IV- Aquele Dia

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"O amor não busca agradar a si mesmo,
nem destina qualquer cuidado a si próprio,
mas se dá facilmente ao outro e
constrói um Paraíso no desespero do Inferno.

— William Blake"

Meu coração ainda palpita quando termino as aulas do dia. Aquela ligação, aquele puxão, aquela sensação que eu senti quando nossos olhares se perderam um no outro...

Não. Impossível.

A promessa não foi feita para mim. Fui condenada... amaldiçoada a nunca amar ou ser amada. Não há sentimentos em meu peito, ele se foram quando meu prometido, meu melhor amigo, meu irmão se foi, levando consigo um pedaço de mim.

Eu ainda me lembro bem daquele dia e parece que tudo que aconteceu hoje serviu de gatilho para meus pesadelos na madrugada.

Meu peito dói. Como se milhares de micro-agulhas perfurassem o músculo do meu coração. Meu estômago está embrulhado e minha cabeça dói. Meu pai está parado na porta e pela primeira vez desde a morte da mamãe, eu o vejo com um semblante de dor e preocupação.

"Com quem ele está preocupado..." — Eu me pergunto.

Ele conversa no telefone e por mais que esteja perto o suficiente de mim, minha cabeça dói demais para que eu sequer preste atenção.

Ele põe um sorriso fingido no rosto e se aproxima da minha cama, tocando minha testa com as costas da sua mão.

Pai– Meu bem, nós vamos ver o seu amigo. — Como se toda a força do meu corpo tivesse voltado apenas com essa frase, eu me sento. — Deve estar com saudades dele.

Meu pai pede a uma das empregadas que me ajude no banho e a água gelada - para controlar minha temperatura - me desperta totalmente.
A viagem de carro não é longa, mas minhas sobrancelhas se fazem quando vejo que não estamos na rua dele e sim em frente a um hospital grande.

Eu não me atrevo a perguntar o motivo de estar ali, tudo que eu sinto é meu coração acelerar de expectativa de vê-lo outra vez. Mas toda ela vai embora ao vê-lo deitado naquela maca de hospital. Seu corpo todo cheio de fios que o ligavam a diversas máquinas diferentes que eu não me atrevia a questionar sobre como funcionavam.

Mas eu conhecia aquela expressão no rosto dele, o cansaço sob os olhos e a pele pálida. Ele olhou para mim e jurei que pude ver duas orelinhas de cachorro sobre sua cabeça de tamanha animação.

— Kiba! — Me solto do pai e pulo direto para sua cama, o puxando em um abraço apertado. — Eu senti tanta saudade de você.

O som do despertador se faz presente no quarto e eu não estranho o quanto meu corpo está molhado de suor. Me levanto rapidamente e corro direto para uma ducha gelada. Afim de acalmar meu coração traiçoeiro.

A Sakura ainda está dormindo, ignorando o despertador tocar desesperadamente e me sinto tentada a acordá-la, mas me olhando no espelho e vendo o quanto meu rosto está acabado, decido que não. Não tô afim de responder perguntas.

Saio do quarto e caminho até os fundos da escola. Um pequeno espaço com grama e muitas lixeiras, mas adoravelmente silencioso. Perfeito para me afundar no caos do meu coração.

Me sento o mais distante que posso das lixeiras cheias e fedorentas. Mas não me preocupo se o cheiro ficará grudado em minhas roupas. Tiro um livro da mochila e encaro a capa. "Contos de um coração partido".

Mas antes que eu possa me aprofundar nas letras pequenas e na história, o som de passos e conversa se aproximando me faz me retrair e ignorar o trio de meninas se escorando na parede a minha frente.

I Wasn't Promised to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora