BÁRBARA, point of view
Penn State library, Pensilvânia— Ei, Bárbara. — Escuto a voz de Augusto, fraca e longe. — Porra Bárbara, acorda.
Abro os meus olhos e dou de cara com um breu completo. A única coisa que iluminava o lugar onde eu estava dormindo eram luzes amarelas que vinham da rua.
Puta merda.
Me dei conta do que tinha acontecido quando olhei para os lados e dei de cara com várias estantes de livros. Victor estava em pé, ao meu lado.
— Porque você não me acordou? — Gritei com ele, chateada.
— Eu falei pra você que iria esperar no carro. — Ele diz — E nem vem querer gritar comigo de novo, porque você estava acordada. Entrei pela janela e me trancaram aqui com você.
— Você não percebe que depois que você chegou só coisa deu errado na minha vida?
Raivosa, me levanto da mesa onde estava, andando metade da área do prédio e tentando - só tentando mesmo - abrir a porta de entrada. Merda merda e merda. Porque essas coisas só aconteciam comigo?
— Então parece que você vai ter que passar a noite comigo... — Victor diz e ri. — Acordada.
— Eu odeio você!
Digo, apontando o dedo na cara de Augusto. Puta que pariu. Eu não acredito que eu esteja passando por isso. Passando por isso com ele.
— Olha...nós podemos só conversar.
— Você nunca quer "só conversar" comigo, Victor. — Eu digo, fazendo aspas com as mãos.
— Você não mentiu. — Ele ri. — Mas podemos testar dessa vez.
Frustrada, me sento ao chão, encostada na prateleira de livros. Victor estava sentado ao meu lado, e só agora vim perceber que ele usava uma bandana estilo Axel Rose.
Rindo, levei os dedos até a mecha caída na testa dele. Ajeitei a mecha úmida e voltei minha mão para onde ela estava. Surpreendentemente, ficamos nos olhando pelos próximos dez segundos, os dois quietos.
— Eu gosto dessa sua tatuagem. — Ele diz, pegando meus pulso e passando os dedos por cima. — E daquela que você tem no quadril.
— É a minha preferida.
Eu e Victor rimos. Ele volta a olha para mim, e depois diz "Espere aqui, eu já volto", e sai andando pela biblioteca escura.
Esperei Augusto por cinco minutos inteiros. E eu o vi voltando com um violão em mãos, se sentando ao meu lado. Ele começou a dedilhar as notas nas cordas, e eu logo identifiquei a música que ele iria tocar.
"XO" do John Mayer começa a sair da boca de Victor.
— Your love is bright as ever, even in the shadows. Baby kiss me, before they turn the lights out.
Ele sorria enquanto cantava, e um sorriso involuntário se formou nos meus lábios também. Victor não precisava de letra, porque ele sabia a letra inteira.
— Your heart is glowing, and i'm crashing into you. Baby kiss me, kiss me, before they turn the lights out, love me in lights out.
Comecei a cantar junto com ele, com minha cabeça encostada na prateleira de livros atrás de mim. A única coisa que eu conseguia escutar era a voz de Victor e as notas saindo das cordas do violão.
— In the darkest night hour. I'll search through the crowd. Your face is all that I see, I'll give you everything. Baby, love me lights out, baby, love me lights out. Ohh, you can turn my lights out.
A música acabou segundos depois, e Victor deixou o violão no chão, ao lado de nós dois. Não faço ideia de que horas da noite eram, e eu também não fiz questão de olhar meu celular.
Em vez disso, fiz questão de aproveitar o momento. Era rara as vezes que eu conseguia ficar ao lado de Augusto, sem o estar beijando ou gritando de raiva com ele.
— Que milagre. — Ele diz, um sorriso saindo pelos lábios.
— O que? — Pergunto em um sussurro.
— Você não tá gritando comigo. — Ele também fala em um sussurro.
— Você cantou John Mayer pra mim, como eu iria gritar com você?
Victor ri, e volta a sua cabeça para a posição inicial, sem me olhar. Ficamos em silêncio por no máximo dois minutos, e teve um momento que os dois viraram e começaram a falar no mesmo momento.
— Você primeiro. — Ele diz.
— Eu só ia dizer que é legal não brigar com você. — Deve ser assim que as garotas se sentem ao lado dele, pensei. Sim, eu odeio o fato de que eu mesma apago a fantasia da minha cabeça.
— Que bom. — Ele começa. — Porque eu ia falar a mesma coisa pra você.
Rimos, e de novo voltamos a ficar quietos. Até que eu quebrei toda a onda de silêncio que existia entre nós.
— Onde você acha que vai estar daqui a três anos? — Perguntei.
— Começando a faculdade de direito, eu acho. — Ele diz, e me olha. — Por que?
— Mas e a banda?
— Nós vamos seguir caminhos diferentes em algum momento da vida, Bárbara. — Ele responde, olhando pra mim. — Todo mundo aqui quer se formar em uma coisa diferente e eu não vejo nós juntos daqui a quatro, cinco, seis anos.
— Mas vocês são ótimos...
— É, eu sei. — Ele diz. — Mas somos uma banda de faculdade, formada três dias depois de todo mundo ter entrado aqui. E tem algumas coisas que você deixa na faculdade, porque não pertencem a sua vida fora disso.
— Eu não sei o que eu quero. — Por fim, digo. — Quer dizer, eu sei que queria ser advogado desde os 10 anos de idade. Mas quando eu cheguei no último ano do ensino médio, tudo mudou da água pro vinho.
— Eu sei como é isso. — Eu respondo. — Entrei nessa faculdade por conta da bolsa de estudos no time de futebol americano, e acabei criando uma banda no final das contas.
— Eu tirei um ano sabático pra ver se as coisas iam se encaixar de novo na minha cabeça. — Digo. — Mas eu sinto que as coisas só pioraram.
— Ei. — Ele diz, colocando o braço nos meus ombros. — De tempo ao tempo ok?
Em resposta, solto um sorriso. Victor beija a minha testa e eu deito a cabeça em seu ombro. Pego o celular, conecto o fone de ouvido e entrego um deles para Victor. "Pretty Boy" do The Neighborhood começa a tocar, e eu e ele ficamos assim o resto da noite.
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𝟓𝟎𝟓 - 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋
Fanfiction▭▬ 𝟓𝟎𝟓 ⌕ ▸ 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋 𝖿𝖺𝗇𝖿𝗂𝖼𝗍𝗂𝗈𝗇. ─┈ ❝ 𝘍𝘪𝘤𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘭𝘰𝘯𝘨𝘦 𝘥𝘰 𝘲𝘶𝘢𝘳𝘵𝘰 505, 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘯𝘢̃𝘰 𝘴𝘦 𝘢𝘱𝘢𝘪𝘹𝘰𝘯𝘢 𝘱𝘦𝘭𝘰 𝘨𝘶𝘪𝘵𝘢𝘳𝘳𝘪𝘴𝘵𝘢 𝘥𝘢 𝘣𝘢𝘯𝘥𝘢.❞ 𝖥𝗈𝗂 𝖺 𝗉𝗋𝗂𝗆𝖾𝗂𝗋𝖺 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺 𝗊𝗎𝖾 𝖿𝖺𝗅�...