Cheguei em casa as oito da noite.
Estava escuro e tarde, mas consegui ver o carro da minha mãe na garagem. Entrei já preparada para uma discussão, pois tinha prometido vir direito da escola para casa, e me surpreendi ao ver Angélica no sofá, dormindo. O corpo torto, a cabeça recostada na almofada, os pés ainda de salto alto. Meu coração se encolheu ao imaginar que ela estaria ali, me esperando, desde quando chegou.
Eu sabia que precisava começar a ser mais atenciosa, mandar ao menos uma mensagem quando fosse sair. Eu estava tão acostumada a sempre fazer o que queria, tendo meu pai para me acobertar, que era difícil desapegar de costumes antigos.
Não entrava na minha cabeça que éramos só nós duas agora. Uma pela outra. Seria mais fácil se as coisas simplesmente voltassem a ser como eram antes.
Infelizmente, isso nunca iria acontecer. E já passava da hora de aceitar.
Suspirei, e com cuidado estirei o corpo da minha mãe melhor sobre o sofá. Retirei os sapatos, coloquei um travesseiro fofinho embaixo da cabeça e usei a coberta caída no chão para cobri-lá. Angélica resmungou e virou para o lado, mas não acordou. Deveria estar extremamente cansada.
Me inclinei e depositei um beijo na testa dela. Exatamente como fazia comigo quando era criança.
— Boa noite, mãe.
Na ponta dos pés, subi as escadas. Cogitei a hipótese de tomar um banho, mas meus olhos estavam custando ficar abertos. Meu único desejo era descansar, o dia havia sido exaustivo e amanhã tinha aula. O luxo de me lavar iria ficar para outro momento.
Tirei apenas a roupa, chutando-a para um canto da parede. Deitei, e antes de apagar, gastei meus últimos minutos admirando o mini buquê de lírios, na cômoda ao lado.
[•••]
Acordei com uma brisa fria chicoteando meu rosto. Demorei um pouco para me espreguiçar, levantando, e então reparando que a janela estava aberta e era dali que o ar gélido estava vindo.
Estranhei. Eu tinha certeza absoluta que estava fechada quando fui dormir e não lembro de tê-la aberto. Mas, imaginando que tenha sido minha mãe, eu ignorei.
Tomei um banho rápido. Eu só queria me livrar um pouco da areia de ontem e deixar minha aparência minimamente melhor. E funcionou. Meu cabelo saiu brilhando, a pele macia, a cor de volta aos lábios e rosto. Por isso e outros fatores, água sempre foi e será meu elemento favorito.
Vesti uma jardineira jeans curta, que deixava minhas coxas expostas, com uma blusa de mangas longas cinza. Estava frio, como sempre, mas nada insuportável. Meu corpo já estava se acostumando a ausência de calor.
Deixei meu cabelo solto, tanto porque precisava que secasse, quanto porque estava lindo. Ultimamente, pequenos cachos estavam se formando nas pontas e combinavam deveras com meu rosto. Neste fiz uma maquiagem básica, só pra esconder as imperfeições, e passei brilho labial.
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𝑰𝑹𝑹𝑬𝑺𝑰𝑺𝑻𝑰𝑽𝑬𝑳 ― 𝐽. 𝐻𝑎𝑙𝑒
Vampire𝗔𝗟𝗜𝗡𝗔 𝗤𝗨𝗘𝗥𝗜𝗔 𝗔𝗣𝗘𝗡𝗔𝗦 recomeçar. Perder o pai e ser assombrada diariamente pelas lembranças do fatídico acidente era demais para a cabeça da adolescente, seu corpo implorava por paz. E ali, na minúscula cidade de Forks, a tão almejada...