III- Destino Ou Acaso.

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"Não quero mais amar a ninguém
Não fui feliz, o destino não quis
O meu primeiro amor
Morreu como a flor
Ainda em botão,
Deixando espinhos
Que dilaceram meu coração

— Cartola"

Arrumo meus livros na prateleira acima da mesinha de estudos do meu lado do quarto. A Sakura está me encarando, enquanto os organizo da forma mais satisfatória, alinhada e prática que consigo. Ela observa cada movimento meu, enquanto caminho entre a mala sobre a cama e o guarda roupa pequeno.

Nosso quarto é grande, mas ainda assim não espaçoso o suficiente para duas adolescentes e com certeza para mim, que sempre tive meu próprio quarto que deveria dar, ao menos, dois desse aqui.
Mas não é incômodo para mim. Eu escolhi por isso.

Sak– Você tem algum tipo de mania de organização? Nunca vi alguém se dedicar tanto em arrumar um guarda roupas.

— Não é mania... é apenas ganho de espaço. Não gosto de bagunça, faz com que eu me sinta deslocada e perdida.

Sak– Bem, que sorte então. Não como você, mas eu também não gosto de bagunça. – Ela se levanta e vem me ajudar. — Quem tem muito azar mesmo é o Sasuke-kun.

— Porque?

Sak– Ele é retraído, mas divide o quarto com o Naruto. Não faço a mínima ideia de como aquele loiro imbecil consegue arrumar roupas limpas para vestir no meio daquela bagunça. E o Sasuke endoida, sempre obriga ele a arrumar, mas ele foge e joga tudo contra as costas do Suke.

Um lampejo de diversão acelera meu peito, mas logo se cala quando encontra o buraco vazio que eu chamo de coração. Meu silêncio parece ter chamado a atenção da rosada, que me encara com as sobrancelhas franzida.

— Quando foi que você e o Uchiha descobriram que eram prometidos? — Tento mudar seu foco de mim.

Sak– Ah... É uma história meio sem graça. — A encaro, deixando que ela fale. — Bem, eu, ele e o Naruto somos amigos de infância. Crescemos juntos, morávamos perto e nossos pais eram amigos. O Sasuke sempre foi meio na dele, mas depois... depois que seus pais morreram em um terrível acidente, ele se tornou mais retraído ainda. Começou a nos afastar e por mais que insistissimos, ele estava mergulhado em ódio e culpa. Até que um dia, quando tínhamos 13, ele se envolveu em uma briga com uns meninos mais velhos. Saiu terrivelmente ferido e eu o forcei a me deixar ajudar, apesar dos protestos dele, eu cuidei dele a noite toda. Eu fiquei observando seu sono e quando amanheceu e ele abriu os olhos, antes que pudesse dizer qualquer coisa... eu, eu senti. Aquela ligação, um puxão forte em mim e me surpreendi ao ver que ele sentiu o mesmo. Nós sabíamos o que aquilo significava, mas ignoramos por muito tempo, até a promessa começar a nos sufocar e nos machucar e apesar dela, nós sempre gostamos um do outro, desde pequenos. Não fazia sentido ficarmos separados, não quando nossas almas queriam se unir. Então o fizemos. Nos aceitamos e começamos um relacionamento. E... Só!

— Não quero soar rude, mas ele não parecia muito satisfeito quando você citou o que eram. — Ela arregala os olhos e abaixa a cabeça devagar.

— Ele queria levar as coisas com calma e se sente pressionado pela promessa. Eu o amo e ele me ama também, mas talvez depender tanto de alguém o faça recuar e temer.

Eu entendo. Entendo a dor que ele teme sentir, a dor de perder seu prometido, sua alma gêmea, a única pessoa certa para você. É uma dor que não desejaria a nenhum inimigo meu, se eu tivesse algum.

Ela para de falar, está cabisbaixa e eu não a culpo. Viver com esse tipo de incerteza deve ser tão cruel quanto.

Pego minha folha de horários e peço a ela para me ajudar a encontrar minha sala. Caminhamos um pouco e pegamos a escada para o terceiro andar. Nos despedimos com um aceno simples e entro.

O professor parecia estar me esperando e lança um pequeno sorriso - o que eu acho ser um sorriso - com os olhos e me chama com uma das mãos.

Xx– Muito bem, turma... — Sua voz firme faz com todos nos encarem. — Essa é nossa nova colega, Hinata Hyuga. Hinata, eu sou Kakashi Hatake, professor de literatura. — Ele aponta para uma mesa vaga. — Pode se sentar ali, onde o NARUTO ESTÁ APROVEITANDO BEM A AULA.

Ele eleva o tom de voz, acordando imediatamente o loiro de olhos azuis. Ele olha ao redor atordoado, e sorri.

Nar– Foi mal, sensei. — Ele revira os olhos e me entrega alguns livros antes que eu possa caminhar até a mesa do loiro. Ele puxa a cadeira para mim e me sento, acenando a cabeça em um agradecimento silencioso.

A aula começa e presto atenção, apesar do olhar azulado sobre mim tentar com todas as forças me desconcentrar. Até que conseguem. Desvio o olhar para ele, erguendo uma sobrancelha, exigindo e esperando uma explicação.

Ele sorri e dá de ombros, fazendo meu estômago se revirar de raiva. Mas não digo nada, apenas volto minha atenção para a aula.

O professor escreveu algo no quadro.

Kak– Muito bem. Para quem não estava aqui na última aula e para quem ainda tem dúvidas sobre o protejo semestral, vou fazer um breve resumo. — Ele aponta para o que escreveu. — Esse semestre faremos uma apresentação sobre a promessa. Eu espero que pesquisem bastante e se inteirem, para que possam começar o roteiro do trabalho e fazer valer por merecer sua nota. A sala foi dividida em dois grupos. Um falará sobre como surgiu e o outro falará sobre algo um pouco diferente. Se já começaram suas pesquisas, devem ter ouvido falar sobre a "maldição do prometido" é sobre o que o segundo grupo irá falar e sobre o que será o resto da aula de hoje.

Meu coração pesa e meus olhos se forçam ao tentarem se manter abertos com a enxurrada de emoções negativas que chegam a minha mente e tento manter meu foco, levando automaticamente minha mão a minha nuca e meus dedos ao meu cabelo, puxando-os devagar.

Kak– A maldição do prometido está completamente interligada a magia da promessa. Todos têm um prometido e a promessa só acontece caso se conheçam e caso tenham passado por algum momento difícil ao lado do seu futuro prometido. Nunca houve indícios de prometidos que nunca haviam se visto. Enfim, voltando ao ponto. A maldição do prometido acontece quando um dos, morre antes que as almas se unam. Antes que haja algum ato de amor carnal. Quando alguém é almadiçoado, quando perde seu prometido, perde parte de sua alma. Além dos sintomas psicológicos, existem sintomas físicos, como: queda de cabelo, ansiedade, depressão profunda, anemia, vômito. E o único que se mantém permanente e que pode ser visto e identificado por todos é a mudança na cor dos olhos. Eles assumem uma tonalidade exótica e todos são diferentes. Mas ser prometido a alguém não quer dizer que você o ame, mesmo assim a pessoa pode ser amaldiçoada e sofre por quem nunca amou.

Sinto o suor escorrer pelas minhas temporas e meus dedos enrolarem os cabelos da minha nuca, os puxando com força enquanto a outra mão aperta o lápis com tanta força que o parte ao meio.

Nar– Você não me parece muito bem. — Ele aproxima sua boca da minha orelha, sussurrando sua preocupação.

Com o reflexo, o empurro para longe, tentando controlar minha respiração. Seus olhos azuis me encaram e eu os encaro de volta, até me perder no brilho deles, até mergulhar até o fundo. Ele me encara de volta com tanta fervura que me vejo incapaz de fugir da imensidão que eles demonstram.

Tudo se silencia ao meu redor, a conversa, o monólogo do professor e até mesmo me sinto incapaz de respirar, meu coração salta em meu ouvido e...

O toque do sinal indicando o fim da aula nos tira de nossos devaneios. Não dou tempo para que fale, pego minha bolsa e deixo a sala o mais rápido que posso. E apesar de ter saído de sua vista, ainda sinto seu olhar penetrante queimar minha pele.

I Wasn't Promised to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora