Sentimentos Ruins

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Os dias depois foram passado rápido , tão  rápido quanto nos afastamos. Evitavamos o mesmo estar juntos no mesmo lugar, se encontrar e principalmente trocar palavras. Não conversei com meu irmão sobre o acontecido,AINDA.
   Mas claro que ele notou algo de errado entre nós. Suas olhadas quando estávamos no mesmo lugar indicavam que ele percebia o clima tenso,só não se metia no meio.

Decidi que iria conversar com ele só em casa ,acho que seria mais calmo e evitaria ele querer discutir com o outro aqui e correr o riscos de sermos expulsos.
   Quando chegou o dia de irmos embora,fiz questão de me camuflar no meu irmão. Pus seu moletom da escola e fui com ele pro ônibus. No primeiro andar do ônibus sentei na poltrona do canto e Murasakibara ao meu lado,passei as pernas sob as coxas dele e repousei a cabeça no vidro da Janela.
   Ele me olhou ,passou a mão grande no meu cabelo solto e depois olhou para a frente mexendo no seu celular. Encarei as ruas escuras que passávamos, enquanto o ônibus partia e meus olhos marejaram.

Um sentimento ruim em mim surgiu e as lágrimas rolaram no meu rosto. Sentimento que se me perguntassem mil vezes,nenhuma delas eu saberia responder. Me senti tão... tão deslocada. Nesse lugar cheio de amigos e colegas,mas eu estou tão desconexa...
    Senti os olhos pesarem e não lutei contra isso,apenas os deixei fechar e me fazer adormecer nessa noite que só me faz querer chorar.

Não sei como isso aconteceu, mas quando eu acordei eu estava deitada no sofá ,enrolada a uma coberta azul e meu celular estava ao lado. Me sentei no sofá e suspirando alto pus as mãos na testa.

__ Tá melhor?
__ Eu estou bem ,irmão. - o olhei ,me encostei nas costas do sofá e tentei sorrir.
__ Tem algo de errado. - Ele falou sentando ao meu lado no sofá - Tem algo de errado e você não quer me contar...

Sua voz saio calma como de costume ,mas seus olhos transmitia preocupação e aflição. Me senti mal por imaginar que o meu mal estar tenha deixado ele abalado.

__ Não há nada de errado. - Há sim,mas não é que eu não queira te contar,eu vou! Só não agora. - Meu corpo está um pouco dolorido,acho que irei adoecer logo logo...

Meu peito dói, dói tanto e eu nem entendo porque ele está doendo tanto assim. Foi apenas uma decepção com um amigo comun,não foi? Decepção... eu não esperava aquilo dele...

Sorri para o meu irmão e mesmo perdida nos meus pensamentos confusos,o ouvi falar do jantar que ele fez,seu macarrão com queijo me anima... levantei junto com ele,sendo segurada pela mão como se eu não quisesse ir para onde ele queria me levar. Me sentei a mesa e pus minha comida.
    Comi com calma e calada,meu irmã por mais que eu sentia que ele queria falar alguma coisa, ele não falava,nada.

Lavei os pratos e panelas do jantar ,enquanto dá pia eu vi murasa dormindo no sofá. Com os cabelos caídos no rosto e com seu coque se desfazendo.
   Eu amo você, eu adoro você, mas me pergunto se eu sou merecedora de ser amada por você. Você é alguém que todos gostam,que todos querem ter por perto e que só coisas boas tem a seu respeito. Mas eu me sinto tão inferior a ele, acho que ele é mais do que eu mereço, talvez eu seja algo pior do que uma vadia.

__ Murasa acorda. - passei a mão sobre seus cabelos caídos - Vai pro quarto. Eu já arrumei as coisas, pode ir.
__ Obrigada. - ele sorriu com os olhos ,enquanto bocejava e se levantava para fazer o que mandei. Beijou minha testa e seguiu em direção a escada. - Durma bem!
__ Você também.
__ Eu amo você.

Por seu quarto ser quase no topo da escada ,suas últimas palavras foram ditas enquanto entrava em seu aposento e eu não pude responder rápido o suficiente.

Olhei para a escada e minha visão ficou embaçada, lágrimas escorregaram por minhas bochechas e eu fiquei sem saber o que fazer, frente a essa minha situação.
   Até que meu celular tocou sobre o sofá  e eu o olhei,de longe eu vi: "Mamãe"
 

( . . . )

No dia seguinte meu irmão saio com seus amigos para jogar em alguma quadra da cidade,como quase de costume nos sábados, eu fiquei. Quis ficar, ficar pra arrumar a casa , meu quarto,meus pensando e se me restasse tempo... a minha vida.

O dia passou lento e pareceu que nunca chegaria a noite,quando eu teria de conversar com Murasakibara. Nem sei o que dizer,o que não dizer e nem como dizer. Lentamente a hora de seu
Retorno chegou e junto com a hora,o meu irmão, pontual.
   O deixei tomar banho, descansar um pouco e enquanto comíamos o jantar dessa vez feito por mim, iniciei:

__ O Aomine me chamou de vadia.- acho que foi uma péssima maneira de começar ,mas já foi,não dá pra voltar e principalmente agora com meu irmão com seu talher parado no ar ,enquanto me encara.
__ O que disse??? - pôs de volta no prato o talher.
__ Eu não vou repetir,você ouviu... -  não olhei para seus olhos, eu realmente estou achando que aquilo era verdade.
__ Eu ouvi certo?? Ouvi?

Não respondi ,mas é aquilo, quem cala consente.
Ele empurrou o prato para frente ,pôs os cotovelos sobre a mesa e as mãos na testa.

__ Pra quê?
__ Pra quê ,o que?
__ Pra quê ele te chamou de vadia? Seja lá qual for o motivo,ter te xingado mudou alguma coisa? Resolveu algum problema?
__Não...
__ Então pra quê? Eu sou seu irmã e nunca,nem de brincadeira te chamei de vadia. Ele acha que por algum acaso ele pode? - eu me calei e encarei a mesa. Meus olhos encharcaram e aquilo o meu irmão viu. - por isso que você parecia tão pra baixo todo esses dias?

Me limitei a acenar positivamente pra ele e ele se levantou da mesa.

__ Não é só isso que precisamos conversar. - falei e passando as mãos no cabelo ele me olhou,esperando que eu continuasse a falar.

Mas como olhar nos olhos de quem acabou de me defender ,sem nem perguntar o que eu havia feito, que me cuidou por tanto tempo e conversar com ele tudo que eu preciso?

Como contar pra ele que esse lugar,essa cidade,essa escola, essa rua... não me é receptiva e que o sentimento que sinto é o de deslocada. Mas eu tenho que contar ,eu preciso contar ,que eu disse sim. Eu chorei falando com a minha mãe, mas eu disse sim. Não sei como,mas eu disse sim.

"Quer vir morar comigo?"

Sim.

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