Durante os dois dias seguintes não houve qualquer sinal de Namjoon. Não havia sinal de nada, até porque eu fiquei em casa tentando entender o que aconteceria a partir daquele momento. Se eu deveria arrumar a casa do senhor Woo e colocar tudo em caixas, ou se eu deveria deixar como estava e esperar até que alguém viesse reivindicar posse.
Já era quase meio dia e eu estava faminta. Tinha pedido comida desde que cheguei aqui e sentia como se minha saúde estivesse se definhando toda vez que o entregador tocava a campainha para deixar meu pedido gorduroso e nada saudável em minhas mãos.
Enquanto eu descascava batatas, meu celular tocou. Era minha mãe. Atendi a chamada e coloquei no viva voz. Fiquei feliz por ela ter ligado apesar do fuso horário, sempre nos falamos pouco por conta disso. Dividi com ela minhas angústias do futuro e de como estava sozinha agora. Falei que tinha medo de estar na Coréia desde que o senhor Woo se foi, mas não comentei que havia um agravante pelo fato de que a vida da filha dela estava em risco.
Meus pais não se envolviam e não sabiam nada sobre mundo pop. Tanto o oreintal quanto o ocidental. Meu pai comentou uma vez, "Essa moça tem uma grande resistência e potência vocal. Tem futuro", quando me viu assistindo a um dos shows da Beyoncé na sala de casa. Eu apenas ri, não adiantaria falar para ele que a carreira dela já tinha transcendido as barreiras do futuro e de que talvez nós éramos governados por ela, sem saber.
- O que prende você aí minha filha? - perguntou minha mãe, quando falei que sentia saudades deles.
Suspirei e olhei o pequeno SUGA entrar pela porta da cozinha.
- Um gato. - Eu estava sendo sincera. Eu não teria coragem de colocá-lo em um abrigo de animais.
- Um gato? Animal ou homem? - disse ela rindo.
- Animal mãe... - talvez essa piadinha me fizesse rir se não tivesse me trazido a lembrança de que em outra situação, Namjoon fosse o fato de me fazer querer ficar.
- Você pode trazê-lo Aimy.
- Ele é novo ainda e acho que seria muito estressante fazê-lo passar por uma viagem de dias em um avião, fora todas as triagens que teria que passar para poder entrar em outro país.
- Aimy, eu sei que é uma escolha difícil. Sei que perder o senhor Woo foi como um farol se apagando, mas pense, você tem seu trabalho e ele lhe assegurou o apartamento da livraria. Você pode achar alguém que fique com o gato por um tempo enquanto você vive seu luto ao lado da sua família.
Apertei os lábios para não contar toda a verdade. Para não contar que eu não tinha mais um trabalho, de que eu não podia voltar para a minha casa e de que talvez a melhor saída fosse sair do país mesmo.
- Pense bem. Avise quando quiser vir que nós te mandamos a passagem. - disse ela antes de encerrar a chamada.
Minha mente pensava em mil coisas enquanto eu terminava de cozinhar. Acho que eu não conseguiria esconder para sempre o que estou vivendo agora, dos meus pais. Talvez, se eu voltasse para a casa deles não retornaria mais à Coréia. E não por minha vontade. Eles sabiam dos meus sonhos para esse país, sabiam que eu queria prosperar a livraria, investir nela para dar apoio e orgulho ao senhor Woo. Isso incluía até depois de sua morte. Eles desconfiariam do fato de eu ter largado tudo só por conta da perda.
Quando desliguei o fogão, a campainha tocou. Minhas costas se arrepiaram de medo e ter essa sensação me deixou ainda mais triste, pois desenvolvi esse pânico apenas pelo fato de não me sentir segura em lugar algum.
Olhei pela pequena fresta da janela e reconheci a presença.
- Yoongi. - sussurrei quando abri a porta e olhei para os lados em busca de alguém.
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The Bookstore
FanfictionMorando a dois anos na Coréia, Aimy passava o tempo entre o trabalho, em uma livraria, durante o dia e os estudos durante a noite. Seu maior objetivo era prosperar a pequena livraria do senhor Woo e reavivar os dias de glória do estabelecimento, par...