ser orgulhoso com bagulho de briga, queria resolver o mais rápido possível que eu pudesse, mas ela parecia que não estava disposta, eu queria passar esse primeiro Natal e Ano Novo com ela na tranquilidade, Mas Hellena sempre arruma alguma coisa, não me arrependo de me envolver com ela, eu amo ela pra caralho, só me estressa esse lado dela, sempre pensando no que ela quer e não nas outras pessoas, Suspirei o mais fundo que podia sabendo que se eu não engolisse o orgulho, a gente não ia se resolver nunca, me aproximei dela te virando totalmente pra mim pela cintura.

Pereira: A gente vai conversar e se resolver, Ou vai continuar desse mesmo jeito como se eu fosse o culpado da história? — Estremeci da mesma forma que ela com minhas palavras.

Hellena: Podemos Pereira, deixa eu terminar de fazer as coisas. — Assenti.

Pereira: Não vai demorar, Dez a cinco minutos, pode ir lá no meu quarto. — Ela assentiu.

Sentei no sofá e coloquei Ems no meu colo, ela tinha acordado e estava chutando o ar, sorri pra ela brincando com sua bochecha, Ems gargalhava banguela pra mim, intercalava entre olhar pra Ems e Renan que ainda dormia.

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