XIV- Liberdade (Fim da Primeira Temporada)

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"A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão.

"— Massimo Bontempelli"

Eles estão lá agora. Eu sei que estão, eu os convidei. Minha família e a família dele, meus amigos, os professores e todos da escola estão sentados nas arquibancadas ouvindo atentamente cada palestrante da apresentação do meu grupo. Estamos no meio do dia, as apresentações durarão o dia inteiro. São no total seis palestrantes, incluindo a mim. Mas eles não sabem que sou eu.

Shika– Cadê sua garota? Você disse a data a ela? Ela é a próxima.

— Não se preocupe, ela virá. — Ele revira os olhos e sobe no palco, conduzindo as perguntas áquele palestrante.

O Naruto, a Sakura e o Sasuke estão um do lado do outro, me encarando e me oferecendo apoio.

Sak– Sabe que não precisa fazer isso se não quiser. — Afirmo, mas não tiro o olhar do chão.

Ouço eles indo embora e passos leves se aproximarem de mim. Suas mãos seguram meus ombros e me afagam, me seguram enquanto deixo meu corpo se inclinar sobre o seu.

Ele me apoia e me faz olhar para seus olhos azuis vibrantes e quentes. Ele não me dá tempo de me perder neles, começa a falar na mesma hora. E então, a falação do lado de fora do camarim fica muda.

Nar– Eu gosto tanto de você. — Ele sussurra, como se contasse um segredo — Da sua força de vontade, da forma como você luta, do seu sorriso, ah, como eu amo o seu sorriso, meu coração palpita sempre que o mostra para mim, só para mim. Gosto da sua voz quando está empolgada e da forma como protege seus amigos. Gosto de tudo em você. — Ele aperta meu rosto, o mantendo erguido e o encarando. — E os seus olhos. Eu só os vi uma única vez, mas ficaram marcados em minha memória. Seus olhos perolados e tão experientes, que demonstram tão abertamente suas emoções. Eu amo os seus olhos vividos, Hina, eu os amo, como amo você. Então os mostre para mim, seus olhos doces e gentis, mostre-os para mim.

As lágrimas estão travadas em meus olhos e meu coração bate acelerado e o buraco no meu peito de repente não está mais ali e a coragem toma todo meu corpo.

Tiro suas mãos do meu rosto e levo meus dedos até meus óculos, os tirando sem nem hesitar e não espero quando me erguo nas pontas dos pés e colo meus lábios nos seus. Um simples selinho, mas cheio de sentimentos e confiança.

Não olho para trás quando caminho até o palco, largo os óculos no chão e pego um microfone, subindo no palco de olhos fechado. Respiro fundo, não ouço nada, apenas vou até o meio do palco e abro os olhos. Eu o vejo ali. Os cabelos castanhos desgrenhados, o sorriso largo e presença marcante.
Então eu vejo os outros. Todos me encaram surpresos, esperando o que tenho a dizer e eu simplesmente digo.

— Meu nome é Hinata Hyuga, eu tenho 16 anos e sofro da maldição do prometido. — Suas caras de chocados não me impedem — Seu nome era Kiba, nos conhecemos quando tínhamos oito anos e ele era meu melhor amigo, meu irmão, a pessoa que eu mais amava no mundo e eu o perdi. Quando ele ficou doente e os sintomas começaram para mim foi quando eu descobri o que eramos, o tipo de ligação que tínhamos. Mas eu não me importei com o que poderia acontecer comigo, eu sou queria saber dele, como ele estava, como ficaria e se ficaria comigo. Ao meu lado, para sempre. Mas ele não ficou, não podia, ele faleceu e com ele vieram os sintomas. A maldita queda de cabelo, a palidez, a perda de peso e as manias.
"Mas o que ninguém via, o que estava ali sob minha pele, os sintomas mentais eram o que mais me doíam. Os pesadelos que me mantinham acordada, a fobia social, o medo de olhar nos olhos das pessoas e a sensação de que eu estava morta, destruída e tudo que eu quis naquele primeiro ano era morrer. Era dormir e não acordar mais, que sua memória me perdoe, mas eu queria ter estado no lugar dele. Eu queria dormir e não acordar mais, eu queria que aquela dor fosse embora e nunca mais voltasse. Eu tenho vergonha de admitir que eu tentei, eu tentei duas vezes e quando eu acordava bem no outro dia, eu queria tentar de novo. Eu não pensava em mais ninguém, não pensavam no meu pai ou na minha irmã, no meu irmão e na minha mãe que nunca desejaria aquilo para mim. Eu só pensava na dor que eu tava sentindo.
Mas os anos foram passando e quando eu vi, eu não me importava mais. Eu não sentia mais dor, eu não sentia mais solidão ou raiva, eu não sentia absolutamente nada. Era como se meu coração fosse agora um buraco que engolia qualquer coisa que eu pudesse vir a sentir. Eu não era mais Hinata Hyuga, eu não era mais ninguém, eu não estava vivendo, eu apenas estava... ali. Existindo."

As lágrimas escorrem silenciosamente pelo meu rosto, mas minha voz se mantém firme e alta no silêncio do ginásio. E eu desabafo, liberto toda a escuridão que ainda está aqui.

— Mas então eu vim para cá, eu não tinha muita fé, seria só mais um lugar onde eu seria diferente, sozinha e esquisita. Mas eu conheci pessoas, eu fiz amigos. Amigos que também tinha sua própria história, suas próprias dores e de repente eu não me sentia mais sozinha. Eu fui me enturmando, me aconchegando, me reencontrando. E o buraco no meu coração estava milagrosamente se curando. Dando lugar a um misto de emoções que eu temi por muito tempo. Alegria, conforto, adrenalina, paixão. Eu fui bombardeada de vontade de viver e criei coragem de vir aqui, contar para vocês a minha história.
"Ainda dói, como dói, lembrar dele e de que ele não está mais aqui e eu acho que sempre vai doer. Eu ainda tenho muito chão para percorrer e muita coisa para curar, mas acho que aceitar minha situação é um começo."

Meus olhos ardem, ardem como se alguém tivesse jogado pimenta neles e eu os aperto. Não fico parada ali esperando a reação das pessoas, apenas corro até ele.

Ele me espera com lágrimas nos olhos e braços esticados e não penso duas vezes ao me jogar sobre ele, ao apertar meus braços ao redor de seu pescoço e beijá-lo, um beijo de verdade dessa vez.

Ele me põe no chão, não diz nada, apenas aponta para o espelho grande do camarim que está atrás de mim e quando eu me viro, não consigo mais segurar o choro e deixo meu corpo cair.

Meus olhos são meus novamente e a maldição... simplesmente não a sinto mais aqui.

I Wasn't Promised to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora