X- Um Pouquinho do que Chamam de Felicidade

84 13 1
                                    

"Há uma espécie de conforto na auto-condenação. Quando nos condenamos, pensamos que ninguém mais tem o direito de o fazer.

— Oscar Wilde"

Apesar da enorme estranheza que senti me sentando na mesma mesa em que o diretor Namikaze, comendo da mesma comida que ele e ouvindo a mesma conversa animada e tagarela de mãe e filho extrovertidos, de certa forma me senti um pouquinho em casa e agradecida.

Ouvi muitos xingamentos do loiro quando sua mãe me entupiu de histórias sobre sua infância e fotos de um bebê fofo e rechonchudo de cabelos loiros ralos e choro entalado.
Mas apesar das reclamações e deles rirem da indignação do filho, consigo ver o carinho, a felicidade e a parceria em cada história. Eles são mais do que família, são amor puro e verdadeiro. Têm uma amizade e companheirismo invejáveis, do tipo que nunca tive com meu pai.

E mesmo que seja um assunto que me magooa muito e que me faz lembrar da presença do buraco no meu peito, não me sinto desconfortável em responder a pergunta da Uzumaki.

— A minha mãe era uma mulher incrível, tão sonhadora, apaixonada e viva. Ela era dançarina, lembro de quando me acordava de madrugada e me puxava para sala cantando e dançando suas músicas favoritas. Mesmo depois de adoecer, ela continuou sendo emocionalmente rica e amorosa. Foi a pessoa que eu mais amei na minha vida.

Kus– Me desculpe se eu parecer indelicada, mas o que ela teve?

— Mamãe nunca teve uma saúde muito boa, sua primeira gravidez foi difícil e os médicos achavam que ela não podia ter outro bebê. Mas por um milagre, Hanabi veio ao mundo. Depois de dar a luz a ela, mamãe ficou muito debilitada e sua saúde, que já não era muito boa, só piorou. Quando a Hanabi fez quatro anos, nossa mãe já nem se aguentava mais em pé. Pegou pneumonia e não resistiu.

Quando erguo o olhar, ao invés da pena de sempre, tudo que encontro é uma sensação indescritível de acolhimento. Calor esquenta meu corpo e os braços dos dois Uzumakis me apertam em um casulo aconchegante.

E de repente, não me sinto mais tão sozinha.

.

.

.

O frio me faz agarrar o pequeno xale ao redor do meu pescoço, mas não me sinto incomodada, mesmo me esforçando para manter minhas mãos aquecidas. O caminho até o dormitório me faz refletir sobre o que sinto pelo loiro ao meu lado.

Foi divertido ouvir sobre sua infância rebelde e divertida, foi reconfortante receber as palavras de inspiração da Uzumaki mãe e o apoio mudo do Namikaze.

— O que você gosta em mim? — Pergunto, quebrando repentinamente o silêncio.

Nar– Eu... não sei dizer — Ele não olha para mim, continua encarando o caminho a frente — Acho que me encantei primeiro pela seu ar misterioso. A forma como você parecia carregar o peso do mundo, eu gostei de te ouvir falar, falar com tanta propriedade sobre as coisas.

— Quando percebeu que gostava de mim?

Nar– No dia em que encontrei você e o Sasuke sozinhos naquela sala. A semana que passei te ignorando foi de um Naruto muito desesperado tentando entender seus sentimentos.

— Eu não sei — Solto, sem querer.

Nar– O que? — O vento balança seus fios louros.

— O que fazer diante esse tipo de situação. Quero deixar as coisas claras entre nós, entende? Mas não sei se consigo interpretar meus sentimentos.

Ele me encara pelo que parece dois longos segundos e sorri de canto.

Nar– Eu posso ajudar você, não precisa lidar com isso sozinha. Apenas... fale.

Penso por algum tempo, penso tanto, que chegamos ao portão dos fundos dos dormitórios. Ele não me pressiona, se escora na parede e olhar para qualquer lugar que não seja meu rosto tensionado, e eu agradeço por isso.

— Eu gosto de passar meu tempo com você. Fazendo alguma coisa ou só deitada no gramado do campo. Gosto de como seus olhos azuis são expressivos e sua risada faz meu estômago borbulhar. Te ver sorrir me contagia e me faz querer sorrir também e me jogar nesse oceano de emoções. Mas...

Nar– Mas... — Ele me incentiva a continuar.

— Mas toda vez que penso em como estar com você me faz feliz, eu lembro daquele dia. Eu lembro dos gritos da mãe dele, do barulho das maquinas e do desespero no rosto do meu pai. Então eu me pergunto se eu mereço essa felicidade.
"E não tem mais nada a ver com o fato da maldição me fazer incapaz de superar. E sim com minha própria culpa. Eu estou aqui. Correndo, estudando, construindo meu futuro e rindo com outro alguém e ele não. Ele morreu. Ele não pode correr, não pode vir a escola, não pode construir seu futuro e não pode rir com alguém. E isso acaba comigo. Porque ele teve que ir? Porque não eu? Ele era tão melhor que eu, tão cheio de vida e sinceridade, merecia muito mais ter momentos como esse e lidaria com tudo de uma forma muito melhor do que eu lidei. Ele perdeu a chance dele e eu estou aqui desperdiçando a minha. Andando de cara fechada para lá e para cá, sendo rabugenta e me afogando na auto-piedade."

Quando termino de falar, de repente sinto um alívio que não sentia desde aquele dia. Sinto minhas costas leve e deixo as lágrimas caírem, e antes que eu caia também, ele está ali, me mantendo de pé e me segurando em um abraço que faz com que o buraco no meu peito sinta um pouquinho do que chamam de felicidade.

E continuaríamos assim se uma lanterna não iluminasse a gente e o guarda velhinho gritasse para que nos afastassemos.

Xx– Esse jovens de hoje em dia

I Wasn't Promised to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora