O resto da tarde²

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__ Ok, mas e o seu nome?
__ Me diz você primeiro, eu que te encontrei na minha casa.

Casa dele? Caralho quantas descobertas.

__ Miyuri.
__ Midori... Miyuri ,que previsível. - ele falou sério,com um leve tom de brincadeira na voz.
__ E você? Seu pai também foi previsível? Qual seu nome,Bryan? - usufrui do mesmo tom de brincadeira e ele sorriu sem mostrar os dentes
__ Não. Nash.
__ Nash? - Repeti involuntariamente
__ Isso aí.

Encarei por alguns segundos, suas orbes Verdes. Ele piscou o olho direito e com isso sai de meu pequeno transe. Suspirei rápido e ao notar isso, pus a mão sobre o peito e tentei normalizar a respiração.
O menino caminhou até o sofá e olhando para lá vi um celular sobre ele ,provavelmente era seu. Me virei e subi alguns degraus da escada, ouvi passos na parte de baixo e não me virei para olhar. Só então, quase no topo da escada,nos últimos degraus o ouvi provavelmente me chamar.

__ Ei. O que você tá fazendo?
__ Lendo. -falei baixo,porém alto o suficiente para ele ouvir.
__ Posso fazer companhia?
__ Pode...

Terminei de subir e retornei até onde eu havia saído antes. Me sentei no sofá e abri na página 26,página que eu havia parado quando desci. Nash chegou ao primeiro andar com seus passos pesados e barulhentos. O vi sentar na outra ponta do sofá, colocando os pés para cima e olhando na minha direção.

__ Mas vem cá, você vai conversar comigo ou vai ficar lendo esse livro de putaria?
Levantei os olhos na sua direção e ele sorriu com o meu olhar surpreso.
__ O que foi? Eu Já li ele. - Passou a mão nos cabelos loiros e pôs o celular sobre a mesinha de centro - Quantos Anos você tem?
__ Dezenove. - respondi de imediato - Você?

Ele quer conversar, e acho que eu também, já li o suficiente por enquanto. Deixei o livro aberto sobre as coxas e o olhei.

__ Vinte e três.
__ Uau... - involuntariamente a surpresa escapou de meus lábios e depois um questionamento me surgiu - E quantos Anos o seu pai tem? Achei que ele fosse bem jovem...
__ Mas ele é jovem, tem só quarenta anos.
Olhei para a parede enquanto pensava e depois voltei o olhar para nash.
__ Seu pai tinha dezessete anos quando você nasceu??
__ Parece que sim. - ele sorriu largo - meu pai gostava de umas loucuras,e, uma dessas loucura ele tem até hoje.
__Tem? - perguntei desatenta
__ Eu!
__ Você tem irmãos?
__ Tenho. O Bryan... previsível. - sorrindo ele mesmo falou o que eu falaria.
Sorri junto a ele e então ele continuou a falar:
__ ele tem Quinze anos e não mora por perto. - pausou e logo concluiu - Quando falo não mora por perto, me refiro a fora do país.
__ E onde ele mora?
__ Em algum lugar no Brasil. A mãe dele é de lá. - deu uma pausa para respirar e prosseguiu - Aquele da foto é seu irmão?
__ Sim. - minha voz saiu mais baixo do que imaginei.
Nash me olhou por alguns segundos, sorri pra ele,antes que me preferisse qualquer questionamento sobre estar bem ou não.
__ Murasakibara...ele tem vinte e um anos e também não mora por perto. Ou eu não moro mais por perto dele,não mais...
__ Entendi, Entendi. - ele limpou a garganta e colocou uma almofada na ponta do indicador direito, girou-a e então continuou - O que você fazia nos tempos livres lá?
__ Quando não estava lendo,estava na quadra.
__ Fazendo o que?
__ Olhando meus amigos jogarem.
__ Jogarem o que?
__ Basquete?
__ Então seus amigos jogam...
__ Vai dizer que você não sabia?
__ E não sabia mesmo,sua mãe nunca falou muita coisa sobre vocês. Sempre vi algumas fotos pela casa ,mas ela nunca falou nada pra mim,nada do tipo: Então Nash,eu tenho uma filha gata e um filho que joga Basquete.

Ignorando o flerte fraco eu continuei o assunto.

__ Ele joga.
__ Você também ,né?
__ Já joguei algumas vezes,mas não jogo mais. Não me pergunte porque.
__ Porque? - perguntou segundos depois como se desde o começo a pergunta já estivesse engatilhada.
__ Ah. - respirei fundo - Não tem um motivo plausível, eu só não quis, acho que não tenho porte físico pra isso e muito menos altura.
__ Mas não precisa ser exatamente alta pra jogar ,sabia?
__ Sabia,mas,eu não quero mesmo assim.

Nash se calou por uns cinco minutos, achei que não iria tentar conversar mais – Não que ele estivesse incomodando ou algo assim — Ele tombou a cabeça para trás e abraçou a almofada que estava em suas mãos.

__ Você também joga, né? - perguntei, antes que algo ele falasse.
__ Sim, eu só jogo.
__ Como assim "só joga"?
__ Eu não faço outra coisa,eu jogo.
__ Você não trabalha?
__ Sim, eu jogo para a NBA.
__ Caralho... - falei baixo e ele sorriu
__ Primeiro erro. Porra! - no mesmo tom ele falou após fechar seu sorriso.
__ Primeiro erro? - sem entender o questionem

__ Tá ,ok, Eu falo. - falou segundos depois de uma pausa dramática - Eu fiz... algumas afirmações sobre você e...
__ Qual o intuito disso? - perguntei ,sem demonstrar estar brava ,mas sim curiosa.
__ Uma brincadeira interna ,comigo mesmo. Queria ver quantas coisas sobre você , eu consigo advinhar.
__ E você errou uma? Qual?
__ Afirmei que você não usava palavrões, mas você usou então errei.
__ Quando você fez essas suas afirmações?
__ Desde que te vi lá embaixo ,até agora. Acabei de fazer uma outra.
__ Qual?
__ ...Acho que você veio fugida de alguma coisa.
__Hã?
__ Pra cá,para a casa da sua mãe. Você nunca quis vir pra cá e de uma hora pra outra vem.
__ Achei que minha mãe não falasse muito dos filhos por aqui.
__ Eu disse que ela não falava,não disse que eu não perguntava.

Ah.

__ Mas, e aí? Acertei?
__ Sim.
__ Porquê fugiu?
__ Talvez mudanças sejam necessárias. Mudanças de ares, só isso. - nash me encarou, com uma feição de que não havia acreditado muito em mim.

Ok.
Não ligo.
Ele não terá outra resposta de mim sobre isso,além dessa.

Sem perceber continuamos conversando por um bom tempo e no relógio digital na lareira,vi que já passavam das Duas da tarde. Sequer havíamos comido e só de lembrar disso meu estômago ronca.
O menino após ouvir o ronco de meu estômago, me olha e pensa olhando para a janela mais atrás de mim.

__ Vou pedir pizza para a gente. - ele profere se levantando e pegando o celular.
__ Pizza no almoço?
__ Sim,alguma objeção?
__ Nenhuma.
__ Obrigado. Qual sabor você quer?
__ Qualquer sabor que você escolher está bom para mim.

Sem questionar,ele Acenou um sim com a cabeça e caminhou Ate o janelão de vidro atrás de mim.

Com a fome desgraçada que eu tô, se ele me desse um pedaço de vidro ,eu comia.

__ Pronto. - ele falou guardando o celular - O que acha que comermos na piscina?

Panther's HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora