BIRO: 🤑
O sol nem tinha se decidido se ia sair ou se ia sumir, e eu já tava na função, Camisa preta e bermuda, Glock na cintura, boné aba reta, A boca hoje tava agitada, e PH já tinha passado o papo, " O movimento vai ser doido, prepara os cara"
Eu tava encostado na mureta da laje, olhando o fluxo passando, Mãe empurrando carrinho de criança, moto subindo chiando, um galo cantando atrasado no beco do Peixinho, Era favela viva, batendo no mesmo compasso que meu coração, Até que o rádio chiou.
Neguinho: Biro, confirma aí, A loirinha voltou, mano, Aquela lá… a Tainá.
Travei.
Fiquei uns dois segundos sem dizer nada, só ouvindo meu peito bater seco, PH virou o rosto devagar, levantou a sobrancelha, Ele sabia quem era, Todos sabiam quem era Tainá.
Biro: Qual foi, neguinho? Cê tá zoando, né? — respondi no rádio, a voz firme, Mas minha mão já tremia levinho.
Neguinho: Não tô, chefe, Ela tá na descida da viela do barraco do Marcelo, já indo direto pra boca, Peitão, bundão, loirona daquele jeito que tu gostava, PH tá aí contigo, né? Vai ver também.Olhei pro PH, ele coçou a barba e riu de canto.
PH: A vida cobra, né, bandido? — soltou, sem tirar o sorriso debochado da cara.
Tainá, Aquela desgraça de mulher, Linda de um jeito indecente, dessas que faz homem ajoelhar e depois pisoteia rindo, Fiquei maluco por ela uma vez, Me entreguei, Me perdi, E ela? Me largou como quem joga bituca de cigarro aceso no chão, Nunca entendi o motivo, Só sei que desde ali eu virei isso aqui, fechado, marrento, sem rastro de sentimento na cara, Coração? Eu enterrei, Mas agora ela tava voltando, E justo pra minha área.
Tainá chegou com a postura de quem nunca saiu, Salto alto na favela, mini short colado, cabelo loiro desfilando no vento e aquele olhar de quem sabe o estrago que faz, Ela passou entre os meninos da boca e parou bem ali, do meu lado, como se nada tivesse acontecido.
Tainá: E aí, Biro, Sentiu saudade ou esqueceu? — falou, jogando o cabelo pro lado, sorrindo torto.
Não respondi de primeira, Travei o maxilar, mas o olhar escorregou pelo corpo dela, Um segundo, Dois, Puta que pariu, Ela ainda mexia comigo.
Biro: Tava melhor sumida. — soltei, mas minha voz saiu menos firme do que eu queria.
PH deu um passo pro lado, disfarçando a risada, Tainá mordeu o lábio inferior, se aproximou mais ainda.
Tainá: Você tá diferente, Tá com cara de chefão agora, Mas teu olhar ainda é o mesmo... aquele que me devorava. — Eu engoli seco.
Lembrei da Érica, Barriga crescendo, meu filho vindo aí, Lembrei do dia que ela deitou no meu peito e disse que confiava em mim, A mulher que me olhava com verdade.
Mas a Tainá... era outra fita, Era tentação, era passado gritando, Era a porra do erro pedindo bis, Ela encostou o peito em mim e Sussurrou.
Tainá: Cê não vai resistir, Biro, Nunca resistiu. — Me afastei um passo, Suspirei.
Biro: Tem coisa que a gente aprende na dor, Tainá, E hoje eu tenho quem me olhe com verdade, tá ligado? Não quero viver de volta não, Quero seguir. — Ela me encarou por dois segundos.
Depois riu, Riu daquele jeito debochado que me tirava do eixo, Virou e saiu andando, rebolando como se o mundo fosse dela, E eu fiquei ali, segurando a Glock numa mão e o coração na outra.
Porque por mais forte que a gente pareça, tem passado que bate diferente, E tem tentação que só o corre do morro faz a gente escolher se vai cair... ou se vai continuar de pé.

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Sob O Morro
Fanfic📍Rio de janeiro, Rocinha +18 Eu não sonhei em ser dono de morro, só fui vivendo, Quando vi, já tava com fuzil no ombro, nome na boca da polícia e respeito na quebrada, Aqui, quem anda devagar vira alvo, quem ama demais vira fraqueza... mas mesmo no...