V- Pânico

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"Quem não se mostra contundente nas convicções, doará o seu destino á ditadura das ondas!

— Reinaldo Ribeiro"

Enquanto meu coração se aperta e as lágrimas tentam me sufocar, ouço a porta ranger ao se abrir. Uma mão leve e delicada se põe sobre meu ombro e puxa o edredom de cima de mim.

Limpo as lágrimas o mais rápido que posso quando ouço sua voz. Fecho os olhos enquanto procuro com as mãos o meu óculos.

Sak– Hinata... — Um soluço escapa. — Eu sinto muito.

— Eu não... Não quero falar sobre isso. — Ponho meus óculos assim que os acho e finalmente abro os olhos. — Porque tá me olhando desse jeito?

Sak– Você falou algo sobre seu pai. Ela era sua mãe? — Um sentimento de alívio me toma ao perceber que ela não desconfia de nada.

Sim, meu pai perdeu sua prometida, minha mãe querida. O amor da vida dele. Mas a dor foi diferente. Ele estava pronto para aquilo e eles já estavam unidos. Seus olhos continuam de um azul profundo e sua alma não está quebrada. Não como a minha.

— Sim. Ela era. Enfim... Você não voltou essa noite. — Olho pela janela o sol raiar.

Sak– Dormi no Sasuke.

Encerro o assunto quando me levanto e caminho até o banheiro.

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Encaro o refeitório lotado. A Sakura está do meu lado, me encarando com duvida no rosto. Mantenho os livros grudados no meu corpo e olho ao redor.

Sak– Argh, aquela idiota da Karin tá fazendo de novo. — Olho na direção que ela está olhando e vejo a garota ruiva do outro dia sentada sobre uma mesa.

Ela está descaradamente dando em cima do Sasuke-kun. Olhando por fora, até parece que ele está aceitando as investidas. Desvio meu olhar de volta para Sakura e a vejo morder o lábio, claramente irritada.

— Tudo bem? — Ela não me responde, larga sua mochila comigo e vai correndo até lá.

Vejo quando ela bate com força as mãos sobre a mesa, chamando atenção do pessoal ao redor. O Sasuke apenas a ignora, enquanto a Karin e suas amigas riem debochadas.

Me aproximo devagar quando elas saem de perto da mesa. Tento passar por elas e ignorar seus olhares de nojo. Mas só percebo o que fizeram quando já estou no chão.

Minha testa dói e sinto um líquido quente escorrer pela lateral do meu rosto. Tudo parece estar silencioso, até eu ouvir uma voz. Mansa, calma e ao mesmo tempo energética. Sua mão pesada toca meu queixo e erguo a cabeça devagar, apertando os olhos pela dor de cabeça que o movimento causa. E quando os abro novamente, encontro apenas uma imensidão azul me encarando.

Seus olhos não desviam do meu, há algo como pesar nos dele e é tarde demais quando percebo que meus óculos não estão mais no meu rosto. Antes que o pânico possa me assolar, ele entrega para mim, uma lente está rachada, mas ainda serve ao seu propósito.

Ele me ajuda a levantar e me abraça de lado, me levando para fora dos olhares de todos do refeitório.

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Ele não deixa de encarar o ferimento na sobrancelha quando aperta a gase no local e limpa o sangue ao mesmo tempo.

Nar– Esta doendo?

— Qual machucado? — Ele não ri da minha tentava de piada. — Bem... não, tá tranquilo.

Nar– Aquelas malditas são tão irritantes. Elas vêm mexendo com a Sakura há algum tempo. Principalmente a ruiva. Ela tem uma queda doentia pelo Sasuke.

— Mas talvez elas parassem de implicar com ela se o Sasuke se impusesse. — Seus movimentos param e ele finalmente desvia o olhar para mim.

Nar– Tá falando do fato de que ele não reage as iniciativas dela? E que ignora qualquer sentimento da Sakura? — Afirmo. — É complicado.

— Não deveria ser. São prometidos, ele deveria dar mais valor a ela. Porque pelo que eu já conheci dela, ela não é do tipo que espera por tanto tempo. Aí quando ela cansar, será tarde demais para ele.

Nar– Diz por experiência própria? — Ele fez a pergunta.

A pergunta que eu temia que ele fizesse desde que ele viu meus olhos diferentes. Ele me encara agora e não há a pena que eu achei que encontraria. Só há... uma genuína curiosidade.

— Eu fui tola em achar que você não tinha percebido. — Ele solta uma risada leve.

Nar– Não estava falando do seu pai naquele dia... não é?

Eu espero. E espero um pouco mais até o conhecido formigar debaixo da pele, a falta de ar e a dor aguda na cabeça. Mas simplesmente não vem. Sua voz calma e repleta de sentimentos serve como um amortecedor de todo o pânico que eu sinto sempre que tocam no assunto.
É como se o buraco no meu coração tivesse esquecido que existe.

— Existem algumas coisas que só quem experimenta consegue entender.

Nar– Perder seu prometido é uma delas?

— É "A" coisa. Ninguém entende.

Nar– Não precisa falar sobre se não quiser.

Eu quero. Estranhamente, eu quero.

— Você quer saber? — Ele afirma. — Eu perdi meu prometido quando era só uma criança, desde então eu me tornei amiga da dor e da solidão.

Nar– Você o amava? — Ele continua a limpar minha ferida.

— Como irmão. Éramos melhores amigos e eu não consigo entender porque eramos almas gêmeas.

Nar– Sabe... Você é uma garota muito forte. — Então ele sorri.

Meu coração acelera e eu prevejo um ataque de pânico com a forma que meu corpo esquenta, mas tudo que sinto é uma genuína vontade de sorrir de volta. Seu sorriso grande e radiante faz meu estômago revirar e eu sinto que o buraco no meu coração ficou estranhamente menor.

Nar– A gente ainda tem aula e você ainda não comeu. Tá afim de voltar para o refeitório?

— Para ser sincera? Não. Eu não me dou muito bem em multidões.

Nar– Eu sei eu já percebi. — Erguo a sobrancelha, me arrependendo no mesmo instante. — Eu posso ser meio lerdo as vezes, mas sou mais observador do que pareço.

— Eu não sou tão interessante assim para que você me observe com tanto afinco.

Nar– Não é o que eu acho. — Ele finaliza colocando um banda de no corte. — Enfim, tem um café aqui perto que tem um bolo ótimo. Quer ir comigo?

— E matar as últimas aulas? — Ele afirma. — Quero.

E então, de forma automática, um sorriso toma meus lábios.

I Wasn't Promised to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora