Trip

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BÁRBARA, point of view
Penn State — Pensilvânia

Eu não falava com Victor Augusto a três semanas.

Inicialmente, achei que não daria certo. Achei que, no meio desse tempo, eu iria correr para a porta da frente. Mas não, nada aconteceu. Ele também não fez nada. E em três semana, eu e ele parecíamos completos estranhos.

Enquanto isso, as coisas com Kyle melhoraram bastante. Comecei a ir aos treinos dele todas as vezes que eu podia, depois da aula, dias de sábado, e antes da aula. Os amigos dele, da fraternidade, começaram a me chamar de "Babs K.", e todas as vezes que eles falavam isso, eu sempre ria muito.

Amanhã é Dia de Ação de Graças. E hoje a noite (quarta feira) todos nós iríamos pegar a estrada, para tentar chegar em Nova York ainda de noite. Sairíamos daqui as cinco da tarde, e a previsão é de chegar lá pelo menos nove da noite. Se não tivesse trânsito, claro. Era uma viagem longa, então eu dormi o resto da tarde, em vez de fazer as malas para a viagem.

Estava terminando de arrumar as minhas malas para o final de semana, quando escutei minha campainha tocar. Pelo olho mágico, vi as três garotas plantadas na minha porta. Abri a mesma e elas estartam no meu cubículo animadas, como se fossem crianças indo passar o aniversário da Disneylândia.

— Vieram cedo. — Digo para as mesmas, abrindo a porta e deixando que todas entrassem. — Aconteceu algo?

— Falta uma hora pra viagem e você ainda não terminou de arrumar tudo? — Tainá disse, vendo que minha mala estava jogada em cima do sofá.

— Estava montando uns looks. — Respondo. Eu estava dormindo, na verdade, mas acho que elas não iriam precisar saber disso.

O celular de Carol começa a tocar, e ela avisa que precisa se distanciar. Enquanto isso, volto a conversar com as meninas sobre a nossa pequena estadia na casa dos pais de Tainá. Me sento no sofá, e as duas garotas permanecem em pé, na minha frente.

— Gente, más notícias. — Carol diz, vindo até a nossa direção. Ela tinha uma expressão meio exausta no rosto, provavelmente por conta da notícia que recebeu. — Victor teve um problema com o reitor e não vai poder passar o feriado aqui.

— E o que isso quer dizer? — Perguntei.

— Que ele vai ter que ir com a gente. — Tainá diz, soltando uma risadinha. — Carol, você pode ligar pro Peter e dizer que vamos precisar de três carros? Vou ajudar Bárbara com a mala aqui.

— Claro. — A loira diz e sai andando pelo apartamento, com o celular na mão.

Merda.

Isso não era bom. Nada daquilo era bom. O fato de Victor Augusto existir não era bom. Não gostava nem um pouco da ideia de que eu e ele estaríamos juntos, todas as horas do dia, por quatro dias seguidos. Os dias que eu passaria longe dele.

Já foi difícil demais essas duas semanas. Sabe, ver ele e lembrar de tudo o que fizemos me deixava com medo. Mas eu agradeço aos céus por ter Kyle, porque ele vencia de 10 a 0 no quesito "Como me fazer sentir bem."

Kyle era simpático e ligava para mim, na hora certa. Sabia exatamente o que falar e quando falar, sem dizer que o sexo com ele era incrível. Mas, infelizmente, isso era monótono demais para mim.

Fui acostumada a viver no meio de altos e baixos nos meus relacionamentos. Errado, eu sei. Mas depois de tanto tempo me relacionando, se não for assim, eu prefiro que não seja.

E esse era o problema. Eu estava em um fogo cruzado comigo mesma. De um lado, Kyle, ligava na hora certa e sabia o que falar. Do outro lado, Victor, que vivia sempre em constantes mudanças (não muito diferente de mim).

Puta que pariu, onde eu fui me meter?

[...]

Eu ajudava Peter a colocar as malas nos dois carros. Todo mundo iria na viagem, até a namorada de Arthur, a Bruna. Ela era um doce de garota, e parecia bem mais madura que o Ramos. Não que ele fosse uma criança.

— Acho que já estamos prontos aqui, Bárbara. — Peter diz pra mim. — Só precisamos separar os carros.

— Aí é com vocês.

Eles começaram a conversar, e decidiram que os casais iriam juntos. Peter, Tainá, Gabriel e Carol em um, no outro, Bruna, Arthur, Gilson e Alyssa. No carro de Victor, iria eu, ele, Larissa e a namorada.

Sim. Eu e Victor. E adivinhem quem votou pra isso? Isso mesmo, Victor Augusto.

Entrei no banco do carona da Ranger Rover de Victor enquanto Lara e a namorada iriam no banco de trás. Como tínhamos muitas malas, os carros todos estavam cheios. Quatro dias em Nova York. Meu Deus.

Peter começou a dirigir na frente, e seguimos com o carro. Eu e Victor não atrevemos a dar nenhum piu. E eu agradeci quando vi o nome de Kyle brilhando no visor do meu celular.

— Oi Babs. — Ele disse. Eu podia sentir que Kuzma estava sorrindo. — Como está tudo por aí?

— Acabamos de sair. — Eu digo. — E aí?

— Meu voo para Michigan sai de madrugada. — Ele diz. — As quatro e vinte e cinco da manhã.

— Espero que tenha um bom voo. — Respondo. — Me liga se precisar de algo. E me conta tudo, quero fotos, muitas fotos!

— Ok. — Kyle fala, muito possivelmente com um sorriso saindo dos seus lábios. — Beijos. Aproveita aí.

Desligo, e sinto um sorriso se formar nos meus lábios. Pelo retrovisor, vi Lara soltar um sorriso como se quisesse dizer "Ui, falando com o namorado." Olhei para trás a fim de reaprende-la.

— Vocês estão bem juntos. — Ela diz. Melissa, a namorada, concorda.

— Não estamos juntos. — Suspiro pesado. — Não estou afim de relacionamento sério agora. Então estamos só ficando. Ele sai com outras garotas também.

— Ele pode sair com outras garotas ou sai com outras garotas? — Larissa pergunta. — Não vi Kyle Kuzma com nenhuma menina por aí esses dias.

— Ele pode sair. — Suspiro, vendo onde isso iria chegar. — Mas ele não quer.

Me viro para frente, e ao olhar para o lado, vejo um sorriso duvidoso presente nos lábios de Augusto. Dessa vez eu sabia exatamente o que se passava na cabeça dele. Sabia cada pensamento.

Ele pensava que eu criei esse trato com Kyle porque eu tinha ele também. Não vou mentir que sim, ele tinha meia razão. Mas se eu estivesse na mesma situação com Victor (com a circunstâncias de todos saberem e essas coisas) eu faria a mesma coisa.

Não quero namorar. Não quero compromisso sério.

Pelo menos, até ágora.

𝟓𝟎𝟓 - 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora