Parents

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BÁRBARA, point of view
New York - EUA

Sai pelos portões do hospital praticamente carregada. Assim que as portas automáticas de abriram na minha frente, me solfei dos ombros de Lessa, que me segurava firme contra seu corpo.

O vento gelado de Nova York tomou conta de mim. Aconcheguei-me ao meu casaco que Tainá trouxe para mim de madrugada. Era sexta, e ficaríamos aqui até domingo. Mas ninguém teve vontade de continuar a viagem, mesmo eu falando para eles que não era preciso o cancelamento da mesma.

Virei a cabeça para a direita e os avistei. Minha mãe com um cigarro entre os dedos, levando-o a boca repetidas vezes. David, encostado no carro, somente observando tudo o que acontecia.

Gabriel sentiu que eu me estremeci, mas ele não conseguiu entender o porque de eu estar daquele jeito. Me desvencilhei de Lessa, e comecei a andar.

- Fiquem aqui. - eu disse, começando a me afastar. - Vou conversar com meus pais.

Eles assentem, e sem coragem nenhuma, começo a caminhar em direção aos dois adultos.

- Meu Deus, Bárbara! - minha mae exclamou, me puxando para um abraço apertado. Em nenhum momento ela largou o cigarro. - Como você está?

Não fiz questão de perguntar como ela sabia que eu estava em Nova York, ou como ela sabia que eu estava em um hospital no meio de Manhattan.

- Eu estou bem. - respondo a pergunta, colocando as mãos no bolso do casaco que por dentro era felpudo, e por fora era um jeans. - Era só isso que você queria saber?

- Bárbara...

- E quem é você? - David indagou. Não entendi de primeira porque ele fez essa pergunta. Mas assim que senti braços firmes me envolverem pela cintura, e senti aquele perfume, percebi que não precisava me virar para o lado para saber de quem se tratava.

- Eu sou o namorado dela. - Victor disse, me trazendo para mais perto do seu corpo. - Prazer, Victor Augusto.

Ele estendeu a mão esquerda, a que não estava em volta do meu corpo, e apertou as mãos do meu padrasto e da minha mãe. David não falou nada, mas minha mãe ficou o observando dos pés a cabeça.

- Você é filho dos Augusto. - ela diz, antes de jogar o cigarro no chão e pisar no mesmo.

- Sim, eu sou.

Sinto muito você estar passando isso por causa de mim. Era o que eu queria dizer. Mas nada saia da minha boca, nenhuma palavra sequer. Eu estava atordoada demais para sequer conseguir falar alguma coisa.

- Nós precisamos ir agora. - ele diz, e aperta meu corpo novamente. Me despeço com um olhar para a minha mãe, e começo a ser guiada pelo castanho-escuro até o meu grupo de amigos.

- Bárbara! - minha mãe exclama. - Me mande notícias!

Me despeço de Samantha Passos com um pequeno sorriso, uma linha fina em meus lábios volumosos. A feição de choro toma conta do seu rosto, e eu viro o meu antes mesmo que pudesse começar a chorar.

Íamos direto para a estrada. Dessa vez, Larissa e Melissa iam o banco da frente, enquanto eu e Victor íamos atrás - segundo os médicos, não podia ficar sem "vigia" pelos próximos 3 dias.

E assim, voltamos para Penn State.

[...]

A primeira pessoa que eu vi, assim que botei o pé para fora do carro, foi Kyle.

Já era cinco da tarde quando chegamos em Penn State, e o sim se punha um pouco atrás do prédio principal do campus. Pessoas andavam pelo gramado, e folhas secas voavam com o vento.

- O que você está fazendo aqui? - eu perguntei. Abracei meu corpo por conta do frio.

- Eu precisava ver como você estava... - ele começa. - Tainá me disse o que e aconteceu e eu peguei o primeiro ônibus pra cá. Ontem mesmo.

- Kyle, mas a sua família...

- Quem fez isso? - ele pergunta. Levo meu olhar até onde ele olhava, e vejo uma mancha roxa no meu braço esquerdo. Eu sabia como ela tinha ido parar ali. Victor me segurou tão forte que ambos dos meus braços estão com marcas de mãos dele. Além da minha cabeça enfaixada, claro. - Bárbara?

- Eu tive uma crise de pânico ontem e o Victor-

- Foi ele? - Kyle pergunta preocupado. Não tive tempo de me explicar, porque quando vi, de já estava correndo em direção ao carro de todo mundo. - Cadê essa putinha?

Eu não podia correr. Merda Kyle, eu não podia correr. Não tive escolha, e então, comecei a correr atrás de Kyle para impedir que ele quebrasse Victor no meio.

Tarde demais.

- Você é um idiota né? - Kyle diz, empurrando os ombros de Victor com uma força tremenda. - Quem que você pensa que é?

Victor devolveu o empurrão na mesma força, encarando Kyle direto nos olhos. A diferença de altura entre os dois era visível, mas em nenhum momento eu vi Augusto se distanciando por medo.

Eles rolavam no chão de grama enquanto eu tentava separá-los. "Só brigaram uma vez por garota", a fala de Carol pairou na minha cabeça. Merda, eu não podia gritar, mas estava fazendo o contrário disso.

Kyle estava sangrando. Victor também estava sangrando. E eu estava desesperada, chorando, como se tivesse voltado no tempo e estivesse presenciando a briga dos valentões do ensino médio pela garota mais bonita do colégio.

- Sai dai cara, a polícia tá vindo. - Ramos disse, se metendo no meio e tentando puxar Victor. Tentativa falha. - Porra, Cole! A polícia!

Kyle saiu dos braços de Victor, acabado tanto quanto ele. E eu chorava, chorava e chorava, porque não achava que tinha que presenciar isso de novo. Nunca mais achei que brigariam por causa de mim.

- Vocês são uns idiotas! - gritou Larissa. - Eu vou levar Bárbara para o dormitório, se virem vocês aí.

Ainda chorosa, Lara me ajudou a levantar do chão. Junto com ela, Arthur e Melissa vinham junto comigo. Tainá já estava na direção do carro quando chegamos até ele.

Sentei no banco do carona e desabei. Chorei o máximo que pude, manchando a minha camisa de lágrimas. Ninguém me parou, e no fundo, agradeci por aquilo, porque o que eu mais precisava era chorar. Chorar por tudo.

Minha cabeça latejava e meu nariz estava entupido. Mas não parei de chorar, porque aquela era a única maneira de me manter bem. Limpando o corpo com lágrimas.

𝟓𝟎𝟓 - 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora