"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.
— Friedrich Nietzsche"
Tivemos um recesso de quatro dias úteis esse mês. Por coincidência ele começou ontem, então não preciso ir à escola e vê-lo se engraçar com a prometida.
E mesmo sabendo que terei tanto tempo de folga, não estou animada.Pelo contrário, estou trancada no meu quarto. Encarando minha janela que dá direto para a árvore sagrada. Gosto de sentar na janela e conversar com ela, sinto como se estivesse falando com minha mãe.
— E agora eu me sinto tão perdida. Como se eu estivesse em um deserto e não tivesse o Sol como guia. Ele é meu Sol.
Mãe– Você parece dependente dele.
— Eu sei lá, só sei que ele salvou a minha vida, eu não posso seguir ela sem ele.
Mãe– Você viveu sem ele por 17 anos, porque agora é diferente?
— Talvez porque antes eu não o conhecia?
Mãe– Não é isso. E você sabe.
— É. Eu... tenho medo. Eu já perdi tanta gente, e na última vez quase não sobrevivi ao luto. Não posso perder ele.
Mãe– Mas você não o perdeu. Você desistiu dele, é diferente. Deixou as flores e os chocolates, mas assim que o viu com, desistiu completamente. E agora está se escondendo feito uma covarde. Eu não criei uma covarde.
— Ele foi quem desistiu, ele não me quer. Se me quisesse, não teria nem pensando nela como opção.
Mãe– Você se esquece que a promessa não é uma escolha e não é uma simples ligação. As almas deles estão interligadas...
A porta do quarto abre abruptamente, atrapalhando meu "diálogo" com minha falecida mãe. Desvio os olhos da árvore e encaro uma Hanabi ofegante.
Hana– Tem um cara lá fora chamando por você.
Meu coração acelera com a ansiedade e esperança, corro até a entrada e xingo todos meus antepassados por criarem uma casa tão grande. Mas quando enfim chego no portao, a decepção bate forte e sequer disfarço minha cara de frustração.
Uta– Foi mal, sei que devia estar esperando outra pessoa.
— O que faz aqui?
Uta– Eu tava pensando que talvez pudéssemos dar uma volta. Tem uma hambúrgueria aqui perto e te garanto, eles fazem o melhor hambúrguer da cidade.
Tento compreender a intenção dele. Mas meu cérebro sofredor não está trabalhando com tanta eficiência.
— Porque?
Uta– O quê?
— Qual o motivo desse convite? — Me escoro no muro — Está com pena? Porque fui trocada pela sua irmã?
Merda, o que eu tô falando?
Uta– O que? Não! Não é isso, é claro que não. É um convite inocente.
— Você gosta de mim?
Uta– Eu... ham, talvez? — Afirmo — E então? Quer ir?
Olho ao redor, para a rua atrás dele e então para a casa atrás de mim. Por um momento eu cogito a ideia, mas quando olho para ele de novo e vejo outro rosto, apenas nego.
— Quem sabe na próxima? — Ele sorri, claramente entristecido.
Uta– Tudo bem. Então, te vejo na escola?
— Claro.
.
.
.
A doutora Tsunade me encara como se eu tivesse acabado de dizer que viu me jogar de um prédio, não que depois de tudo que eu disse, ela pudesse entender outra coisa.
Ela apoia a mão no queixo, depois cruza as pernas e depois se reencosta na cadeira, como se estivesse processando a enxurrada de informações que acabei de jogar sobre ela.
Tsu– Você entende a gravidade de tudo que acabou de falar? — Afirmo — Bom, é uma ótima constatação. Mas Hinata, você tem que entender que sua vida, sua felicidade e sua cura não depende de ninguém além de você. Não depende da sua mãe, do seu melhor amigo e nem do cara que você ama. Depende de você, Hina.
— Mas toda vez que penso que talvez ele não esteja mais ali para mim, me sinto perdida. Ele me tirou do fundo do poço, isso é fato.
Tsu– E você tem medo de que se ele te deixar você volte para lá? — Nego.
— Não. Não é isso, é só que... eu não sei como me sinto. Eu tenho tantas pessoas que ficaram ao meu lado, mas com ele é diferente e eu odeio não saber o que sinto. Porque eu sempre sei. Quando fui amaldiçoada, eu sabia exatamente como me sentia: mal, triste, vazia e morta. Quando o conheci, eu sabia exatamente como me sentia: feliz, calma e viva. E agora, agora eu não sei de nada.
Tsu– Você disse a ele que o amava.
— Eu só agi no impulso, achei que aquela seria a única maneira de fazer com que ele ficasse ao meu lado — Arregalo os olhos assim que escuto minhas próprias palavras — Minha nossa, eu fui tão ridícula, desesperada e egoísta.
Tsu– Hina, você tem certeza que só disse por impulso? Tem certeza que não sente o que disse?
— Não tenho. Por isso eu tô surtando.
Tsu– Não importa como você se sente — Ela diz, severamente — Você se esforçou. Lutou por ele. Levou flores e chocolate e então o deixou ir.
— Eu fugi.
Tsu– Não Hina, você não foi covarde, você foi corajosa. Por que é isso que fazemos pelas pessoas que amamos. Deixamos elas irem — Minha cara de desentendida faz com que ela continue falando — Isso é amor, Hina. É deixar a pessoa ir, mesmo que isso doa profundamente em você, mesmo que não parece a escolha certa. Porque quando amamos alguém, queremos que esse alguém seja feliz e naquele momento, você viu... você sentiu que ele não estava feliz e que o único jeito de melhorar a situação, era se afastando. Porque você o ama e você quer que ele seja feliz, que ele fique bem, mesmo que nao seja ao seu lado.
Ela parece enxergar o brilho e o entendimento surgir no meu rosto, porque se senta ao meu lado e me abraça de lado.
Tsu– Você entende, Hina? Entende agora? — Afirmo — Como se sente? Se permita sentir, Hina.
— Eu me feliz por ter entendido, mas também me sinto mal.
Tsu– Deixar quem você ama ir é a melhor escolha, mas não quer dizer que seja fácil ou alegre. Se permita sentir essa dor, Hina. Não reprima. Só sinta.
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I Wasn't Promised to You
Fanfiction"Mamãe, é possível alguém amar outro alguém que não seja seu prometido?" Meu nome é Hinata Hyuga e eu sofro da maldição do prometido. Diferente da maiorias das pessoas que vivem suas vidas em busca da sua cara metade, da sua alma gêmea, eu fui cond...