Fire

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BÁRBARA, point of view
Filadélfia — Pensilvânia

Para a minha sorte, Victor não estava tão arrumado assim, porque eu usava um vestido, por baixo uma segunda pele. Também usava um casaco jeans e outro por cima por causa do frio.

— Você não sente frio? — Perguntei, pelo fato de que ele só usava um moletom. Preto, como sempre.

Ele não respondeu nada, mas sorriu. Como todas as vezes. Não sei se era pelo fato de que ele não sabia a resposta ou pelo fato de que a mesma era a coisa mais óbvia do mundo.

O castanho escuro entrou no elevador, e segurou a porta do mesmo pra que eu pudesse passar. Fiz isso, e ele logo apertou no andar -1. Demoramos pelo menos dois minutos para chegarmos até o andar.

Uma garagem cheia de carros muito caros apareceu bem na minha frente. Tentei conter o espanto, e comecei a andar ao lado de Victor. Entrei na Ranger Rover dele, em seguida, o mesmo começou a dirigir pelas ruas da cidade.

— Para onde você está me levando? — Eu perguntei, com o vento gelado batendo na minha face. Victor virou para mim e riu, voltando sua atenção para a estrada na sua frente.

— Calma, Novata. — Ele respondeu, rindo. — Tudo no seu tempo.

Na minha cabeça, Victor já tinha inferido umas 30 leis de trânsito. Mas acho que isso é pouco pra ele. Se ele for preso tenho certeza que consegue pagar indenização por ter batido em um carro e ainda comprar um novo.

— Tá vendo aquele lugar ali? — ele disse, diminuindo a velocidade e apontando para algum local no lado oposto da pista. — Vamos jantar ali.

— Você está doido? — Digo, levemente aterrorizada. — Eu não tenho dinheiro para pagar nem água ali dentro.

— E quem disse que você tem que pagar?

E mais uma vez, Victor estaciona e entrega a chave para um chofer. Ele coincidentemente conhecia esse cara também.

O local tinha luzes amarelas que eram distribuídas por todo recinto. Tinha um ar aconchegante, e era quentinho. Um moço chegou por trás de mim e tirou meu casaco, o pendurando em um cabideiro dourado que tinha ali do lado.

Caminhei ao lado de Victor em direção a mesa de dois. "Sr. e Sra. Augusto" estava escrito em letras cursivas em um papelzinho. Fiz cara de tacho e Victor riu.

— Fiz de propósito. — ele diz. — Sabia que você iria odiar.

— Você é um poço de surpresas, Victor Augusto.

O castanho escuro pediu vinho tinto instantes depois. Tomei uma taça inteira enquanto conversava com ele. No início, baixinho. Mas depois percebi que só tínhamos nós dois ali dentro, e eu acabei por me soltar mais.

Por um momento, minha mente viajou. Pensei em perguntar para Victor se eu era a única ali, a única que ele levou para aquela cobertura e mostrou que ele na verdade era um cara rico que não gostava nem um pouco disso.

Eu queria me sentir especial, pelo menos uma vez. Queria ter certeza, de que pelo menos uma única vez, o que ele fez e faria comigo esta noite, ele não teria feito com as outras. Que eu era única para ele.

E será que ele já sequer fez isso? Levado para jantar, uma noite perfeita no meio de tanto fogo e água, ou seja, no meio do que seria o próprio Victor Augusto.

Victor Augusto era feito de fogo. E eu era feita de ar. E assim como fogo e ar, precisamos dos dois para viver. Mesmo que doa, mesmo que queime. Porque é assim que eu e ele funcionamos.

Uma dança perfeitamente imperfeita.

Fogo e ar.

Paraíso e chamas.

Dor e prazer. 

Ele pediu uma massa para que nós comêssemos. E meu deus, estava ótima. Como sempre, pedi um Macarrão à carbonara. Ele pediu à bolonhesa. Bem a cara dele.

Demoramos um pouco para começar a comer porque continuamos a conversar. E de sobremesa, dividimos um pétit-gateau. Com a mesma colher, e de quebra com direito a Victor me dando o bolinho na boca. Eu estava sorrindo de orelha a orelha, porque pela primeira vez na vida ele não estava tentando estragar tudo entre nós.

Ele pagou a conta, e em vez de irmos direto para o carro, começamos a caminhar pela calçada das ruas. Eu rindo de Victor, e com meus braços ao redor dos dele, enquanto suas mãos ficavam no bolso da minha calça jeans.

— Para onde você está me levando?— como sempre curiosa, pergunto.

— Aqui. — ele diz, e para.

O museu de arte da Filadélfia estava na nossa frente. Na verdade, a única coisa que nos separava era a praça gigante que da entrada para a escadaria do prédio (que parecia com aquele templo famoso grego).

Um lenço vermelho, daqueles de piquenique, estava estendido no fim da escadaria. Caminhei até ele, me sentando. Uma vela segurava cada ponta dele no chão. Victor ainda estava em pé, ao lado do pano, me observando.

— Você gostou?

— E se eu tivesse falado não? — pergunto.

— Você não iria falar não, Bárbara. — Victor diz, com aquele sorriso presunçoso saindo dos lábios dele. — Pelo menos não pra mim.

— Você é tão convencido...

— E vai me dizer que aquilo é mentira? — pergunta, vindo até a minha direção. Victor usava um rolex de ponteiro no braço direito, e as mãos estavam cheias de anéis.

Ele coloca uma mexa atrás da minha orelha. Eu acabo me aninhando na sua mão, o fazendo chegar mais perto de mim. Sem brigas, Bárbara. Hoje é uma trégua.

Ele levou as mãos para a minha nuca e me beijou. Um beijo calmo, comigo segurando seus pulsos e as mãos dele em volta do meu pescoço. Os lábios dele eram a única coisa quente lá. Morangos e cigarros, o mesmo gosto de sempre. Nada mudou.

Um filete de respiração foi deixado por mim assim que o beijo se cessou. Nenhum dos dois se atreveu a se mudar daquela posição, e ficamos lá, por muito mais tempo.

Ele olhava nos meus olhos de forma calma. Victor poderia atear fogo no mundo dele, mas eu sinto que ele não deixaria nenhuma chama me tocar.

E lá estava ele, com aqueles olhos cor de mel totalmente pra mim. Olhos cor de mel flamejantes, me olhando como nunca.

Fogo.

𝟓𝟎𝟓 - 𝖻𝖺𝖻𝗂𝖼𝗍𝗈𝗋Onde histórias criam vida. Descubra agora